Conforme o nome indica, o objetivo dos estacionamentos rotativos é o de permitir que vários motoristas tenham a oportunidade de parar, por determinados prazos de tempo, em áreas públicas comerciais das principais cidades brasileiras.
Os sistemas e as condições variam em cada lugar. Dos quatro locais avaliados neste teste - Rio de janeiro, São Paulo, Salvador e Porto Alegre -, as capitais fluminense e baiana utilizam os talões manuais e têm áreas com diferentes limites de permanência, os quais dependem do grau de movimento do trecho em questão. Já São Paulo também oferece a opção de controle por aplicativo de celular, enquanto o rodízio de vagas em Porto Alegre é feito exclusivamente por parquímetro. Salvo as diferenças regionais, a falta em cumprir adequadamente com esse serviço é ilegal em todo o país e sujeita a multa e reboque.
O mesmo se aplica a motoristas que, ao tentar ludibriar o sistema e ficar na vaga por mais tempo do que o especificado, deixam mais de um tíquete sobre o painel de seus automóveis. Para avaliar, então, se a rotatividade de fato é respeitada e se é concedido a múltiplos condutores o mesmo direito de usufruir do serviço, nossos colaboradores saíram a campo nessas quatro cidades, durante o mês de agosto.
Em caráter anônimo e seguindo o mesmo roteiro predefinido por nós, estacionaram durante a hora do almoço, entre segunda-feira e sexta-feira, em locais de grande fluxo. Uma vez expirado o tempo limite, sempre de duas horas, eles foram instruídos a solicitar um novo período de permanência no mesmo local. Caso isso fosse possível, aguardariam para ver se haveria fiscalização. O resultado, como você verá neste artigo, foi insatisfatório, de norte a sul.
- Rio de Janeiro: "Pode ficar até 50 horas"
Conhecido como Rio Rotativo, o estacionamento rotativo em áreas públicas da capital fluminense é feito por um tíquete de preenchimento manual, adquirido diretamente com o vendedor ou em bancas de jornal. Ele, que peca ao não informar o tempo máximo permitido de permanência, deve ser afixado em um local vísivel no painel do carro e trazer informações da placa, da data e do horário de início de utilização da vaga.
Após estacionar na Rua do Catete, no bairro do mesmo nome, nosso colaborador pagou os R$ 2 estipulados para todos os tipos de rotatividade. A primeira impressão foi boa, já que o vendedor estava uniformizado e a vaga, devidamente sinalizada, com a placa informando o período máximo de estacionamento e o horário do serviço. Entretanto, foi o vendedor quem preencheu o talão, embora isso seja responsabilidade do condutor, e o fez de forma incompleta, deixando de identificar o dia e o ano do uso.
A partir daí, sucedeu-se uma sequência de infrações. Ao ser questionado por nosso colaborador sobre o prazo de utilização da vaga, o profissional lhe respondeu que poderia ficar o tempo que quisesse, "até 50 horas", desde que pagasse no ato do estacionamento. Passadas duas horas, nosso voluntário retornou e, alegando ter que continuar por mais tempo, solicitou outro bilhete, o que lhe foi prontamente atendido pelo vendedor, após nova cobrança de R$ 2. Porém, dessa vez, não foi entregue outro tíquete, pois, segundo o vendedor, o que estava sendo usado bastava para um novo período.
Assim, ficou constatada outra irregularidade, mostrando o total descumprimento da obrigatoriedade do uso do talão para estacionar em uma vaga do Rio Rotativo, assim como o evidente descaso do vendedor quanto às regras de trânsito.
- App permite novo período em São Paulo
Sob o nome de Zona Azul, o motorista paulistano tanto tem a opção de adquirir um tíquete manual quanto o de reservar o estacionamento por meio de três aplicativos - neste teste, usamos o Vaga Inteligente. Baixado o app no celular e feito o cadastro do veículo e das informações do usuário, pode-se comprar créditos pelo cartão de crédito. Em seguida, basta informar a cidade, a placa do veículo em uso, a regra de utilização e o tempo de permanência na vaga, de acordo com a quantidade de créditos disponível.
