Por Jorge Hori* - Ao isentar a área construída com garagens do cálculo do coeficiente de aproveitamento, para efeito da concessão onerosa do direito de construir, as leis urbanas no Município de São Paulo promoveram uma grande oferta de vagas para estacionamento.
Foi uma medida adequada para atender à demanda de carros e evitar que os motoristas buscassem estacioná-los em via pública.
Com a crise econômica e a disseminação dos aplicativos de chamada de carros, o que era solução virou problema. Em diversas dimensões.
Muitas empresas ofereciam vagas a funcionários graduados, como forma de atração e manutenção de talentos. Com a crise geral e necessidade de reduzir custos, algumas cortaram os benefícios de "vaga gratuita" e outras substituíram o benefício por um "vale Uber". A viabilização do mecanismo aumentou a circulação dos veículos nas ruas e piorou a mobilidade urbana, em função dos congestionamentos.
Contrariando a expectativa de que, diante de maiores dificuldades físicas e econômicas em estacionar os seus carros, todos ou a maior parte desses funcionários migraria para o transporte coletivo, uma grande parte deles manteve o uso do carro, buscando estacioná-lo mais distante do seu destino, em vias públicas ou em vagas em terrenos. Por uma razão simples: o transporte coletivo por ônibus é de má qualidade e o alcance do metrô é limitado.
Com as mudanças nas leis urbanísticas, reduzindo o benefício para as vagas em edifícios verticais, a oferta irá se reduzir, mas não a curto prazo.
Os empreendimentos imobiliários que estão sendo lançados seguem ainda a legislação antiga, pelo direito de protocolo. Os novos, com base na legislação atual, serão lançados em 2019 e levarão cerca de três anos para ficarem prontos. Alguns poderão ser acelerados, o que dependerá do grau de aquecimento da demanda.
Até lá, o setor de estacionamentos pagos terá que conviver com um excesso de oferta. Má notícia de curto prazo, mas com a esperança de dias melhores no futuro.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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