A economia perdeu fôlego, o desemprego aumentou, a renda diminuiu, mas a inflação de serviços que deveria cair por causa do freio no consumo ainda não cedeu tanto quanto poderia. O índice, calculado pelo IBGE com base em itens como alimentação fora de casa e transporte escolar, até começa a mostrar sinais de desaceleração, mas resiste em patamar próximo aos 8% no acumulado em 12 meses. Para economistas, o tarifaço de água e energia é o principal fator para a manutenção de preços num patamar elevado: com custos mais altos, prestadores repassam as despesas para o consumidor, mesmo com o risco de perder clientes.
Em junho, o índice do setor subiu 0,8%, acima da inflação oficial daquele mês, medida pelo IPCA, que foi de 0,79%, influenciado principalmente pelas passagens aéreas, que têm comportamento muito volátil. No acumulado em 12 meses, no entanto, um ligeiro alívio: a taxa passou de 8,22%, em maio, para 7,9%. Mas, na avaliação dos especialistas, é cedo para falar em trégua. “Em julho de 2014, tivemos queda de 0,06% nos serviços. Provavelmente em julho deste ano não vai haver queda alguma. Então, devemos voltar ao patamar de 8%”, diz André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Tatiana Pinheiro, economista do Santander, concorda. Ela calcula que a taxa média mensal da inflação do setor está em 0,72% até junho, maior que a do ano passado inteiro (0,67%). “Pode desabar? Sim, mas ainda estamos vendo uma resistência”, avalia. Normalmente, a inflação sobe quando a demanda aumenta. Ou seja, quanto mais pessoas querem consumir um determinado serviço, mais o preço tende a subir. O IPCA dos últimos 12 meses acumula alta de 8,89%, acima do teto da meta para este ano, de 6,5%. Só que esse fenômeno também pode ser puxado pelo aumento dos custos, e é exatamente isso que está acontecendo, explica Luiz Roberto Cunha, professor de economia da PUC-Rio: “A base dos serviços é o salário, principalmente o salário mínimo. Esse é um fator de inércia forte. Vamos ter talvez um desaquecimento dos serviços. Isso não surgiu ainda por causa do aumento forte da energia elétrica”.
Fonte: O Globo (RJ), 12 de julho de 2015