Entre as outras propostas para o trânsito, estão o fim dos estacionamentos no centro e a implantação do pedágio urbano
São Paulo viveu dias de caos no trânsito em pleno período de férias. Os índices de lentidão são, historicamente, menores em julho. Neste mês, porém, bateram recorde: 201 km às 19h do dia 6, o maior índice desde maio do ano passado.
Na quarta-feira, acabou a experiência de dez dias da prefeitura de suspender o rodízio para ver no que dava. No final, o rodízio se mostrou inevitável -apoiado em outras ações para evitar que o trânsito fique insuportável.
Avaliações da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) previam no mês passado que a suspensão faria, em julho, os índices de congestionamento subirem em 3,9%.
Até mesmo o prefeito Gilberto Kassab (DEM) admitiu que a experiência apontou que o rodízio é indispensável. Nas palavras do presidente da CET, Roberto Scaringella, o rodízio, "após dez anos de existência, está concretamente validado".
A propósito da decisão de Kassab de suspender o rodízio em julho, no período das férias escolares, a Folha ouviu especialistas para discutir quais os caminhos para resolver o problema de trânsito na cidade.
Os especialistas foram unânimes em afirmar que a experiência provou que São Paulo precisa de medidas urgentes para evitar um colapso.
São várias as alternativas propostas. Todas elas, no entanto, caminham na mesma direção, de privilegiar o transporte coletivo em detrimento do individual. Ou seja, a cidade precisa de mais metrô, trens, ônibus (e corredores de ônibus) e menos carros.
Marcos Bicalho, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), diz que um pedágio urbano pode evitar a circulação dos carros. "Mas o poder público não tem credibilidade suficiente para enfrentar decisões como essas", pondera.
Bicalho afirma que a implantação desse tipo de pedágio precisa ser bem estudada. De acordo com ele, o projeto de implantação de cobrança nas marginais, que chegou a ser discutido no início de 2007, só aumentaria a demanda de circulação de automóveis.
Para Luiz Célio Bottura, consultor em engenharia urbana, o pedágio urbano deveria valer em toda a cidade, não só em determinadas avenidas. O dinheiro arrecadado manteria o transporte coletivo.
O vereador Ricardo Teixeira (PSDB), ex-gerente de operações da CET e autor do projeto que proíbe o estacionamento no centro, vê outro problema: caminhões na região central durante o horário de pico.
Para Chico Macena (PT), vereador e ex-presidente da CET, o aumento do uso do transporte coletivo deve ser gradativo. "Acho que a melhor solução é acabar os 700 km de corredores de ônibus que estavam previstos e criar condições para restringir os carros", diz.
Adriane Fontana, engenheira de transportes e professora do Centro Tecnológico da Zona Leste, diz que a única solução é melhorar o transporte coletivo. Horácio Augusto Figueira, consultor em engenharia de tráfego, complementa ao dizer que os corredores precisam ser implantados com urgência.
Kassab disse que está investindo na melhoria do transporte coletivo. Mas descartou a implantação do pedágio urbano, já que não é um tema a ser tratado durante seu governo.
Fonte: Folha de São Paulo (São Paulo), 15 de julho de 2007