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Jorge Hori *

A crise ameaça chegar aos estacionamentos em função das demissões de pessoal mais qualificado das administrações das empresas.
Como já colocamos aqui, existem três patamares da crise: a bursátil, a financeira e a econômica, todas interligadas. Mas de forma distinta país a país.
A crise bursátil, ou das bolsas de valores, envolve a queda do valor dos papéis. Que nem sempre refletem a economia real - que deveriam refletir - mas expectativas.
Com influência psicológica - utilizada pela especulação - entre as diversas bolsas mundiais.
A Bolsa de Nova York reflete um embate entre o governo e o dito "mercado". Diante da crise financeira, o governo norte-americano se vê na iminência de assumir o controle dos principais bancos (Citigroup e Bank of America) contra os interesses do mercado, que deseja a preservação do valor dos acionistas.
O mercado quer que o governo salve os acionistas, não os bancos. Afinal, aquele é formado pelos acionistas. O risco faz com que as cotações caiam e reflitam em queda na Bolsa de São Paulo. Onde não existe nenhum risco de estatização dos bancos brasileiros ou que operam no Brasil. Acumulando cada vez mais lucros.
E o Citigroup está em processo de negociação de venda de suas jóias.
A questão nesse setor está na aprovação pelo Banco Central da fusão entre o Itaú e o Unibanco, com o início de enxugamento dos seus quadros. Com a demissão de gerentes, analistas e outros funcionários de elevado valor salarial. Esse enxugamento reflete-se numa redução da demanda por estacionamentos nos locais próximos aos escritórios onde trabalhavam os demitidos.
Haverá um ajuste na demanda dos estacionamentos, chegando - num segundo momento - às agências que serão relocalizadas. Há locais em São Paulo com agências do Itaú e do Unibanco muito próximas uma da outra.
A crise financeira é uma crise de liquidez que afetou as empresas, mas principalmente o crédito direto ao consumidor, nas suas diversas formas, incluindo o cheque especial.
Ainda não está claro se o grande baque na venda de bens de consumo duráveis, no final de 2008, foi decorrência de uma retração da demanda, ou uma conseqüência da retração do crédito.
Que vinha sendo fornecido de forma ampla e fácil e, de repente, a fonte secou.
Pode ter sido conjugado, mas o desempenho dos primeiros meses de 2009 indicará qual teria sido e será o fator principal. Os indícios são de que, regularizada a liquidez, haverá uma retomada da demanda, ainda que não mais no ritmo frenético de 2008.
O efeito da crise financeira não apresenta significativos impactos pontuais, mas tem efeitos disseminados. Um desses é o corte nos auxílios-estacionamentos.
A retomada das vendas dos automóveis significa a continuidade no aumento da frota de veículos, gerando problemas adicionais de trânsito e também demanda adicional de vagas para estacionamentos.
A crise econômica é - basicamente - uma crise de demanda. Os consumidores estão adiando as compras, buscando poupar. Poupar diante das incertezas em relação ao futuro.
Esse comportamento individual, no conjunto, é um desastre macroeconômico.
Com a queda da demanda há uma queda da produção e, na seqüência, as demissões, que levam a uma nova rodada de redução da demanda.
Essa redução de demanda é diferente em cada economia.
O problema mais grave é o do mercado norte-americano, que representa cerca de 1/3 da demanda mundial. A sua retração leva a uma redução de exportações do Japão, da Europa, da China e Coréia do Sul, entre as mais afetadas.
A crise econômica só será superada pelo aumento da demanda.
A retração da demanda no Brasil é menor e fará com que a crise econômica aqui seja quase uma "marolinha", refletindo apenas a redução na demanda mundial dos produtos exportados.
As demissões na Embraer constituem um caso típico, com reflexo macroeconômico limitado, mas que afeta algumas atividades, incluindo a de estacionamentos.
Em São José dos Campos deverá haver um grande baque na demanda dos estacionamentos pagos.
Outras empresas com forte atuação nas exportações estão promovendo enxugamentos, em seus quadros administrativos e técnicos, como no caso da Sadia.
São demissões de demandantes usuais de estacionamentos pagos (ainda que muitas vezes pela própria empresa em locais dedicados).
A demanda mundial por commodities tende a se regularizar mais rápido do que os bens industrializados, principalmente os bens de consumo duráveis.
Uma grande parte é de alimentos e esses não são adiáveis. A sua retração decorre de ajustes de estoques e de perda de renda. Será afetada pelas demissões, mas tende a uma estabilização e recuperação.
Outra está vinculada aos investimentos em infraestrutura, como ocorre com o aço e, consequentemente, o minério de ferro.
Os investimentos em infraestrutura são o remédio básico que todos os governos estão tentando aplicar para reanimar a economia. Alguns de forma lenta, em função do tempo de maturação e dos entraves burocráticos e ambientais, como o Brasil.
Outros de forma mais rápida e acelerada, como a China, valendo-se da sua condição de regime autoritário.
A visita de Hillary Clinton, abrandando as críticas e restrições com relação aos direitos civis e aos efeitos poluidores da expansão chinesa, é sintoma de uma visão pragmática: - Invistam - muito e rápido. Não vamos "encher o seu saco" agora.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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