Como mostrou reportagem publicada dia 5, o segmento dos valets é uma "terra de ninguém" na capital paulista. Autoridades, representantes do setor e sindicato dos empregados não conseguem sequer calcular quantas são as empresas do ramo e convivem com a estimativa de que 90% das firmas de valets funcionam na ilegalidade.
O teste do UOL Notícias foi organizado da seguinte maneira: após o veículo ser deixado com o manobrista na porta de determinado estabelecimento, um fotógrafo, dentro de um táxi, seguia o carro para saber em que local ele seria deixado.
O primeiro problema surgiu no restaurante Sushi Los Ruas, na rua Morato Coelho, 885. Após receber a certeza de que o veículo iria para um estacionamento na rua Cardeal Arcoverde, o manobrista do F.J. Park largou o carro em uma rua escura, ao lado de uma caçamba de entulho.
No segundo endereço, no restaurante Rosa Maria, na rua Purpurina, 107, o manobrista do A&C Park igualmente afirmou ao repórter que levaria o veículo para um estacionamento. Na base do valet, um texto impresso informava: "Seu veículo será levado para estacionamento na rua Girassol, 795".
A realidade, no entanto, foi outra. O carro foi parar na rua, em frente a uma guia rebaixada, obstruindo a entrada de uma residência. No portão da casa, havia uma placa de "proibido estacionar".
Pelas informações da Secretaria de Segurança Pública, só neste ano, 360 ocorrências de furtos de veículos foram registradas no bairro de Pinheiros, que engloba a Vila Madalena.
Outro lado
Procurados pela reportagem, os proprietários do Sushi Los Ruas afirmaram que o F.J. Park não é oficialmente conveniado com o estabelecimento, apesar de o totem do valet estar localizado exatamente na porta do restaurante. "É uma parceria informal. Combinamos que eles pegam os carros para a gente, mas já estamos tendo muitos problemas e vamos procurar uma empresa especializada", afirmou o gerente da casa, José Edson de Souza.
Ao ligar no número de celular impresso no boleto do F.J. Park, a pessoa que atendeu, identificada apenas como Antonio, insistiu em negar que o manobrista tivesse parado o carro na rua - mesmo quando confrontado com a informação de que a irregularidade havia sido registrada em fotos.
Os proprietários do restaurante Rosa Maria, por sua vez, explicaram que contrataram o valet após verificar toda a documentação e que teriam sido enganados. "Jamais aceitaríamos uma coisa dessas. Sabemos que é um absurdo e não compactuamos com a prática. Estamos tomando todas as providências para saber o que aconteceu", afirmou um dos sócios, Rodrigo Santos.
Já o dono do estacionamento A&C Park, Adailton Matias, afirmou estranhar o episódio. Segundo ele, seu valet conta com um imóvel com 80 vagas para levar os carros dos clientes. Após ameaçar o repórter de processo por calúnia, ele disse que teria sido enganado pelo manobrista. "Você contrata as pessoas, aluga um lugar para estacionar os carros, e o infeliz vai lá e bota o veículo na rua", disse ele, que informou que iria tomar as providências para apurar o fato.
Fonte: UOL Notícias, 5 de maio de 2011