Com o avanço dos novos conceitos de mobilidade urbana e a queda do fluxo de pessoas em estabelecimentos comerciais, o mercado de estacionamentos ainda deve ter dificuldades em ter crescimento real neste ano.
Para voltar a crescer, o setor deve ser mais assertivo na escolha de local e até criar novas fontes de receita. "Embora a tendência atual seja de estabilidade com a volta do crescimento econômico - ainda que tímido - neste ano, devemos verificar um pequeno crescimento em 2017", afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark-SP), Marcelo Gait. Segundo ele, se estima que o mercado paulista possa ter uma variação levemente acima do PIB. "Mas é difícil quantificar neste momento, até porque é um número que deve variar bastante nas diferentes regiões da cidade e no interior", alerta.
Em 2016 o mercado de estacionamentos manteve estabilidade na dimensão de mercado, contudo, em volume de faturamento retraiu em média entre 3% e 5%. "A queda no faturamento costuma ser fielmente refletida pela queda no preço dos estabelecimentos. Segundo o IPCA, a queda na tarifa em 2016 foi de 3%, mostrando uma tendência de estabilização", complementa o executivo. Nos dois anos anteriores, a queda na tarifa ficou em 13% e 10%, respectivamente. "Trabalhamos com demanda secundária [...]. Muitas lojas fecharam, empresas demitiram funcionários ou cortaram o estacionamento como beneficio para seus clientes e colaboradores e o fluxo [nos estacionamentos] ficou menor", destaca.
De acordo com ele, os empreendimentos dependentes do fluxo de pessoas em prédios comerciais foram os mais impactados, como ocorreu em bairros da capital como Bom Retiro e Brás. Na contrapartida, estacionamentos próximos a metrô e estações de trem conseguiram uma demanda extra neste cenário macroeconômico. "Algumas pessoas passaram a fazer apenas uma parte do trajeto de carro e usar transporte público no restante do caminho", comenta. Outro segmento que teve um aumento da procura foi a gestão de estacionamentos em prédios residenciais. "Condomínios com gestão profissional das garagens serão cada vez mais comuns." Ainda segundo o executivo, o desempenho financeiro está melhor entre os maiores players. Enquanto alguns grandes players têm apresentado crescimento forte, médias e pequenas empresas passam por mais dificuldades. "É um fenômeno natural da crise. Normalmente, o pequeno empreendedor sofre mais quando a receita diminui. As principais empresas do mercado têm a segurança de grupos financeiros de peso por trás", explica.
Mudança cultural
Além da crise, outros fenômenos que impactaram o mercado foram o uso de aplicativos para mobilidade e o incentivo de meios alternativos de transporte como bicicletas e ônibus, que ganharam nos últimos anos corredores exclusivos. "Entendemos que mudou a realidade da cidade e isso melhora, mas existe sim um impacto e o nosso mercado tem que se adaptar, porque esse percentual não será mais recuperado, mesmo sem a crise", diz o sócio-diretor da gestora de estacionamentos Multipark, Sergio Morad. No ano passado, o executivo conta que o desempenho de algumas unidades da rede ficou comprometido, com a inviabilidade de alguns negócios. "Alguns foram encerrados mas outros abertos, o que compensou a perda e ajudou a oxigenar a operação", conta Morad. Hoje, a rede possui 310 filiais. A meta para este ano é melhorar a rentabilidade dos estacionamentos. "Queremos a viabilização e consolidação", explica.
O plano da companhia será menos agressivo e mais criterioso, mas Morad aponta que se mantém atento para as oportunidades. Entre as estratégias da companhia está o aumento no número de parcerias com empresas, a revisão do plano fidelidade que será relançado no segundo semestre e complementar o faturamento de algumas unidades com receita adicional vinda de espaços para marketing. "Em termos de volume não se compara, mas passamos a ficar mais atentos e tentamos aumentar o número de ações de marketing", indica.
Com planos mais agressivos, a administradora de estacionamentos Indigo espera chegar em dezembro de2017 a230 unidades e receita bruta no período próxima de R$ 650 milhões. Atualmente, a rede possui 192 estabelecimentos e em 2016 atingiu receita de R$ 320 milhões. "A meta é atingir em 2018 R$ 1 bilhão", diz o CEO da Indigo no Brasil, Fernando Stein.
Uma das estratégias da gestora de origem francesa é investir em contratos de longo prazo, principalmente de empreendimentos que possam ter aportes em infraestrutura. Para isso, a companhia possui R$ 150 milhões em 2017 para antecipação de recebíveis, construção de garagem e compra de pontos comerciais. Até 2019, o volume disponível para investimento chega a R$ 500 milhões. "Não buscamos segmentos específicos, mas parceiros com operações diferentes de longo prazo que estejam interessados em investimento e antecipação de aluguéis", discorre. Outra rede em expansão é a Estapar, que já apontou que continuará mirando em aquisições. Para isso, no final de 2016 houve um investimento primário de R$ 500 milhões da Equity Internacional (Grupo Sam Zell). Em nota, a companhia afirmou ter perspectivas positivas para o setor. "O crescimento da frota de automóveis, somado aos gargalos no transporte público, exigirá cada vez mais investimentos na oferta de vagas."
Fonte: DCI - 23/06/2017