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A frota de veículos no Estado de São Paulo cresceu num ritmo quatro vezes superior ao da população entre 2002 e 2006.

Levantamento da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) mostra que, nesse intervalo, São Paulo ganhou mais 3,2 milhões de veículos, um aumento de 26%, e atingiu, no total, a marca de 15 milhões de carros, motocicletas, caminhões e ônibus.

Já a quantidade de habitantes no Estado cresceu somente 6,2% no mesmo período - de 38,1 milhões para 40,4 milhões.

O crescimento da frota paulista foi ainda maior com as motocicletas, que saltaram 67%, de 1,4 milhão para 2,4 milhões.

Especialistas apontam diversas explicações para a alta da taxa de motorização no Estado, incluindo a situação econômica favorável dos últimos anos e a demanda reprimida existente principalmente no interior e nas classes de renda mais baixa.

Não é à toa que a indústria automobilística já espera bater recorde de vendas no país neste ano. A maior taxa, de 1,94 milhão de unidades, é de 1997. Mas, no ano passado, ela chegou perto -com 1,930 milhão.

A expansão das motocicletas é outro fator destacado por técnicos, tanto em substituição ao transporte coletivo (cujas tarifas têm subido acima da inflação e cuja qualidade é questionada) como por conta do uso desse tipo de veículo em atividades comerciais, dos motoboys paulistanos aos mototaxistas do interior do Estado.

Os dados da Fundação Seade também apontam que, em alguns municípios paulistas, a taxa de motorização se aproxima da média de países desenvolvidos.

Em 2002, só duas cidades tinham menos de 2 habitantes por veículo. Hoje, 16 municípios estão nessa situação.

O líder no ranking é São Caetano do Sul, no ABC paulista, seguido por Águas de São Pedro - com 1,41 e 1,50 habitante, por veículo, respectivamente. Os dois municípios são conhecidos por concentrarem população pequena e de alta renda em relação à média. Nos EUA, essa taxa de motorização é de 1,30.

No Estado inteiro, em 2002, havia 3,17 habitantes por veículo, média que caiu para 2,67 em 2006. Considerando apenas a capital paulista, também houve queda da taxa (que, na prática, significa mais autos por morador e, conseqüentemente, maior congestionamento). O índice de habitantes por carro passou de 2,50 para 2,14.

A base do levantamento da Fundação Seade considera os dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), que são diferentes dos do Detran (Departamento Nacional de Trânsito) por contemplar somente os que possuem registros nacionais, excluindo os antigos que não atualizaram as placas amarelas de duas letras.

As estatísticas do Detran costumam mostrar motorização ainda superior no Estado, há 16,3 milhões registrados.

Reféns

Os números preocupam especialistas em transporte. Para eles, os sistemas viários municipais não têm conseguido absorver os aumentos consecutivos da frota. Resultado: mais riscos de engarrafamentos, mais acidentes e mais mortes.

O urbanista Marcos Pimentel Bicalho, superintendente da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos), diz que as cidades estão se tornando reféns de veículos individuais, como autos e motos. "Seguindo exemplo de países que conseguiram acordar para isso antes do Brasil, as cidades podem e devem ter espaço para os automóveis, mas a prioridade deveria ser os transportes coletivos e os pedestres, um ser geralmente esquecido."

José Bernardes Felex, professor titular de engenharia da USP de São Carlos, lamenta que cada vez mais a população recorra ao transporte individual. "Não tem havido qualquer evolução na qualidade dos transportes públicos. Pior, a confiança nesses serviços ainda está diminuindo", disse.

O aumento da procura por motos, segundo ele, mostra essa tendência. "Por um lado, é uma condução barata e rápida. Por outro, vem sendo utilizada de forma nem sempre segura", diz ele, em referência às mortes no trânsito, que são mais freqüentes entre motociclistas.

O presidente da CET-SP, Roberto Scaringella, disse que a elevação da frota não se deve apenas a problemas viários. "É uma tradução da realidade econômica e da realidade do desenvolvimento urbano", disse. Ou seja, está mais fácil para a população comprar veículos e a expansão física das cidades e a verticalização (mais prédios) demandam maior necessidade de transporte.

Segundo Bicalho, a solução para evitar um caos viário é a prioridade ao transporte público e as políticas de repressão ao transporte individual, como rodízios e pedágios urbanos.

Fontes: Folha de São Paulo (São Paulo), 14 de março de 2007
Portal G1 - Globo.com (São Paulo), 09 de março de 2007

 

Categoria: Geral


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