Como é tarefa da indústria de transportes/automotiva achar soluções para que seu processo não seja extinto - e porque a tecnologia atual já permite -, ganha força a ideia de que abrir mão de guiar não significa abrir mão de ter o carro. Assim, veículos autônomos, que dispensam a ação do motorista ao volante, seriam o futuro. Mas a ideia vai além: o homem seria dispensado até mesmo da supervisão, ficando apenas no papel de passageiro. E não no futuro distante, mas em seis anos.
O ELO FRACO
Por que não dirigir? Pelo teclado frio da calculadora, a decisão de "eliminar" o homem do processo parece ser justificável. Até 95% dos acidentes de carros são provocados por alguma falha humana - da imperícia ao volante (motorista) à falha no projeto do veículo ou da pista (engenheiros). Assim, "eliminar as falhas humanas parece ser a forma mais segura de fazer o carro chegar inteiro ao destino", afirmou com leve ironia o responsável pelo desenvolvimento de tecnologias de segurança e apoio ao motorista da Volvo, Eric Coelingh, na última semana, em Gotemburgo, na Suécia.
Mas a ideia de abrir mão do volante já faz parte do cotidiano de muitos jovens e parece... prazerosa. A imagem de diversão ao dirigir e da necessidade de se ter o carro próprio surgiram no século passado, cresceram a partir dos anos 1960 e se disseminaram pelo mundo até o começo do século 21. Tudo isso, porém, dá sinais de enfraquecimento.
Principalmente nos centros mais ricos, adolescentes e jovens acham o carro zero um "aparelho" chato e caro e preferem ter gadgets novos com conectividade e interação com amigos e parentes em 100% do tempo; o "vício" no ronco de motores potentes e do cheiro de gasolina é trocado pela noção de práticas saudáveis para o corpo e para o ambiente; a ideia de que o automóvel é um meio seguro e confortável para seguir de um lugar a outro mirra presa no tráfego pesado, enquanto o ideal de que o tempo é valioso e deve ser bem gasto com atividades diversas ganha força.
Seja pelos cálculos ou pelas ações, sem a "peça atrás do volante", só haveria ganhos: menos acidentes (menos mortos e feridos) e nenhum grau de indecisão nos trajetos. Com isso, cairiam também o tempo de trajeto, o total de vias congestionadas, o consumo de combustível dos carros, o nível de poluição gerada e até o dinheiro gasto em placas e sinais de trânsito que ficam obsoletos cada vez mais rápido.
A ficção científica sempre retratou o futuro em livros e filmes com carros rodando por conta. Há casos hilários como o de "Se meu Fusca falasse" (1968), que imortalizou o fanfarrão Herbie e o numeral 53 como sinônimos de humor e adoração sobre rodas. Mas lembre de blockbusters como "O Vingador do Futuro" (filme de 1990, com regravação de 2012, que mostra a sociedade do ano de 2084); "Minority Report: A Nova Lei" (de 2002, expondo histórias e trânsito de 2054); e "Eu, Robô" (2004, narrando o mundo de 2035). O que há em comum nos três? Primeiramente, em todos o protagonista acaba tendo algum problema com a direção autônoma e precisa assumir o comando. Fora esse "temor quanto ao desconhecido", é possível perceber que quanto mais recente o filme, menor a distância para o futuro do carro que se guia sozinho.
Na vida real, os estudos sobre o assunto - inclusive com conglomerados de empresas e blocos de países, para reduzir custos - já têm cerca de 30 anos. Mas o prazo final é menor do que o visto nos filmes: conforme UOL Carros já apontou, o tempo se encerra em 2020. Por quê? Porque esta foi a primeira data definida por uma empresa: o ano em que a Mercedes-Benz decidiu lançar a próxima geração do sedã de luxo Classe S, primeiro de seus modelos comerciais a dispensar o condutor da tarefa.
QUEM TEM
Sem necessidade de mostrar um "produto" - um carro para lojas e concessionários -, o conglomerado tecnológico americano Google não diz a que vem, apenas afirma que seu carro sem condutor pode facilitar a vida em cidades caóticas.
A alemã Audi (marca de luxo da Volkswagen) também mostrou não um carro, mas uma solução para que o motorista não seja mais obrigado a estacionar seu carro.
Já a japonesa Nissan decidiu focalizar suas ações no mote da segurança, com carros que possam realizar manobras sem riscos a seus ocupantes e a terceiros. Esse é o caminho adotado também pela Volvo, que é o padrão automotivo quando o assunto é ter os veículos mais seguros do mundo. O ano para as duas é 2020.
A Toyota vai além e promete fazer dos Jogos Olímpicos de Tóquio - que acontecem em 2020 - sua grande vitrine para "mobilidade urbana individual segura, com acidente zero e emissões poluentes quase zero também".
Prazo acertado, tempo correndo, uma coisa é certa: dirigir pode até seguir sendo divertido, mas em breve deixará de ser necessário.
Fonte: UOL, em Gotemburgo (Suécia), 13 de maio de 2014