Superada a ilusão de que a crise financeira mundial não irá afetar a economia brasileira, cabe avaliar aqui qual poderá ser o impacto sobre os estacionamentos privados.
Num primeiro momento, a consciência da crise leva a uma contenção de gastos dos consumidores e das empresas. Gastos que podem ter alternativas a custos menores.
Racionalmente, uma das primeiras medidas seria a redução de deslocamentos (viagens) dentro das cidades. Substituindo pelo trabalho, compras ou outras atividades, sem sair de casa, usando a internet.
Tendo que sair, a alternativa de menor custo seria usar o transporte coletivo, em vez do carro particular. Reduzindo os custos com combustíveis e manutenção posterior do carro.
Ou ainda, tendo que sair de carro e não contando com um estacionamento próprio, buscar um estacionamento na via pública, ainda que isso determine uma caminhada adicional a pé.
Todos esses fatores conduziriam a uma redução na demanda por vagas em estacionamento. E determinariam uma queda global no movimento das garagens privadas.
Dois fatores retardam esse movimento recessivo: de um lado, uma grande parte das pessoas estabelece uma blindagem pessoal, achando que a crise afeta os outros, e não a ela. A não ser que, com a crise, seja demitida.
Em segundo lugar, as reações nem sempre são racionais. Não vêem como possível ou desejável desenvolver as atividades em casa. E substituir o transporte individual pelo coletivo é percebido como uma degradação social inaceitável, uma humilhação.
O que resta, para reduzir os custos, é o estacionamento em via pública, com um trajeto maior a pé.
Então, onde há estacionamentos permitidos em via pública, sem cobranças, num raio da ordem de 500 m do local do destino, deverá haver uma perda para os estacionamentos privados. O custo da comodidade será substituído, até justificado pela conveniência de exercícios.
A limitação de vagas nas vias públicas, obrigando a percursos maiores, inclusive por restrições regulatórias (estacionamento proibido), poderá fazer com que, a despeito da vergonha ou perda de status, o usuário substitua o carro particular pelo coletivo.
De outra parte, os estacionamentos, diante da redução da demanda, podem reduzir os preços, para reatrair os clientes.
Dessa forma, os impactos não serão imediatos, pela natural resistência das pessoas de mudarem de hábito, a não ser com a perda da fonte de renda, o que ocorrerá numa segunda fase.
Os impactos, ademais, não serão generalizados, mas diferenciados. Deverão afetar mais diretamente os estacionamentos nas áreas de maior demanda, onde os preços são mais elevados.
Por motivos de comodidade, alguns usuários aceitam pagar até R$ 13,00 a primeira hora e R$ 4,00 a hora subseqüente, quando a 100 metros de distância há concorrentes com R$ 8,00 a primeira hora e entre R$ 2,00 e R$ 3,00 as horas subseqüentes. Com diárias de R$ 15,00, metade das mais caras, que alcançam R$ 30,00.
Com a percepção da crise, esses com valor maior tenderão a ter uma queda mais acentuada que os mais baratos, promovendo um achatamento nos preços.
A crise de crédito chega numa hora imprópria para as empresas de estacionamentos, que têm nos custos da mão-de-obra o maior item operacional. Precisam de crédito para poder pagar as duas parcelas do décimo terceiro salário.
E, com a eventual redução da receita, terão que renegociar os aluguéis contratados em bases fixas.
Diante da crise, uma adequada política de estacionamentos poderá melhorar substancialmente o trânsito em São Paulo.
Dificuldades ou elevados custos de estacionamento não inibem as viagens individuais, num ambiente de crescimento. Mas têm maior influência sobre as decisões individuais em períodos de dificuldades. Que serão maiores em 2009.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.