Por Jorge Hori*
Nos quatro primeiros anos do mandato de Dilma Rousseff, a atividade de estacionamento pago evoluiu muito. Sem precisar influenciar muito as políticas públicas, como os banqueiros e investidores financeiros, os estacionamentos ganharam com elas, caracterizadas por seu cunho populista.
As facilidades de financiamento para a aquisição de automóveis promoveram um grande aumento das frotas nas cidades, com a incorporação de milhares de pessoas que antes não tinham acesso ao seu "carro próprio". O "meu carro, minha vida" foi mais amplo que o programa habitacional.
O congelamento do preço da gasolina prejudicou o setor de etanol, mas fez com que os motoristas usassem mais o carro e utilizassem as economias com os combustíveis para pagar os estacionamentos.
O "boom" imobiliário nas grandes metrópoles gerou uma ampliação da oferta de garagens nos novos prédios de escritórios, ainda que abaixo da demanda efetiva. Em alguns casos o aumento líquido foi pequeno, porque se substituiu vagas em terrenos por vagas em prédios.
Achar uma vaga disponível a preços mais em conta continuou sendo difícil, facultando a elevação generalizada dos preços.
Como consequência, aumentou a oferta, aumentou a demanda, aumentou o tíquete médio e o faturamento das empresas. Esse em nível superior ao dos lucros, pelo aumento das despesas, principalmente o aluguel.
Com a reversão da situação e das políticas públicas, tanto federais como municipais, "os ventos não continuarão soprando a favor".
As empresas vão ter de se ajustar, uma grande parte delas para sobreviver à tormenta da conjugação de crises.
O planejamento estratégico das empresas passará a ser mais importante e uma das primeiras indagações é: o ambiente externo só prenuncia ameaças ou há perspectivas de oportunidades? O SWOT (Strenghts, Weaknesses, Opportunities, Threats – ferramenta para análise de cenário em uma empresa) se reduzirá a SWT (sem o O de Opportunities) e quem não cuidar do W (Weakness ou pontos fracos) não sucumbirá?
O maior desafio do planejamento estratégico para os próximos anos é garimpar e identificar as oportunidades. Com as devidas avaliações para não ser enganado pelas ilusões.
As eventuais oportunidades podem ocorrer por mudanças no perfil da demanda e na prestação dos serviços.
No caso da demanda, diante da elevação dos custos dos combustíveis, a reação dos motoristas deverá ser reduzir os custos, reduzindo os percursos. Alguns poderão optar pela mudança do veículo, para adotar marcas mais econômicas.
A par da ameaça da redução generalizada da demanda, a redução de percurso poderá ser feita pela integração com o transporte coletivo, principalmente o metrô.
Isso criará oportunidades de instalações de estacionamentos próximos às estações metroviárias, com etapas distintas, como se verifica no entorno da estação Butantã: num primeiro momento casas são derrubadas, dando origem a terrenos que são usados como estacionamento, ampliando a oferta. Quando a obra é iniciada, o estacionamento é desativado, com redução de vagas, que ressurgem dentro dos prédios. O incorporador compra as casas para utilizar o terreno e enquanto aguarda o licenciamento dá finalidade econômica à área, o que não ocorreria se mantivesse as casas intactas. Com risco adicional de invasão: então, demole as casas e instala um estacionamento.
Do ponto de vista de serviços, a principal oportunidade está na instalação de serviços de lavagem de carro a seco, ou com água de reuso.
* Jorge Hori é consultorem Inteligência Estratégicae foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.