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Paulistanos deixam o carro em casa, e trânsito na cidade diminui

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Pela primeira vez nos últimos três anos, os indicadores do trânsito paulistano melhoraram no primeiro semestre. A lentidão no pico da tarde, das 17h às 20h, caiu de137 kmpara113 km. A velocidade média dos deslocamentos no mesmo período do dia passou de14 km/hpara18 km/h.

Em outras palavras, o desempenho do trânsito ainda fica abaixo do de um modelo de patinete elétrico, mas deixou de ser igual ao de um medalhista da marcha atlética.

A gestão Fernando Haddad defende que a melhora é reflexo de ações como a redução de limites de velocidade e a implantação de faixas de ônibus.

Já especialistas dizem que a desaceleração da economia é a principal hipótese para a melhora, porque tira veículos das ruas: o número de entregas diminui, desempregados passam a não usar o veículo e quem quer economizar deixa o carro em casa.

No primeiro semestre do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) do país teve queda de 2,1%. No mesmo período, a venda de automóveis caiu 20% no Estado, e a de combustíveis subiu 0,9%, menor alta em dez anos. A gasolina teve queda de 12% nas vendas.

As entregas também recuaram, e estacionamentos registram queda na procura. "Os preços dos estacionamentos estão um absurdo, então resolvi mudar", diz a empresária Cláudia Lopes, 34, que trocou o carro pelo ônibus.

CRISE

Para o consultor Sergio Ejzenberg, a maior velocidade média no trânsito de São Paulo é resultado da redução do número de veículos, que, por sua vez, tem ligação direta com a atividade econômica. "O comportamento do trânsito é reflexo direto da crise, que deixa as lojas vazias e reduz o comércio."

Paulo Cesar Marques da Silva, professor de engenharia de tráfego da UnB (Universidade de Brasília), também vê a crise como fator que diminui o número de viagens. Mas acredita que a saturação do trânsito nos últimos anos pode estar levando à busca de alternativas. "As pessoas mudam hábitos, desistem do carro e vão para o ônibus, para as ciclovias."

Luiz Carlos Néspoli, da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), afirma que fatores como a Copa, greves e protestos influenciaram nos indicadores de trânsito do ano passado. "São variáveis externas que impactaram a lentidão", diz.

MARGINAIS

Os indicadores que apontam a melhora do trânsito na cidade não captam o impacto da redução dos limites de velocidade em diversas vias da cidade, que ocorreu a partir de julho. Nas marginais Pinheiros e Tietê, a máxima caiu de70 km/hpara50 km/hna pista local.

A gestão Haddad diz que a medida melhora a fluidez do trânsito por fatores como redução de acidentes. Segundo a prefeitura, nas oito semanas após a mudança, o congestionamento caiu 11% no pico da manhã e 14% no da tarde nas marginais.

Para Tadeu Duarte, diretor da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a melhora nos indicadores de trânsito da cidade no primeiro semestre é resultado de medidas implantadas pela gestão, como faixas de ônibus, a reforma na rede de semáforos, as áreas com limite de40 km/he as ciclovias.

Ele reconhece que há menos carros na rua, mas diz que a explicação não é a crise. "As pessoas perceberam o beneficio de usar outros meios."

ESTACIONAMENTO CARO

O carro não é mais uma opção para a empresária Cláudia Lopes, 34, ir a compromissos na avenida Paulista, na região central de São Paulo.

A moradora do Jardim Ester, na zona oeste, diz que passou a usar ônibus neste ano para não ter que arcar com os custos dos estacionamentos na região da avenida, que começam em torno de R$20 aprimeira hora.

Para empresários do setor, não é um caso único. "Constatamos uma redução alta no uso do serviço", diz Marcelo Gait, do Sindepark (sindicato dos estacionamentos).

Segundo ele, diante do cenário econômico, as pessoas estão deixando o carro em casa para não gastar. "Considerando que os preços dos estacionamentos caíram até 50% em muitas regiões, acreditamos mais na crise como causa do que a redução do número de veículos", diz.

Uma pesquisa do Ibope apontou que o índice de paulistanos que têm carro e dizem usá-lo todos os dias caiu de 56% para 45% neste ano em relação ao levantamento feito em 2014.

Um deles é o bancário Rafael Frade, 43. Nos últimos seis meses, ele deixou de usar o automóvel para ir ao trabalho, na região central. Agora, só sai de casa, no Brooklin (zona sul), de ônibus. "O tempo que gasto em relação ao carro é o mesmo."

Outro estudo, encomendado pela Ciclocidade (associação de ciclistas de SP), aponta aumento do uso da bicicleta –19% dos entrevistados disseram ter começado a pedalar no último semestre.

É o caso da professora de ioga Viviane Duarte, 31, que abandonou há seis meses as corridas quase diárias de táxi. Hoje, só percorre de bicicleta os4 kmque separam sua casa, na Vila Madalena, do trabalho, em Pinheiros.

"Eu gastava uma nota e resolvi buscar uma alternativa. Decidi que a bicicleta é a melhor opção porque, além de economizar, eu faço exercícios e não polui. Para melhorar, tem um bicicletário bem perto do meu trabalho", diz.

ENTREGAS

Na visão do vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Antonio Carlos Pela, a crise é o principal fator para a redução do trânsito, causada também pela queda do número de fretes. "A redução da movimentação econômica derruba a demanda pelo transporte comercial terrestre. É um efeito cascata."

Segundo a entidade, as vendas caíram 3,9% no primeiro semestre, pior resultado desde 2009. Com a retração da produção, o transporte de cargas também diminuiu. O tráfego nas estradas de São Paulo caiu 6%, enquanto as entregas recuaram cerca de 15%.

Fonte: Folha de S. Paulo, 27 de setembro de 2015

Categoria: Fique por Dentro


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