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A cruzada da Prefeitura de São Paulo contra os motoristas de carro parece não ter fim. A última estocada da gestão do petista Fernando Haddad foi o aumento de 67% no preço dos cartões para estacionar nas vagas da Zona Azul. O porcentual é duas vezes superior à inflação registrada desde outubro de 2009, quando houve o último reajuste. A partir de 1.º de agosto, o preço oficial da folha avulsa, válida para uma hora de estacionamento, passará de R$ 3 para R$ 5. O talão com 10 folhas subirá de R$ 28 para R$ 45.
Esses são os preços cobrados por revendedores autorizados, que são raros na cidade. O mais comum é conseguir comprar na mão de flanelinhas, que vendem cartões de Zona Azul por até seis vezes o valor oficial, uma extorsão que raramente sofre algum tipo de repressão.
O reajuste da Zona Azul muito superior à inflação indica que não se trata apenas de uma recomposição de preço, como deveria ser, e, sim, de uma política deliberada para desestimular o uso de carros em São Paulo. É uma punição para quem opta pelo carro não por gosto, mas porque a alternativa é o lento e desconfortável transporte público oferecido pelo município. Além disso, já se espera um efeito cascata sobre os preços dos estacionamentos da cidade, em especial os da região central, onde o déficit de vagas é maior.
Esse aumento de custos, porém, não deverá desestimular os motoristas a deixarem o carro em casa simplesmente porque, apesar de todo o esforço marqueteiro da Prefeitura, o serviço de ônibus na cidade continua muito ruim. Quando pode, o paulistano compra um carro.
O resultado disso está nos números da SPTrans, responsável pela administração das linhas de ônibus. Segundo seu balanço semestral, o número de passageiros transportados caiu de 1,437 bilhão, entre janeiro e junho de 2013, para 1,418 bilhão no mesmo período deste ano. A SPTrans argumenta que em junho deste ano houve antecipação das férias nas escolas públicas, em razão da Copa do Mundo, o que teria reduzido a utilização dos ônibus.
No entanto, levantamentos anteriores, sem os efeitos sazonais da Copa, mostram que o número de passageiros e de viagens de ônibus não cresceu na proporção que se esperava ante o sacrifício imposto à cidade na forma de grandes congestionamentos, causados em parte pelas faixas exclusivas de ônibus. No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, houve um aumento de apenas 2,7% no número de viagens em relação ao mesmo período de 2013. Especialistas creditam o aumento ao seccionamento de várias linhas, o que forçou os passageiros a pegar mais ônibus para ir ao mesmo lugar.
Além disso, é bom destacar que o alardeado aumento da velocidade dos ônibus - que poderia ser um bom motivo para que o paulistano deixasse o carro em casa - só existe no discurso oficial. Um estudo da própria SPTrans indica que, na média, a velocidade nas faixas exclusivas aumentou apenas 1 km/h. É muito pouco para o transtorno que as faixas causam, em especial onde elas foram implementadas sem nenhum planejamento.
Mas a Prefeitura não desiste. Além das faixas pintadas ao deus-dará, a administração petista anunciou que pretende construir 400 km de ciclovias, o que deverá resultar na supressão de até 40 mil vagas de estacionamento pela cidade. Mais uma vez o improviso se impõe, pois não foi apresentado nenhum estudo de viabilidade. A intenção evidente é permitir que Haddad e seu time de secretários criativos possam posar de defensores dos "sem-carro", o que pode pegar bem como propaganda, mas é terrível para a cidade.
A administração municipal decidiu tratar os motoristas de carros como párias, pois nenhuma decisão a respeito do transporte na cidade tem levado em conta que um terço dos deslocamentos é feito por esse meio. Está claro que não há a menor intenção de harmonizar o transporte público com os automóveis. E, se ainda for possível aumentar a arrecadação municipal à custa do bolso do motorista de carro, com o reajuste brutal da Zona Azul, tanto melhor.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 29 de julho de 2014

Categoria: Cidade


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