Organizar sim, lucrar não
Não é raro ao estacionar o carro em vaga pública ter de pagar a alguém que toma conta do pedaço. Pode ser um simples flanelinha ou os sofisticados serviços de valet park que chegam a cobrar R$ 8. Fato é que muita gente precisa do carro para ir trabalhar, resolver problemas do dia-a-dia, enfim, e a falta de estacionamento cada dia é mais crítica, o que dá margem a essas situações.
A frota de veículos cresce porque o brasiliense foge do precário transporte público. E preciso, sim, buscar soluções e o projeto das vagas rotativas se bem planejado, aliado a medidas para tornar ônibus, vans e metrô mais eficientes pode ser um caminho.
Mas desde que seja norteado pela intenção de organizar o caótico trânsito, com carros estacionados nos lugares mais impróprios, em filas duplas e triplas. E não apenas pela intenção de arrecadar. Em outros estados, as vagas rotativas já são antigas.
Mas não podemos esquecer da fracassada tentativa do Vaga Fácil, há dois anos, que recebeu muita reclamação da população e acabou suspenso pela Justiça.
Niemeyer discute propostas
A busca de soluções para o trânsito em Brasília ganhou reforço. Os arquitetos Carlos Magalhães e Fernando Andrade estiveram ontem à tarde com Oscar Niemeyer, no Rio de janeiro, para discutir propostas para que os problemas de falta de estacionamento e congestionamentos não interfiram no urbanismo da cidade tombada.
Magalhães adiantou que eles vão analisar o trânsito de forma ampla. Mas casos pontuais como o estacionamento irregular nas faixas laterais do Eixo Monumental, na altura do Congresso Nacional e na Praça dos Três Poderes, serão estudados separadamente.
A quantidade de carros que circula em frente ao Palácio do Planalto preocupa Niemeyer. "Desde a construção da Ponte JK, o tráfego ali é muito intenso e isso interfere diretamente na segurança do presidente da República. Sem falar que atrapalha a chegada e a saída da comitiva presidencial", destacou Carlos Magalhães.
Niemeyer disse que só falará sobre o assunto quando os projetos estiverem mais delineados. Mas a preocupação dele com o tema é antiga. No artigo Brasília e seus problemas, publicado pelo Correio em dezembro de 2005, o arquiteto demonstrou insatisfação com os estacionamentos às margens dos monumentos projetados por ele. "...Cada dia os transtornos causados pela circulação se fazem mais graves, principalmente no Eixo Monumental, nas horas de entrada e saída dos funcionários. Até para os visitantes o acúmulo de carros constitui um obstáculo, impossibilitados de ver os palácios escondidos atrás de enormes filas de automóveis:" Em outro trecho do artigo o arquiteto escreveu: "Como seria bom livrar as cidades dos problemas de tráfego que tantas angústias provocam!".
Com o crescimento desordenado da população, os problemas se multiplicaram. Com a falta de vagas nos comércios locais, os motoristas migraram para as superquadras em busca de estacionamento, deixando sem lugar os moradores das regiões próximas aos comércios. "Parece que o governo agora quer mexer na raiz do problema e estamos à disposição para ajudar no que for preciso", destacou Carlos Magalhães. 0 convite para que o grupo aponte soluções partiu do governador José Roberto Arruda.
Fonte: Correio Braziliense (Brasília), 06 de janeiro de 2007