Por Jorge Hori*
O terceiro fim de semana de fechamento da Av. Paulista para os carros, deixando-a exclusivamente para o lazer, teria sido um sucesso, apesar de já ter deixado de ser notícia. A cobertura pela mídia foi escassa.
O segundo fim de semana foi de chuva e frio. E poucos foram. Não há área de lazer aberta que aguente tempo ruim e, nesse caso, a "praia de paulistano é o shopping center".
No terceiro o sol voltou, tornando a temperatura mais amena e muitos aproveitaram a nova área de lazer.
Não foi noticiada nenhuma estatística com a estimativa de pessoas. Mas pela manhã houve a concorrência do jogo no Morumbi, que levou ao estádio cerca de 60 mil pagantes, com muitas famílias com crianças.
O fato real é que com tempo bom o paulistano quer sair às ruas, e os locais de lazer, a exemplo dos parques como o Ibirapuera, ficam lotados. É provável que os demais também fiquem, mas não são notícia. Se não são notícia, a população - fora os frequentadores - não fica sabendo.
Para a classe média moradora dos Jardins (que não tem mais jardins públicos, com os remanescentes privatizados, dentro dos imóveis cercados) a Avenida Paulista é uma nova opção. E cabe uma primeira pergunta: como os frequentadores chegaram até a Avenida? Chegaram a pé, de bicicleta ou de carro, estacionando nas proximidades?
Encontraram local para estacionar? Na via pública, onde no final de semana é liberado o estacionamento? Ou buscaram os estacionamentos pagos e os encontraram fechados, porque esses não funcionam no final de semana.
O usuário contumaz dos estacionamentos privados tem como principal motivação a segurança. Evita deixar o seu carro de alto valor na via pública. Mesmo que encontre vaga. Prefere pagar o preço para se sentir mais protegido. Mas não encontra o serviço no final de semana, a não ser nos "shopping centers" e outros polos de comércio.
Com o crescimento da demanda, vão logo aparecer "os donos da rua", também conhecidos como flanelinhas. A elite não gosta deles e até deixar de ir aos locais onde eles tomam conta.
Os flanelinhas vão afastar parte dos frequentadores da nova área de lazer? Ou os estacionamentos pagos vão abrir no domingo para atender aos frequentadores?
Um dado importante para avaliação da demanda é o perfil dos frequentadores do Parque Ibirapuera. Nos domingos, pela manhã, o parque é tomado pela elite e pela classe média que vai praticar esportes e passear com os seus cachorros. Porém, vão embora por volta da hora do almoço.
Aí chega uma segunda leva, formada - principalmente - pelas trabalhadoras domésticas, dentro da folga semanal, e os trabalhadores por conta própria. Chegam e vão embora de transporte coletivo. No caso da Av. Paulista, essa demanda será facilitada pelos serviços metroviários.
E se algum estacionamento privado resolver abrir as portas, pode fechar por volta das 13 ou até às 14 horas porque depois disso não terá demanda.
* Jorge Hori é consultorem Inteligência Estratégicae foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.