Entre os pontos principais, ele prevê um estímulo à construção de prédios perto de eixos de transporte público, como corredores de ônibus e estações de metrô.
Doutor em urbanismo pela Universidade Colúmbia (EUA), Nadal é diretor do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento). Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Folha - O sr. defende o conceito de desenvolvimento orientado ao transporte. O que é?
Luc Nadal - O conceito é manter a cidade o mais compacta possível. A construção perto de onde já existe transporte deve ser priorizada. É importante controlar a expansão urbana para áreas para onde é muito difícil levar um bom transporte público e outros serviços. Quanto mais espalhada a cidade, maior o custo de conectar os lugares com energia, água, ruas. Além disso, é preciso ter boas condições de caminhada para as pessoas chegarem ao transporte público. Elas precisam se sentir seguras em termos criminais e de segurança viária, com boas calçadas e tráfego amigável.
No plano, há um incentivo financeiro para que novos prédios tenham no máximo uma vaga de garagem por unidade, ao contrário de hoje, em que há um mínimo.
- É um grande passo, mas tenho reservas. Quanto mais se construir, mais vagas de estacionamento vão existir. Devemos pensar se há calçadas suficientes, ciclovias e espaço para transporte público. Uma vez garantido espaço a esses meios de baixo impacto ambiental, vemos quanto sobra para carros. A partir daí, deve-se determinar a quantidade de vagas de estacionamento em cada área. Provavelmente será menos que uma por unidade.
O que acha das faixas exclusivas para ônibus à direita implantadas em São Paulo?
- Não conheço todos os detalhes, então não gostaria de avaliar o caso específico de São Paulo. Mas, no geral, o que faz sentido é ter um sistema com alta capacidade, velocidade e qualidade, e isso não pode ser atingido com faixas de ônibus do lado direito, porque várias coisas acontecem pelo lado do meio-fio: caminhões, carga e descarga, conversões, carros parando para alguém descer. O único sistema que realmente funciona é o de faixas exclusivas no meio das vias, com conversões à esquerda controladas. É o ideal. Agora, entendo que esses corredores de ônibus rápidos são empreendimentos que requerem planejamento, tempo. Entre uma coisa e outra, faixas são melhores que nada.
Outra discussão sobre o plano trata dos bairros já consolidados. Uma corrente defende que eles sejam preservados, mas o projeto pretende adensar as quadras próximas de eixos de transporte. Qual é sua visão sobre esse tema?
- Se uma área tem valor histórico ou cultural, defendo preservá-la como parte do patrimônio da cidade. Onde não há essas características, sou favorável a permitir construções altas, desde que com restrições muito estritas na quantidade de vagas de estacionamento. Há sempre uma tensão com os moradores de uma área, a primeira atitude deles é tentar congelar o desenvolvimento. É preciso negociar e buscar equilíbrio para que cada parte da cidade contribua para o coletivo.
Como é possível evitar que a população mais pobre seja expulsa das áreas onde serão construídos novos prédios?
-É importante garantir um mix de população com diferentes níveis de renda. Isso requer uma política deliberada, em parte com regulamentação, em parte com incentivo financeiro para empreendedores e investidores. Construir um prédio novo não é barato, a população de baixa renda não consegue pagar, então de alguma forma deve haver subsídios cruzados.
Uma das regras do plano é que os grandes empreendimentos terão que reservar 10% de sua área para moradia popular. O que o sr. acha da ideia?
- Parece um bom primeiro passo. Mas o percentual de 10% ainda é relativamente baixo. Na França, há uma lei federal que determina que 20% da área de cada distrito, algo como as subprefeituras em São Paulo, devem ser destinados a moradia para baixa renda. Os distritos que não atingem o índice são multados, precisam construir mais, e o valor das multas é revertido para subsidiar a moradia nos distritos que atingiram os 20%. E agora eles discutem aumentar para 25%. Em Nova York, também há uma política que exige de novos empreendimentos, grandes e médios, índices de 20% das unidades para o que eles chamam de moradia a preço acessível, que atinge não somente os mais pobres. Há uma escala de renda.
Fonte: Folha de S. Paulo, 20 de junho de 2014