Enquanto isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a taxa de urbanização do Brasil deve chegar a 90% nos próximos cinco anos, o que leva a uma conclusão: com tanta gente nas cidades, é preciso criar políticas públicas que possibilitem uma convivência harmônica nesse espaço. Garantir o direito de ir e vir de tantas pessoas, portanto, deve ser encarado como prioridade pelos governantes.
Especialistas no tema são unânimes em afirmar que é necessário dar prioridade ao transporte de massa. Como algumas cidades já oferecem diferentes opções de modais - ônibus, metrô, trens, bondes e barcas -, a avaliação é de que é preciso melhorar a qualidade do serviço, elevando os investimentos para ampliação de cada um deles. Em recente entrevista, a assessora jurídica da organização Terra de Direitos, Luana Xavier, entidade que integra a Plataforma Dhesca (Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais), reconheceu que as políticas federais nesse âmbito começaram a convergir para a valorização do transporte de massa.
Para ela, os governantes parecem mais sensíveis ao tema, mas, ao mesmo tempo, incentivam o transporte individual a partir de uma política de estímulo à aquisição de automóveis, que se dá por meio da redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) que incide sobre a indústria automobilística. Ela ainda destaca que o número de carros quase dobrou de junho de 2005 até igual mês deste ano, pulando de 25,5 milhões para 46,6 milhões de unidades no período. Realizado pela Expertise, em parceria com a Opinion Box, estudo divulgado em abril mostra que 56% dos brasileiros gastam mais de uma hora por dia em deslocamento e 18% sofreram tentativa de assalto no trânsito nos últimos 12 meses.
Ainda segundo a pesquisa, 39% dos entrevistados afirmam que se locomovem principalmente de ônibus, 34% utilizam mais o carro e 11% se deslocam prioritariamente a pé. Para o presidente da Expertise, Christian Reed, o estudo dá um panorama interessante da mobilidade urbana no País e só reforça a necessidade de mais investimentos em transporte de massa como metrô e trem. "Além disso, independentemente do modal, as insatisfações são praticamente as mesmas e a população mostra que tem urgência em ver melhorias", comenta.
O estudo aponta ainda que, quando os brasileiros são questionados sobre possíveis soluções para melhorar o trânsito, alguns dados não deixam dúvidas: 92% são a favor de faixas exclusivas para ônibus e 92% concordam com a instalação de ciclovias. Além disso, seis em cada 10 brasileiros são a favor do rodízio de carros - mesmo entre os que utilizam automóveis, 45% são a favor.
Por fim, entre os entrevistados, quase metade, ou 45%, dizem ser a favor da diminuição das vagas para estacionamento em regiões mais movimentadas da cidade. "A mobilidade urbana não é uma questão isolada ou só do governante, é uma necessidade básica da população. De sua qualidade depende, em grande parte, o funcionamento das metrópoles e a qualidade de vida do ser humano", avalia o presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), Lélis Marcos Teixeira. "A mobilidade urbana deve ser pensada de forma coletiva e em prol da sociedade para melhorar a qualidade de vida da população", completa Teixeira.
Fonte: Jornal do Commercio Brasil (RJ), 17 de setembro de 2014