Por Jorge Hori*
"Bem-intencionado, mas ineficaz." Esta colocação feita por Joaquim Levy a respeito de Dilma se aplica bem ao prefeito Haddad. Especificamente em relação à promoção do uso das bicicletas, como meio de transporte para trabalho. Na última semana, ele teve um importante apoio à sua causa, por parte do Ministério Público e da Justiça Estadual. Uma promotora, ao pedir ao Judiciário a suspensão da execução das ciclovias e ciclofaixas, sem os estudos de impacto, provocou a mobilização dos cicloativistas, que foram aos milhares à Avenida Paulista com as suas bicicletas, para se manifestar a favor das ciclovias. Acabou sendo simbólico porque antes mesmo da sua realização o presidente do Tribunal de Justiça já havia revogado a decisão da primeira instância.
As manifestações na Paulista têm sempre um efeito positivo, mas também negativo, do ponto de vista da imagem social. Lá, qualquer movimento de mil pessoas fecha a avenida, e as imagens do grupo compacto que forma a manifestação dá ideia de volumes muito maiores. Mas uma panorâmica mostrando espaços vazios e o tamanho da ocupação pode mostrar uma quantidade relativamente reduzida em relação ao conjunto.
A manifestação na Paulista tem impacto, mas o importante é o reflexo real no uso das ciclovias. Os adeptos do ciclismo passarão a utilizar mais as ciclofaixas depois da manifestação ou continuarão deixando as suas bicicletas em casa, no dia a dia, só saindo com elas para os movimentos de rua.
O prefeito ficou animado e vai seguir pintando as vias, tirando as vagas de estacionamento e parada de carros. Continuará com a sua cruzada contra os carros, acreditando que está fazendo o certo. Está fazendo o certo de forma errada. E vai comprometer a boa ideia. Nenhum outro prefeito que o suceda vai dar continuidade ao seu atabalhoado programa, com o consequente abandono da manutenção das ciclofaixas. Elas vão continuar atrapalhando e sem uso. O mais provável é que não sejam revogadas, mas simplesmente abandonadas.
Com a ação do Ministério Público, o prefeito teve uma grande oportunidade para acertar a sua estratégia, estudando melhor os dados, avaliando os resultados e priorizando os casos bem-sucedidos.
Mudança cultural se faz com a transformação de minoriaem maioria. Essaminoria não pode ser apenas de manifestantes eventuais na Avenida Paulista, mas de uso efetivo das ciclovias e ciclofaixas.
O prefeito não conseguirá alcançar a mudança na base do voluntarismo. O resultado não será a aceleração da desejada cultura da bicicleta, mas o seu retardamento pelas resistências passivas.
Ele parte de uma visão preconceituosa de que as vagas nas vias públicas são desnecessárias e ele dá melhor uso, pintando-as para uso das bicicletas. O espaço que era usado agora fica vazio. Antes tinha uma função social. Agora não tem mais: só esperança.
O resultado efetivo, em curto prazo, do açodamento do prefeito tem sido e será a redução de vagas na via pública, sem redução significativa de carros em trânsito e movimentação maior desses, em função da procura pelos motoristas de uma vaga. O trânsito onde são instaladas as ciclofaixas só piora. E as perspectivas de médio prazo se transformam em longo prazo ou indeterminado.
* Jorge Hori é consultorem Inteligência Estratégicae foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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