A fiscalização realizada pelos agentes de trânsito também é feita digitalmente, dispensando, assim, a necessidade de ter que deixar um comprovante de pagamento no painel. Como o tempo limite do Zona Azul é sempre de duas horas, ao custo de R$ 10, não é possível pedir um acréscimo de tempo, mesmo que se tenha créditos suficientes na conta. Caso o condutor não retire o veículo ao término do período, será considerado como irregular e ficará sujeito a multa e guincho. A primeira irregularidade observada foi a placa da Rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, que não indicava o período máximo de estacionamento.
A segunda, e mais grave, foi que nosso colaborador conseguiu burlar o período máximo de permanência: ao fazer uma nova solicitação no aplicativo, pôde ficar na vaga por mais duas horas. Isso ocorreu porque não existe qualquer identificação no aplicativo da vaga utilizada, possibilitando ao usuário aproveitar irregularmente do serviço e fazendo com que o rodízio seja usufruído por menos motoristas, o que contraria o propósito da rotatividade.
- Salvador: falta de fiscal e vaga estendida
Embora compartilhe o mesmo nome do estacionamento rotativo público de São Paulo, o Zona Azul da capital baiana se assemelha ao sistema usado no Rio de janeiro. O tíquete pode ser comprado com o vendedor ou em bancas de jornal, e o tempo, assim como o preço, variam de acordo com a região da cidade, abrangendo de longa (12 horas) a curta duração (duas), caso deste teste.
Nosso colaborador estacionou no movimentado Largo dos Mares, constatando a correta sinalização, que trazia o horário do serviço e o período máximo permitido, e pagou os R$ 3 referentes às duas horas. Devidamente uniformizado, o vendedor lhe entregou o talão, que continha, de forma clara, todas as informações necessárias, e reforçou o prazo de permanência na vaga. Assim que terminou o tempo, nosso colaborador retornou ao local e informou que desejava manter o carro estacionado por outra fração.
A resposta dada pelo cobrador foi a de que ele não precisaria pagar a mais, porque o fiscal do serviço não passaria pela região naquele horário. Mais uma vez, e repetindo o padrão das outras cidades avaliadas, observa-se uma atitude equivocada e má intencionada por parte do profissional responsável por zelar pelo cumprimento da rotatividade em vias públicas.
- Tecnologia não ajuda em Porto Alegre
À primeira vista, o Área Azul aparenta ser vantajoso em relação a estacionamentos rotativos públicos das outras cidades. Mais moderno, ele é controlado por parquímetros e fiscalização (feita por fiscais e também por meio eletrônico), e possibilita ao condutor a opção de pagar proporcionalmente pelo período de uso. Caso queira, ele pode utilizar o tíquete para parar em qualquer vaga até o vencimento do horário nele impresso.
Assim, o veículo não precisa ficar necessariamente no mesmo local durante a vigência do tempo. O prazo, que varia de 30 minutos (R$ 1) ao limite de duas horas (R$ 4), é contabilizado por meio da inserção de moedas ou pelo uso de cartões inteligentes. Um tíquete é emitido pela máquina, que deve ser colocado no painel do veículo. Na prática, porém, a tecnologia acaba virando um empecilho, já que nosso colaborador se deparou com parquímetros fora do ar em três ruas, até finalmente encontrar um em funcionamento na Rua Riachuelo, no centro histórico da capital gaúcha.
Depois de finalizado o período de duas horas, nosso voluntário voltou ao parquímetro e conseguiu comprar um novo bilhete para permanecer na mesma vaga. Isso se deveu ao fato de não ser necessário informar a placa do carro ao usar o equipamento, que, por sua vez, não consegue bloquear o acesso a um novo tíquete.
Ou seja, caso o fiscal não esteja no local naquele momento, é possível continuar por mais tempo do que. o permitido. Infelizmente, essa foi outra das inúmeras irregularidades que verificamos e que mostram que, de rotativo, os estacionamentos em áreas públicas das cidades brasileiras não têm nada.
Fonte: Revista ProTeste - RJ - 01/10/2016