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Jorge Hori*

A crise financeira mundial desencadeada a partir da insolvência dos créditos imobiliários "podres" do mercado norte-americano, amplificada pela sua securitização, alcança - de imediato - o terceiro patamar da economia, mas atinge também o segundo e irá alcançar o primeiro.
O primeiro é o da economia real, onde ocorre a produção física e de serviços e tem a sua demanda, igualmente real. O seu valor é dado, principalmente, pelos seus custos, com variações em função do equilíbrio entre oferta e demanda.
O conjunto é captado pelas contas nacionais, com a produção consolidada no Produto Interno Bruto (PIB) e a demanda na Demanda Nacional Líquida.
A evolução da economia é medida pelas variações trimestrais e anuais do PIB. Sob essa ótica a economia brasileira foi bem no primeiro semestre e continuaria indo bem ainda no segundo trimestre que ora termina.
O segundo patamar é o dos ativos, envolvendo o valor do patrimônio nacional ou da sua riqueza. Esses ativos são contabilizados no nível das empresas, mas não há uma contabilidade nacional que os consolide e permita conhecer a sua evolução, seja trimestral ou anual, como ocorre com o PIB.
Esse patrimônio é parte natural, incorporado ao mercado, ou construído. Quando natural não tem um custo de produção e o seu valor é determinado pelo potencial de uso ou pelo interesse da demanda. É o caso, por exemplo, dos terrenos urbanos. Já o patrimônio construído parte de um custo de produção, que poderá ser menor ou maior que o valor reputado pelo mercado.
Os terrenos urbanos podem ter um valor em função do seu potencial de uso como estacionamento. Cujos preços, por sua vez, são determinados pela demanda local.
Quando a demanda está aquecida, os ativos imobiliários se valorizam, num processo de inflação de ativos. Grande parte de natureza virtual, porque não são efetivamente movimentados no mercado.
Servem, no entanto, como garantias para empréstimos.
O terceiro patamar é dos ativos em papéis, isto é, dos papéis que representariam os ativos reais, mas na prática multiplicados sucessivamente através dos mecanismos de alavancagem.
O valor dos papéis é determinado pelas expectativas. Sobem se as expectativas são boas e caem quanto prevalece o pessimismo.
Os ativos financeiros movimentam o crédito. Se há uma forte deflação, como a que ocorre atualmente, o crédito se torna mais restrito e seletivo.
Não acaba, mas a seletividade faz com que poucos tenham acesso. Os que não têm acesso às linhas normais, acabam tendo de apelar para fontes menos confiáveis e de custos mais elevados.
É nesse meio que se instaura o vírus da crise financeira.
Os serviços de estacionamento não são, em geral, proprietários dos imóveis que administram. Não sofrem diretamente com as variações de valor dos ativos. Mas são afetados indiretamente, na forma dos aluguéis dos imóveis que operam.
Serão afetados pela crise de crédito, exatamente no final do ano, quando há necessidade de volumes maiores em função do 13º salário. Sendo uma atividade de mão-de-obra intensiva, poderão ser alcançados pela crise.

*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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