Parking News

O Bar Rebouças, na Rua Maria Angélica, no Jardim Botânico, é daqueles botecos de bairro onde vizinhos se encontram à beira do balcão.

Atrás dele, revezam-se no espaço de cerca de três metros quadrados o português Alberto, dono do estabelecimento, o filho Beto, flamenguista, para desgosto do portuga, vascaíno com certeza, e Jorge, o único garçom. Eles anotam a conta no verso de papéis de embalagem de cigarro e, como em todo bom botequim, os clientes chegam a pé, não precisam andar mais do que três quarteirões.

São apenas sete lugares. Desde o início do ano, o caminho passou a ser repleto de obstáculos. Um carro ou outro na calçada e outros parados em fila dupla causam buzinaço que pode se estender até duas da manhã.

Conseqüências da abertura, em dois anos, de três restaurantes que, juntos, somam 600 lugares. Fora os outros estabelecimentos que já existiam no trecho. Alguns moradores até rebatizaram a rua: agora é Maria Histérica.

"Ouço toda a barulheira. Os carros ficam estacionados de uma lado, do outro tem um ponto de táxi e, além de tudo, passam duas linhas de ônibus aqui", reclama a produtora Renata Alvarenga, ao lado da amiga Fernanda Reznik.

Elas moram de fundos na rua vizinha, exatamente no trecho mais crítico da via, entre a Avenida Alexandre Ferreira e a Rua Jardim Botânico. Justamente onde ficam as casas mais novas, o Nakombi e a megapizzaria Bráz, que são também as maiores, com respectivamente 200 e 250 lugares.

O Mr. Lam, no quarteirão próximo à Avenida Borges de Medeiros, tem 150 cadeiras. "O tráfego aumentou muito e as pessoas já chegam na esquina buzinando", descreve o representante de vendas Jefferson Tommasi. "Do Nakombi para trás, é terra de Malboro".

No espaço de 200 metros, os caubóis vestem gravata borboleta e colete (ou simplesmente gravata) e desempenham a função de manobristas, sempre a postos para estacionar o carro dos clientes que pagam até R$8 para ter a comodidade de desembarcar na porta do restaurante.

Por mais rápidos no gatilho que os manobristas sejam, é inevitável que veículos fiquem parados no meio da rua, com pisca-alerta ligado. O som das buzinas ecoa na noite. Resultado: o restaurante pode ser atingido por ovos, como aconteceu com o Nakombi. A casa estaria processando o condomínio de onde partiu o projétil.

Não é raro deparar com dois carros estacionados lado-a-lado na calçada em frente ao casarão vizinho ao Bráz, outro em frente à porta da garagem do curso de inglês Ibeu, mais um no retorno sobre o canal da Avenida Alexandre Ferreira, além dos que são largados em fila dupla em frente à Capricciosa, aguardando que o manobrista chegue. "A partir da quarta-feira, isso fica intransitável", reclama o gerente de marketing Hugo Rodrigo Siqueira, que passa diariamente pela via.

"Os valet parkings privatizam a rua", esbraveja Cláudia Oliveira, síndica de um dos prédios da Maria angélica, que apesar da reclamação não deixa de comer pizza na Capricciosa.

Na bagunça de carros, resta ao pedestre se aventurar no meio da rua ou passar espremido entre uma parede e um carro. "Aqui há uma tendência muito forte a não de considerar o espaço público como algo que é de propriedade e uso comum a todos. Acham que é terra de ninguém.

Não é só uma questão cultural. Existe um aspecto institucional, que é a baixa capacidade que o poder público tem de exercer sua função regulatória", analisa o professor José Augusto Rodrigues, do departamento de Ciências Sociais da Uerj.

Em Curitiba, cidade-modelo de planejamento urbano, a atividade de valet parking foi regulamentada em março, mês em que a Câmara dos Vereadores aprovou projeto exigindo, entre outras coisas, estacionamento com alvará e seguro contra incêndio, furto, roubo e colisão.

No Rio um projeto do vereador Carlo Caiado (DEM) tramita desde 2005, à espera de aprovação de três comissões. "As empresas de valet não são ilegais, têm CNPJ, mas o serviço que prestam não tem licença", acusa o vereador.

Segundo a assessoria de imprensa da  Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-RIO), não houve necessidade de estudo de impacto viário para a área, porque os restaurantes são de pequeno porte: "Não é possível exigir dos estabelecimentos oferta de estacionamentos para clientes pois, em geral, são empreendimentos pequenos, que comportariam poucas vagas. O licenciamento destes geralmente prevê convênios com estacionamentos".

O gerente do Nakombi, Cláudio Carvalho, não tem conhecimento de tal exigência e considera a situação delicada. "Eu mesmo já estacionei carro algumas vezes, para não causar tanto transtorno", revela. "A gente pára na Borges de Medeiros", explica o gerente operacional da Natsar, responsável pelo serviço de manobrista dos maiores estabelecimentos da rua.

Ele nega que a empresa estacione sobre as calçadas e considera que o tempo do sinal precisa ser alterado. A pizzaria Bráz foi procurada mais preferiu não se pronunciar.

Os moradores insatisfeitos, por sua vez, fazem seu barulho. Desde o fechamento da lavanderia vizinha ao bar Rebouças, há cerca de três meses, temem que a festa aumente: o ponto teria sido visitado pelo proprietário de uma grande rede de bares.

A síndica Cláudia, com o apoio da Associação de Moradores do Jardim Botânico, passou um abaixo-assinado pedindo providências. O documento será entregue ao 23º Batalhão de Polícia Militar e ao subprefeito da Zona Sul, Márcio Filipo Júnior. E o presidente da associação de moradores do bairro, Evaldo de Souza Freitas, vai convocar reunião com representantes dos restaurantes.

Apesar de reclamarem, os moradores não se privam de comer uma boa pizza e generosos combinados de sushi e sashimi nos restaurantes vizinhos."Não tenho nada contra casas, mas é uma rua muito pequena e acaba ficando bagunçada", pondera a moradora Angela Tostes.

A esperança de alguns é que o movimento diminua depois que a novidade passar. "A tendência é que melhore com o tempo", analisa o comerciante do Porto, há 25 anos na rua.

Morador do Grajaú, ele viveu situação semelhante no dia em que um supermercado abriu as portas perto da casa e o trânsito no bairro da Zona Norte ficou confuso. A solução só veio depois que apareceu a Guarda Municipal, que por enquanto, segundo os moradores, não deu as caras na Maria Angélica.

Fonte: Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 01 de julho de 2007

 

Categoria: Geral


Outras matérias da edição

Lei proíbe estacionar no centro expando de SP em horário de pico

Projeto de lei do vereador Ricardo Teixeira (PSDB), que inclui até áreas de Zona Azul e proíbe utilização das 7h às 10h e das 17h às 20h

Current banki (...)

Novas vagas para o bairro da Urca

A autorização entrará em vigor, depois da instalação da sinalização necessária

Current banking behaviors are

Seja um associado Sindepark