Por razões de mercado ou culturais, no Brasil de hoje esses modelos em geral são fadados a pequenos números de vendas - em boa parte porque cobram preços muito altos em relação às versões de origem de quatro portas, como no Kia Cerato Koup. Foi também o caso do Opel Calibra (vendido aqui sob a marca Chevrolet), que custava bem mais que o modelo de origem, o Vectra de primeira geração, um carro já caro em sua época para os padrões brasileiros.
Dentro desse quadro de paixões e poucas opções, o Calibra, lançado na Europa em 1989, foi oferecido no Brasil de 1993 até o fim de sua produção, em 1997, embora recursos disponíveis na Europa (como motor V6 e tração integral) não tenham chegado até aqui. Era um carro que a seu tempo chamava muito a atenção pelo estilo singular, limpo e esportivo, com um baixíssimo coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,26, que levou quase uma década para outro carro de produção igualar.
Certamente o túnel de vento teve grande influência em seu estilo, como suas formas expressam com clareza, mas dentro de um ótimo equilíbrio de proporções. A Opel conseguiu ainda atingir um resultado que não é nada fácil: um estilo à frente de seu tempo, com atitude, esportividade e classe, muito bem balanceado. O resultado de um trabalho de qualidade é esse: mesmo passados 23 anos do lançamento e 15 anos desde o fim de sua produção, o Calibra ainda chama a atenção e agrada a muita gente, apesar das características de estilo ultrapassadas pelos atuais padrões.
Aliás, vale mencionar as características de estilo do Calibra que são quase o inverso do usual nos dias atuais: hoje são usadas grades dianteiras grandes, vincos e nervuras para todo lado; faróis, lanternas e janelas com contornos trabalhados; frente e traseira curtas para uma grande distância entre eixos.
O mundo do estilo automotivo não deixa de ser interessante por esse aspecto: analisamos aqui um carro concebido há mais de 20 anos que ainda pode agradar, enquanto por vezes um modelo novíssimo, que engloba todas as características de estilo e modismos atuais, pode não ter uma aparência que a percepção de muitos capte como positiva.
Foi um modelo que marcou época dentro da marca e que tem até clube - o Clube Calibra - em atividade no Brasil. É certo que esses e muitos outros admiradores sentem falta de modelos Opel à disposição no País, já que a marca alemã continua a demonstrar grande capacidade de desenho, seja em cupês, seja em modelos mais tradicionais. Não custa sonhar que possa surgir, algum dia, um novo cupê relativamente acessível que possa preencher o vazio que há para os amantes desses automóveis no Brasil.
Alguns destaques da análise de estilo feito na reportagem da Bestcars:
- Apesar da simplicidade do contorno, os faróis eram o ponto alto do desenho da dianteira por seu perfil muito baixo, permitido pelos refletores elipsoidais - uma novidade que dava um ar de tecnologia incomum.
- Aberturas pequenas eram comuns na época. Mesmo sendo tão estreita, a abertura superior da grade tinha bastante a ver com o tipo que a Opel usava em outros modelos, como o Vectra de primeira geração.
- Desde que as carroças perderam os cavalos, os capôs dos carros possuem algum tipo de adorno. A Opel fazia diferente nessa época com capôs lisos. Por um breve período, até que foi interessante.
- Nada de faróis de neblina ou entradas de ar adicionais, mesmo em se tratando de um esportivo. Colaborava com a aerodinâmica mas, apesar da boa aparência, tirava um pouco da pegada esportiva.
- Como era normal naquela época, o para-choque possui um trabalho de estilo bem simplificado. Havia apenas um rebaixo, formando uma saia para expressar esportividade. Era de certa forma obrigatório manter a região que receberia o eventual impacto, logo acima, saliente até mesmo para expressar robustez.
- A abertura da tampa do porta-malas não ir até embaixo é um exemplo de praticidade suplantada pela estética ou, talvez, pelo intuito de acrescentar rigidez à estrutura. Será que algum proprietário de Calibra se incomodou com isso?
- Outro item da época: os frisos salientes tinham a real função de proteger o para-choque e as laterais. As peças bem alinhadas e alojadas em rebaixos eram sinais de cuidado no acabamento.
- Nos anos 80 para os 90 era um conceito normal de estilo essa traseira mais estreita, assim como a dianteira, até por questões aerodinâmicas, que eram mais levadas a sério do que hoje. Isso fazia com que os carros ganhassem uma aparência mais leve e bem esculpida.
- Em uma época de carros bem arredondados e formas orgânicas, o Calibra com seus poucos vincos fugia um pouco aos padrões e antecipava uma tendência de estilo que estava por vir. Até por isso consideramos que estava à frente de seu tempo.
- Simplicidade total e beleza no contorno das janelas e a simulação de não haver coluna B, coisa que só vemos normalmente em carros-conceito. Muito bacana.
Fonte: Bestcars, 6 de dezembro de 2012