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Zona Azul digital, rentável para quem?

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Por Jorge Hori*

A Prefeitura de São Paulo lançou mais uma tentativa de automatizar o uso das vagas de estacionamentos rotativos, mais conhecida como Zona Azul.

A Zona Azul, implantada inicialmente em São Paulo, inovou o pagamento e controle da utilização das vagas, com um sistema barato e eficaz.

Diversamente da tecnologia tradicional desenvolvida em outras cidades do mundo, com a instalação de parquímetros, o que envolve um alto investimento inicial (e custos posteriores com manutenções), São Paulo criou uma ficha em papel comum, conhecido como cartão da Zona Azul, em que o motorista preenche os dados e o deixa dentro do carro, à vista da fiscalização.

Um sistema simples e barato que deu origem a fraudes e a um comércio paralelo. A principal fraude - que eram as falsificações dos cartões - foi minimizada pela impressão de cartões com tarjas magnéticas e outros fatores de segurança, que encareceram o seu custo, o qual não foi repassado inteiramente aos usuários.

Já o comércio informal surgiu pela insuficiência ou mau funcionamento do sistema de distribuição.

Na falta de locais com a venda dos cartões, a comercialização foi assumida pelos "flanelinhas" que vendem o cartão avulso a preços superiores ao da venda oficial. 

Eles são intermediários e prestadores de serviços, cobrando pelos seus serviços. O que causa indignação das autoridades e da sociedade. E de alguns usuários. Mas a maioria aceita pagar o adicional, porque as opções - embora existam - não são adequadas. Por exemplo, ter que andar duas ou mais quadras para encontrar um revendedor autorizado. E com o risco de que esse cobre também um valor a mais.

A cobrança a mais por um prestador de serviço informal é sempre condenada. Mas poucos reclamam das taxas de conveniência cobradas pelos prestadores de serviços de compras antecipadas de ingressos para o cinema ou teatro. Ou das absurdas tarifas cobradas pelos bancos. Esse, sim, é um crime contra a economia popular.

Para tentar convencer o público da inconveniência desse comércio informal, a Prefeitura o caracterizou como fraude alegando que causa um prejuízo da ordem de 50 milhões de reais. A Prefeitura nada perde, porque recebe os valores de face. Quem perde é o usuário, que paga a mais pelos serviços do flanelinha.

Para vencer esse comércio informal que atende aos motoristas que não se previnem com a compra antecipada dos cartões e, principalmente, àqueles que não fazem a compra antecipada porque sabem que irão encontrar ou serem abordados pelos "flanelinhas", a Prefeitura lançou a Zona Azul Digital.

Que não é um novo sistema. Mas apenas a substituição do cartão impresso pela compra pelo celular. Com vários complicadores que não vão facilitar a vida do usuário. Com essa mera substituição do analógico pelo digital, mantendo as mesmas lógicas, o risco de insucesso é grande.

Depois de duas horas de tentativa ainda não consegui completar o cadastramento em um dos aplicativos.

A principal dificuldade do usuário é indicar a localização da vaga em que estacionou. Não usa os recursos modernos como o GPS, mas é segundo uma marcação analógica.

Um sistema efetivamente digital deveria ser compartilhado com outros aplicativos que trabalham com chips ou tags, associados ao GPS para compartilhar os recursos tecnológicos e os custos.

E os controles ou fiscalização deveriam ser feitos por radares ou por drones. Não mantendo os marronzinhos ou as azuizinhas para a fiscalização in loco.

Isso, provavelmente, é ainda muito caro. Mas, enquanto se desenvolvem os aplicativos adequados, o mais econômico é manter o sistema analógico, e não disfarçá-lo em digital.

A substituição da comercialização do uso da vaga pelos revendedores e pelos flanelinhas pelos aplicativos não parece ser um bom negócio para estes, a menos da animação inicial pela novidade.

Uma coisa é o aplicativo de empresa de estacionamento que o acopla a outros serviços correlatos e outra de empresas de operação de aplicativos.

O sistema instituído pela Prefeitura é de venda prévia, com desconto para a credenciada e revenda pelo celular.

A credenciada precisa comprar 30.000 cartões digitais com pagamento à vista, com 10% de desconto sobre o valor de face. Significa uma inversão inicial de R$ 150.000,00 para um ganho máximo de R$ 15.000,00. Máximo porque na compra de lotes de 10 cartões o usuário já tem um desconto de 10%. E, na revenda dos cartões, a credenciada é devedora do ISS ou (mais grave) do ICMS e da taxa dos serviços da operadora do cartão de crédito.

O modelo de negócio é de operação deficitária. A credenciada terá que aportar outras fontes de recursos para torná-lo atraente.

Vencido o entusiasmo inicial com a novidade, ao analisar as contas muitos credenciados irão desistir do negócio. A menos que a Prefeitura mude o modelo.

Uma hora a mais e ainda não consegui completar o cadastramento...

O sistema digital não irá eliminar a concorrência dos flanelinhas e muitos preferirão os serviços informais desses do que ficar perdendo tempo no celular tentando registrar o uso da vaga.

 

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.


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