"Ao darmos partida em nossos automóveis, dificilmente nos preocupamos sobre o risco de sofrer acidente. A sensação de liberdade surge ao acelerarmos. A emoção é crescente a cada quilômetro por hora. Contudo, vem a freada brusca porque o veículo à frente parou. Trocamos, então, o nosso bem-estar pelo temor de um acidente.
A sensação de culpa desvanece ao aceleramos novamente, não raro mais forte, para provar inconscientemente de que não estávamos errados. Sabemos dos riscos de um acidente quando trafegamos acima da velocidade permitida, além da desnecessária força gerada pelo motor e maior gasto de combustível.
Acidentes rodoviários têm gerado perda mundial de 1,2 milhão de vidas e 1,5% do PIB a cada ano. Portanto, o poder público tem obrigação de promover políticas específicas para minimizar estes impactos, com desenvolvimento e aplicação de amplos programas de redução de acidentes. Os campos de atuação destes programas devem abordar o fomento à educação de forma ampla e a melhoria da instrução e reavaliação das habilitações e a fiscalização ostensiva.
Os radares têm sido fundamentais para a fiscalização contínua da velocidade veicular. O seu uso e implantação devem seguir diretrizes que visem gerar aceitação pública. Muitos motoristas brasileiros apenas reduzem a velocidade defronte a radares apenas para não serem multados, não acreditam na importância destes equipamentos nem nos elevados riscos que correm quando seus veículos estão em alta velocidade, principalmente em vias urbanas.
Ações que tornem o motorista parceiro de programas de redução de velocidade e não inimigo são fundamentais para a eficácia da fiscalização e reduzem custos. Há interessantes exemplos em nosso País. Em Brasília, é visível o respeito generalizado quanto aos limites de velocidade. Radares instalados ao longo das principais avenidas apresentam-se em grande quantidade, mas em locais onde não tendem a gerar opinião de que lá foram colocados apenas para gerar multas. Portanto, instalar muitos radares, mas com cuidado de buscar a aceitação pública, podem atingir as tão almejadas metas de redução de acidentes para melhorar a já abalada qualidade da vida moderna."
Fonte: Jornal do Commercio (RJ), 4 de dezembro de 2008