Por Jorge Hori*
O prefeito Haddad, eleito pela maioria da população paulistana, supostamente em nome dessa maioria, usando as prerrogativas discricionárias que o cargo lhe outorga, interditou a Avenida Paulista para os carros, deixando-a para inteira ocupação pelos pedestres e pelos ciclistas. E declara a intenção de fazer o mesmo com outras grandes avenidas da cidade.
Ele afirma que a Avenida é de todos e não só dos automóveis. É uma colocação mercadológica que tem apoio em grande parte da mídia, mas que não corresponde à verdade.
O público que aproveitou o belo domingo de sol, mas não muito quente, era formado de pessoas predominantemente de classe média, muitas das quais foram de carro até as proximidades, deixaram-no estacionado na rua e foram a pé para o passeio pela avenida. Algumas carregando as suas bicicletas.
A interdição atende, predominantemente, os moradores dos mini ou pequenos apartamentos do centro expandido da cidade que buscam mais áreas públicas de lazer.
Além dos usuários, os que mais ganham são os ambulantes, que se adonam inteiramente das calçadas. Também ganham os bares, lanchonetes, bancas de jornais e revistas. Alguns nem abrem em domingos normais, mas ganham com um movimento maior de pedestres que não precisam carregar pacotes mais pesados. Os mais leves podem ser carregados nas bicicletas. E seria uma alternativa para lojistas. Mas faltam estacionamentos para bicicletas.
Os mais prejudicados são os motoristas, que perdem a oportunidade de passear pela Avenida Paulista, e os estacionamentos. Parte daqueles são integrantes da maioria que elegeu Haddad e terão dúvida em reelegê-lo. São os "domingueiros".
Haddad, apesar da sua formação acadêmica, é um elitista que não entende a cultura do povo. Ele acha que os motoristas são da elite. E que, na visão dele, é contra o povo.
Ao contrário. Quem estava a pé e de bicicleta na Avenida é a elite. O povo, com o seu carrinho, estava indignado de não poder andar na "sua avenida".
O grande aumento da frota de automóveis não decorreu da compra do carro pela elite, mas pela chamada classe média emergente, patrocinada pelos governos petistas, mediante melhoria da renda e de financiamentos favorecidos.
A grande marca da classe média emergente é ter conseguido realizar o seu grande sonho de consumo: ter um carro.
Mas, como não tem recursos para usá-lo diariamente, ademais com o aumento dos combustíveis e menor disponibilidade de vagas gratuitas nas vias públicas, reserva o seu uso para os fins de semana: no sábado mais para as compras e no domingo para o passeio com a família. Um dos lugares preferidos, a "sua avenida", a Avenida Paulista. Que agora não é mais deles nos domingos porque o prefeito a quer para "todos". Os todos dele.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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