"Atualmente, é quase impossível encontrar vagas nas ruas", diz a consultora de recursos humanos Ana Christina Almeida, que trabalha na Avenida Faria Lima. "Gasto 30 reais por dia para guardar o carro na região do meu escritório." Como ela também não tem garagem em casa, sua despesa total ultrapassa 900 reais mensais.
De acordo com o Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark), a cidade dispõe de 1 milhão de vagas pagas, distribuídas por cerca de 9.000 estacionamentos. Para Jaime Waisman, professor de engenharia da Universidade de São Paulo e consultor na área de transportes, esse número seria suficiente para atender à frota circulante de 3,5 milhões de veículos. "O problema é que todo mundo quer estacionar nos mesmos pontos", afirma. "Locais como a Avenida Paulista, por exemplo, deveriam ter o dobro de estacionamentos para dar conta da demanda. Mas não há espaço para construir novas garagens nessas regiões."
É por isso, graças à lei da oferta e da procura, que se encontram lugares que cobram 19 reais pela primeira hora do automóvel parado na garagem ou 68 reais por um período de doze horas. "Hoje, a maioria dos paulistanos não tem como prescindir de estacionamentos pagos", aponta Pedro Donda, presidente do grupo STP, que administra o Sem Parar/ Via Fácil, sistema de pagamento automático de pedágios e garagens. Desenvolvido há uma década, o mecanismo é utilizado por 1,5 milhão de motoristas do Estado. Está presente em dezessete dos cinquenta shoppings da capital e em alguns de seus maiores estacionamentos, como o do Aeroporto de Congonhas. Só em 2009, a empresa faturou 3,5 bilhões de reais.
Os donos de garagens movimentam cifras igualmente vultosas, mas rechaçam a ideia de que o setor é uma mina de ouro. "Nossa margem de lucro gira em torno dos 4%", diz Nilton Bagattini, proprietário da Area Parking, rede que administra cinquenta unidades em São Paulo. Segundo cálculos do Sindepark, os gastos com aluguel, IPTU e outros impostos consomem 51% do faturamento de uma empresa. O restante do valor arrecadado vai para o pagamento de seguro (2%), manutenção (4%) e mão de obra (39%). "Gasto 140.000 reais por mês só com o IPTU de uma de minhas unidades", argumenta Sergio Morad, dono da Multipark e presidente do Sindepark. Ele se refere ao terreno na esquina da Avenida Paulista com a Alameda Pamplona, onde ficava a mansão que pertenceu à família Matarazzo. "Não consigo cobrar lá menos de 10 reais por hora."
Segundo um levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o valor cobrado por garagens e valets subiu quase 10% no ano passado, mais que o dobro da inflação registrada entre janeiro e dezembro (4,3%). As vagas de ouro não são, obviamente, um privilégio de São Paulo. Dados da empresa Colliers International, que presta consultoria para o setor imobiliário, mostram que uma diária (doze horas) em Londres custa o equivalente a 105 reais; em Tóquio, a 97 reais; e, em Nova York, a 81 reais. "Em qualquer centro urbano, a procura por vagas em estacionamentos será sempre maior que a oferta", afirma Pedro Donda.
A vida dos paulistanos que penam para guardar seu carro se complicou ainda mais no ano passado, quando foram extintas mais de 6.200 vagas ao longo de vias dos Jardins, Itaim, Brooklin e Vila Olímpia. Isso trouxe um efeito positivo para o trânsito dessas regiões. A prefeitura ampliou ainda em 3.500 o número de vagas controladas pelo sistema de Zona Azul - hoje são 34.700. O preço de cada folhinha, que em geral permite ao motorista deixar o veículo na rua por uma hora, passou de 1,80 para 3 reais. Atualmente, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) busca parceiros na iniciativa privada para aumentar o número de estacionamentos da capital. O projeto prevê a construção de 64 edifícios-garagem, cada um deles com capacidade para 400 carros, ao lado de estações de trem e metrô ou terminais de ônibus. Se sair do papel, a cidade ganhará 25.000 novas vagas. Em 2008, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado pôs em prática um projeto interessante. Ao lado de quatro estações de metrô (Marechal Deodoro, Bresser- Mooca, Santos-Imigrantes e Corinthians- Itaquera) foram construídos estacionamentos com capacidade para cerca de 200 automóveis cada um. Deixar o carro em um deles por um período de doze horas custa de 7 a 11 reais, valor bem abaixo do que normalmente é cobrado. A previsão é que, até o fim do ano, mais seis garagens do tipo sejam inauguradas.
RUAS*
■ Rua Augusta (Cerqueira César) de 10 a 14 reais (a primeira hora); de 18 a 25 reais (doze horas)
■ Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini (Brooklin) de 8 a 10 reais (a primeira hora); de 20 a 30 reais (doze horas)
■ Avenida Paulista de 8 a 10 reais (a primeira hora); de 20 a 30 reais (doze horas)
■ Rua Barão de Duprat (centro) de 6 a 19 reais (a primeira hora); de 15 a 68 reais (doze horas)
■ Alameda Santos (Cerqueira César) de 6 a 15 reais (a primeira hora); de 18 a 45 reais (doze horas)
BARES E BALADAS*
■ Pink Elephant (Itaim Bibi) 25 reais
■ Mokaï (Jardim Paulista) 25 reais
■ Museum (Brooklin) 25 reais
■ The Blue Bar (Itaim Bibi) 25 reais
■ Royal (centro) 20 reais
RESTAURANTES*
■ Leopolldo Faria Lima (Jardim Paulistano) 18 reais
■ Almanara (Jardim Paulista) 16 reais
■ Skye (Jardim Paulista) 16 reais
■ Fasano (Jardim Paulista) 15 reais
■ Terraço Itália (centro) 15 reais
HOSPITAIS**
■ Albert Einstein (Morumbi) 10 reais
■ Sírio-Libanês (Bela Vista) 10 reais
■ Nove de Julho (Cerqueira César) 10 reais
■ HCor (Paraíso) 9 reais
■ São Luiz (Morumbi) 9 reais
SHOPPINGS***
■ Vila Olímpia (Vila Olímpia) 13 reais
■ Iguatemi (Jardim Paulistano) 11 reais
■ Pátio Higienópolis (Higienópolis) 11 reais
■ Bourbon Pompeia (Pompeia) 10 reais
■ Villa-Lobos (Pinheiros) 10 reais
* Com serviço de manobrista / ** Preços referentes à primeira hora / *** Preços referentes a quatro horas
Fonte: Revista Veja São Paulo, 17 de fevereiro de 2010