Na capital francesa onde eclodiu no fim do século18 arevolução que mudou o mundo, baseada nos princípios da tríade “liberdade, igualdade e fraternidade”, os maiores fabricantes mundiais de carros se reúnem dois séculos depois no Salão de Paris para mostrar outra revolução que vai mudar rapidamente o universo dos carros até o fim desta década. Parafraseando os ideais revolucionários franceses, liberdade, conectividade e eletromobilidade são os fios condutores das mudanças em passo acelerado. Cada marca à sua maneira, todas trabalham para deixar o cliente livre da obrigação de ter um veículo ou precisar dirigi-lo, de estar conectado em movimento ou parado para encontrar um lugar para estacionar, o melhor restaurante ou o caminho de casa (entre muitas outras possibilidades), tudo sem emitir um grama sequer de gases poluentes ou de efeito estufa, usando a energia limpa da eletricidade.
Graças à evolução das tecnologias de conectividade, das baterias elétricas e da inteligência artificial embarcada nos automóveis na forma de sensores, centrais de processamento de dados de alta velocidade e atuadores mecatrônicos, os carros de um futuro bem próximo, de cinco a dez anos, poderão guiar com pouca ou nenhuma interferência humana, ter autonomia acima de500 kmem modo elétrico (com recargas rápidas de 30 minutos), além de ganhar vida em um mundo paralelo virtual, no qual se trocam informações, atualizações, roteiros etc.
E tudo isso sem que o carro precise necessariamente ser seu: o compartilhamento de veículos entre pessoas ou via empresas frotistas (também suportado por aplicativos de smartphones) já é realidade em países da Europa e América do Norte e está crescendo ao ritmo de dezenas de terabytes por segundo – as montadoras estão bem atentas a esse movimento e se preparam para prestar serviços de compartilhamento.
Vários fabricantes de veículos na Europa e América do Norte estão entrando no mundo dos serviços de compartilhamento, por meio de parcerias ou mesmo de aquisições de participação em empresas que criaram aplicativos com esse fim.
REINVENÇÃO DO AUTOMÓVEL
“Conectividade, direção autônoma, compartilhamento e eletromibilidade são os quatro pilares que estão virando a indústria de ponta-cabeça”, reconhece Dieter Zetsche, presidente do Grupo Daimler e CEO da Mercedes-Benz Cars. O executivo explicou à imprensa internacional durante apresentação no Salão de Paris (aberto ao público de 1° a 16 de outubro) como a marca que inventou o automóvel está tratando de reinventá-lo, seguindo essas megatendências.
Pelo lado da conectividade, lançou a iniciativa Community Base Parking, que usa a comunicação entre veículos para encontrar vagas de estacionamento – algo de fundamental importância em grandes e congestionadas cidades. Estima-se que, em algumas regiões urbanas de alta densidade populacional da Europa, as pessoas gastem de10 a15 minutos por dia para encontrar onde parar seu carro.
“É como fundir as habilidades admiráveis de alguns animais, como os pássaros que voam orientados pelo magnetismo da Terra, ou os peixes que nadam no escuro seguindo as ondas da água. Queremos criar um carro com poderes quase sobrenaturais, indo tão longe com a direção autônoma quanto a segurança e legislação permitirem”, disse Zetsche.
De maneira geral, a maioria dos fabricantes já traçou a rota para a direção autônoma, que começa a se tornar realidade a partir do ano que vem com adoção de funções semiautônomas como o Pro-Pilot da Nissan. Em 2017 alguns modelos terão sistemas assim, que ainda requerem a atenção do motorista ao volante, já em 2018 ele poderá tirar os olhos da estrada em certas condições de condução, em 2025 nem precisará mais pensar na rota, o carro vai fazer tudo sozinho, e alguns especialistas preveem que na virada de 2030 o veículo nem será mais necessário ter um volante.
ELETRIFICAÇÃO ESTENDIDA
Ao que parece, o principal entrave para o desenvolvimento de veículos elétricos está sendo superado: as baterias estão ficando mais baratas, leves e potentes, aumentando bastante a autonomia e viabilizando o maior uso da tecnologia. Quase todos os fabricantes presentes no salão de Paris prometeram lançar novos modelos elétricos em abundância nos próximos anos na Europa, Estados Unidos, China e Japão. E apresentaram carros que mais que dobraram a distância que podem percorrer antes de precisar recarregar as baterias.
Fonte: Revista Automotive Business/Paris (França), 29/09/2016