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Planos de Paulo Guedes e o atual cenário econômico

 

Por Jorge Hori* - O plano B de Paulo Guedes é, na realidade, o seu plano AAA, que, por razões conjunturais, está ofuscado pela Reforma da Previdência. Essa é apenas uma parte do seu plano.

A "visão de mundo" de Paulo Guedes sobre o Brasil é que este foi submetido a um modelo "social-democrata", implantado pelos militares, sob a liderança de Getulio Vargas, em 1930, e sobreviveu ao longo de todos os quase 90 anos, com altos e baixos, mas sempre predominante. Em alguns momentos, caminhando mais à esquerda, beirando o socialismo, e, em outros, mais à direita, para um semiliberalismo. Mas sempre com uma ampla e forte participação do Estado, absorvendo uma grande parte da economia, em detrimento do setor privado.

Paulo Guedes, um economista de formação liberal, radical e obsessivo, quer terminar de vez esse ciclo social-democrata, com a implantação ampla e definitiva do modelo liberal, na economia e sociedade brasileira.

Em 1984 tentou convencer o então presidente Fernando Henrique Cardoso e sua equipe econômica a aproveitar a oportunidade da grande mudança, para combater a inflação desenfreada, o ápice do modelo varguista, para sepultá-lo e estabelecer o novo modelo, de base liberal. Acabou sendo afastado da equipe do Plano Real.

Incorporou-se a uma oportunidade ímpar na história brasileira, com um candidato a presidente da República, populista e sem noção de economia. Disposto a adotar, plenamente, o modelo defendido por Paulo Guedes. Ele acabou por contribuir decisivamente para a eleição de Jair Bolsonaro, por ter mitigada inicialmente a resistência do mercado e depois ter obtido o apoio pleno desse, dentro da visão antipetista.

Diante dessas circunstâncias, Paulo Guedes se acha com plenos poderes para implantar definitivamente o modelo liberal na economia, com a efetiva minimização do Estado.

Dentro dessa concepção, seja por expectativa do mercado, que pode ser caracterizado como exigência, como da comunidade econômica hegemônica, apresentou como prioridade a redução dos gastos do Estado com a Previdência. O seu objetivo em relação à Reforma da Previdência é um só: reduzir os encargos públicos em 1 trilhão de reais, em dez anos. Como? Fez a sua proposta. Aceita qualquer alteração, desde que mantenha a meta do trilhão. A sua preocupação maior não é com a Previdência e assistência social: é, obsessivamente, o caixa do Tesouro Nacional.

O seu plano principal é uma economia brasileira liberal, com uma Petrobras enxuta, o crédito rural, sem dependência do Banco do Brasil, a moradia independente da Caixa Econômica, o BNDES com uma participação complementar no financiamento da infraestrutura, as rodovias, ferrovias, aeroportos, portos e todas as demais instalações de logística inteiramente investidas e operadas pelo setor privado, o setor de energia plenamente privatizado e por aí vai.

A visão de Paulo Guedes, corroborada pelo presidente Bolsonaro, de que eles ganharam a eleição e o Congresso tem a obrigação de homologar a proposta do vencedor, enfrenta a visão dos parlamentares de que eles também ganharam a eleição. E não estão de pleno acordo com as propostas de Guedes.

A proposta do trilhão de Guedes já perdeu - inteiramente - as condições de aprovação. O que poderá ser aprovada é mais uma reforminha da Previdência.

Diante desse fracasso, o foco de Guedes será a reforma tributária, que incorporará propostas que contrariam o mercado e os evangélicos. Dificilmente passará.

A saída para a economia brasileira será dos agentes econômicos "esquecerem" o Estado, não ficar esperando que esse resolva os seus problemas, para aquela funcionar.

Ao contrário do que se propala, a participação direta do Estado na macroeconomia é baixa. A economia brasileira sempre foi predominantemente privada. Mas criou-se uma cultura de dependência psicológica dos agentes privados. Se quiserem sobreviver e se desenvolver terão que aceitar e conviver com alta carga tributária e com a burocracia estatal. A carga tributária é alta na média, mas desigual por setores da economia. É muito alta para a indústria, praticamente zero para a agropecuária e baixa para os serviços.

A economia brasileira já é predominantemente de serviços e o seu desenvolvimento ocorrerá quando os empresários desse setor deixarem de ser influenciados pelos comportamentos dos industriais.

 

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.


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