Um dos principais símbolos do Rio é hoje o retrato da baderna e do desrespeito ao meio ambiente. As clareiras formadas perto do Cristo Redentor denunciam uma prática cada vez mais comum: o estacionamento ilegal em áreas desmatadas. Além disso, dezenas de flanelinhas cobram dinheiro de motoristas de vans, táxis e carros que já pagaram pela visitação. O superintendente do Ibama no Rio, Rogério Rocco, reconhece o problema e suspeita de envolvimento da empresa terceirizada responsável pela cobrança de ingressos.
Sem vagas suficientes para todos os veículos, motoristas aproveitam os canteiros à beira da pista para estacionar. Até cabos de proteção foram arrancados para facilitar o estacionamento. Alheios à destruição dos gramados, flanelinhas orientam os visitantes a parar em local proibido, inclusive em fila dupla, e cobram R$ 2 pela vaga.
Superintendência do Ibama suspeita de corrupção
O pagamento é feito mesmo depois de o motorista ter desembolsado R$ 5 para entrar com o carro e outros R$ 5 por cada ocupante do veículo (para motocicletas, o valor é R$ 3). A empresa terceirizada responsável pela cobrança de ingressos não fornece recibo aos motoristas."Nunca deram recibo e ainda por cima é preciso pagar um flanelinha para estacionar aqui em cima, depois de já ter desembolsado o valor do ingresso lá embaixo", reclamou Enéas Silva, motorista de van.
A falta de fornecimento de recibos levou a Superintendência do Ibama no Rio a suspeitar de corrupção por parte da Trade Rio Ltda. O GLOBO não conseguiu contato com a empresa para que comentasse a suspeita."Há fortes indícios de desvio de receita. É possível que a arrecadação seja muito maior que a declarada. Também já recebemos denúncias de que os motoristas de vans e táxis fizeram um acordo com a empresa e pagam um valor menor para entrar", disse Rocco que planeja fazer um choque de gestão no parque.
O estacionamento ilegal também provoca longos engarrafamentos na pista. Como há carros e vans parados nos canteiros e nas curvas, motoristas mal conseguem manobrar. O pedestre é obrigado a caminhar entre os veículos, já que não há acostamento. "Muito desorganizado, nem sei como vou fazer para voltar", disse um motorista a um flanelinha, ao descobrir que não havia vagas disponíveis próximo ao monumento.
Área fica cheia de lixo no finais de semana
Nos fins de semana, segundo freqüentadores, a situação é ainda pior. Grande quantidade de lixo, como garrafas plásticas, sacos de biscoito e latas, é deixada pelo caminho e ajudada a enfear a paisagem.
Essa e outras irregularidades já são do conhecimento da direção do Parque Nacional da Tijuca e do Ibama. No passado, durante uma auditoria interna, os problemas foram constatados. Desde então, foram feitos estudos sobre como melhorar a situação.
A direção do parque informou que enviou mais de 15 documentos à Policia Federal, pedindo que as irregularidades fossem investigadas, mas nada foi feito. Segundo Rocco, por ano, cerca de 600 mil pessoas visitam o Cristo Redentor, que recentemente foi transformado em santuário religioso.
Um terço costuma ir de carro e o restante, de trenzinho. A área é administrada pelo Ibama, mas a gestão é do Patrimônio da União.
Fonte: O Globo (Rio de Janeiro), 10 de janeiro de 2007