"Essa situação faz com que uma vaga tenha custo de ouro na cidade", afirmou o técnico em segurança Elias Barbosa, outro que se sujeitou à maratona para parar seu veículo no Ibirapuera, no dia 1º. "Por isso aceitei pagar R$ 10 por um cartão de Zona Azul que custa R$ 3."
O mesmo fez o empresário Fábio Cruz, não sem antes protestar. "Agora não aparece um agente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) para ver que estão vendendo a folha de Zona Azul com mais de 300% de ágio", disse.
O custo para parar no entorno do Ibirapuera é ainda baixo se comparado com lugares como Vila Madalena, na Zona Oeste, e Moema, na Sul. Nesses bairros repletos de casas noturnas e no Centro, com muitos escritórios, estacionar nas ruas não sai por menos do que R$ 20 e em estacionamentos por até R$ 50 para uma hora.
Em outras regiões, como na da Avenida Faria Lima, também na Zona Oeste, a dificuldade para estacionar ganha contornos críticos. Dos cerca de 25 estacionamentos ao longo da avenida, ao menos dez estão com vagas esgotadas para mensalistas e têm listas de espera com mais de 20 nomes - que podem demorar até dois anos para serem atendidos. Ali, os valores cobrados para vagas mensais variam entre R$ 350 e R$ 600. Nas ruas do entorno, algumas das 1.855 vagas de Zona Azul são usadas por flanelinhas, que vendem os cartões com ágio de até 300%.
Além desse abuso, muitos deles são pagos por empresas para reservar vagas aos seus funcionários nas vias públicas. A rotina desses guardadores nas imediações da Faria Lima inclui chegar cedo para reservar as vagas na rua, ficar com as chaves dos carros e estacionar com bastante espaço entre eles, para encaixar os próximos veículos que chegam. As "mensalidades" variam de R$ 100 a R$ 320 por vaga e incluem até recibo do flanelinha no final do mês.
A Secretaria da Segurança Pública diz que desenvolve desde 2011 a Operação Flanelinha durante jogos de futebol, eventos culturais e sociais e em áreas de lazer. O objetivo é erradicar a prática irregular da profissão de guardador de carros. Em 2011, 516 pessoas foram presas - 194 com antecedentes criminais - durante 21 operações realizadas por policiais civis e 11 promovidas pela Polícia Militar. Neste ano, foram registradas 29 ocorrências, com 114 averiguados. Além disso, foram levados para a Fundação Casa três menores infratores.
Prefeitura pretende criar 1,5 mil vagas subterrâneas
Para tentar amenizar o problema da falta de espaço para estacionamentos na cidade, a Prefeitura pretende abrir 1,5 mil vagas subterrâneas na região central. Uma garagem já está pronta, sob a Praça Roosevelt, e outras duas serão construídas, uma embaixo do Mercado da Cantareira e a outra no subsolo do Largo São Bento. O processo de concessão à iniciativa privada está em licitação. Além disso, a Prefeitura quer adotar um sistema de estacionamentos integrados com transporte público em áreas mais periféricas da cidade.
"A ideia é criar bolsões próximos a estações de Metrô e de trem para que as pessoas deixem seus carros e usem o transporte público nas áreas mais congestionadas", afirmou o engenheiro Érico Zamboni, da TTC Soluções de Mobilidade, que trabalhou nos estudos que subsidiam as ações da Prefeitura.
A CET, por outro lado, informou que elabora permanentemente estudos para avaliar a necessidade de criação ou retirada de vagas de Zona Azul, "uma vez que é preciso acompanhar a dinâmica da cidade disciplinando o estacionamento e democratizando o uso do espaço viário ao implantar a rotatividade das vagas". Em 2009, eram 34 mil vagas e hoje são 36 mil.
Fonte: Diário de S. Paulo, 6 de maio de 2013