De acordo com dados e projeções do órgão máximo do trânsito brasileiro, o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), além de cálculos que levam em consideração variáveis como o crescimento maior ou menor de nosso mercado automotivo, se nada mudar na legislação e -- principalmente -- no ritmo das vendas anuais de automóveis no Brasil, 15 anos é a sobrevida máxima para o conjunto alfanumérico de três letras e quatro algarismos.
A conta é a seguinte: as três letras e os quatro números permitem um total de 175.742.424 combinações (excluídas as 0000, que não são permitidas no país). Segundo o Denatran, 81.600.729 foram utilizadas até o fim de 2013. Restam 94.141.695.
Mas, se não usamos nem metade das combinações nos 24 anos de vigência do atual sistema, por que não temos garantidos mais uns 25 anos pela frente? O ponto-chave é que o número de emplacamentos de veículos acelerou na última década, com crescimento médio de 9,29% ao ano, e passou a devorar as combinações alfanuméricas muito mais rapidamente.
Um exemplo: em 2003 as vendas somaram 2,3 milhões de unidades; nos últimos quatro anos, rondaram a faixa de 5,5 milhões, ou 140% a mais (a conta inclui todo tipo de veículo motorizado). Assim, mesmo que o mercado automotivo fique estagnado nas próximas duas décadas, a "autonomia" das atuais placas não passaria de 17 anos a contar de 2014, esgotando-se exatamente em 2030.
Se o cenário se mantiver como o de um mercado em contínua expansão, com crescimento na casa de 2% em 2014 (baseado nas projeções da Anfavea, a associação das fabricantes nacionais) e média de 5% nos próximos anos, o esgotamento viria ainda mais cedo, daqui a 12 anos -- em 2026, o ano em que, nessa projeção, o Brasil atingiria a impressionante marca de 10 milhões de veículos emplacados num único ano.
O Código de Trânsito Brasileiro não permite a reutilização de placas. Mesmo que um carro saia de circulação, sua combinação de letras e números não será reaproveitada em outro veículo.
UOL Carros também questionou o Denatran sobre eventuais planos para substituir o atual modelo de identificação veicular. O órgão estima "entre 15 e 20 anos" de sobrevida para o atual sistema e afirma que os estudos ainda são incipientes -- mas diz que a ideia é que se utilize tecnologia que permita agregar, num único sistema, placa de identificação, numeração de chassis, documento do veículo e identificação do motorista. Uma prévia do que pode decorrer disso é o Siniav (Sistema Nacional de Identificação Automática dos Veículos), chamado pelo colunista Fernando Calmon de "RG do carro".
Por meio de uma etiqueta eletrônica instalada no parabrisa ou vidro traseiro, e de antenas espalhadas em pontos estratégicos das cidades, o carro passaria a emitir dados em tempo real a uma central, possibilitando, entre outras ações, a identificação rápida de veículos roubados e/ou de circulação irregular (por exemplo, com multas e impostos atrasados).
Com esse sistema de vigilância, também seria possível detectar infrações em tempo real, evitar que veículos em situação regular sejam parados desnecessariamente numa blitz, gerir com mais agilidade o tráfego nas vias das grandes cidades, ter maior controle sobre quais veículos saíram de circulação, e até mesmo permitir a entrada em estacionamentos ou a passagem pelas cancelas de pedágio sem que o motorista pare o carro (tipo um "Sem Parar estatal").
Na teoria, tudo funciona -- mas na prática há uma série de entraves, burocráticos e técnicos, que vêm postergando a implantação do projeto, tornado público em 2006 pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e que deveria estar em pleno funcionamento já este ano -- servindo inclusive como mais um legado da Copa do Mundo.
Com Siniav ou não, é importante se preparar. É bem provável que, daqui uns 20 anos, seu automóvel esteja interligado a uma grande rede de troca de informações em tempo real, servindo até como um "dedo-duro" automático. Se então haverá, ou não, um lugar para as tradicionais placas, só quem viver é que vai ver.
As cores das placas brasileiras
Cinza e preta
Modelo mais comum, identifica veículos particulares
Vermelha e branca
Veículos de aluguel e carga, como táxis, ônibus, vans e caminhões
Branca e preta
Exclusiva para veículos de órgãos como polícias, bombeiros e Forças Armadas, é muito parecida com a usada por particulares
Verde e branca
Caracteriza veículos em fase de teste e é velha conhecida dos leitores de UOL Carros Azul e branca
Placa utilizada por consulados, missões diplomáticas e embaixadas
Branca e vermelha
Aviso de condutor em fase de aprendizagem, é usada em veículos de auto e motoescolas Preta e cinza
Carros com mais de 30 anos de fabricação e pertencentes a coleção
Preta e dourada
Veículos oficiais dos três níveis de governo e também das Forças Armadas
Verde, amarela e dourada
Privativa da Presidência da República e de representantes máximos de Legislativo e Judiciário
Sistemas de identificação
O Brasil já teve três sistemas de identificação de veículos antes do atual, todos usando placas fixadas à carroceria. O primeiro, de 1901, tinha até cinco dígitos e o prefixo A (aluguel) ou P (particular). Foi substituído, 40 anos depois, por uma sequência de dígitos, que podia ser dividida em duplas e conter de três a sete caracteres, dependendo da frota do Estado. Em 1969 foi adotada a combinação de duas letras e quatro números, cujas regras eram um convite à confusão: os Estados podiam atribuir prefixos às cidades, mas os que tinham mais de 676 delas (limite das combinações alfabéticas) tinham problemas; uma troca de cidade obrigava a uma troca de placa; e, por fim, veículos de Estados diferentes podiam ter a mesma combinação. Já o sistema atual vale para todo o território nacional.
Fonte: UOL Carros, 26 de maio de 2014