Em sua obra, o matemático alemão Dietrich Braessm aponta que "quanto mais espaço dedicamos para automóveis, mais aparecerão novos para ocupá-los em progressão infinita". Então, o que fazer numa cidade, como Fortaleza, onde 89% de sua frota de quase 1,1 milhão de veículos é composta por carros, motos, caminhonetes e motonetas e apenas 0,72% são ônibus? Na visão de pesquisadores, a única saída é investir num sistema compartilhado, diversificado e conectado como uma teia bem articulada e azeitada.
Um deles, o urbanista, consultor em mobilidade sustentável e professor da Universidade de Madrid Mateus Porto Schettino, reafirma que é "preciso recuperar e reinventar as ruas". Espaço para circular em distintos modos, mas também para permanecer, conversar, contemplar e até brincar. "Não se trata de eliminar os carros, mas de acalmar o tráfego para que outras atividades e modais também sejam possíveis", esclarece.
E é nisso que aposta o Plano de Mobilidade Urbana do Fortaleza 2040, salienta o engenheiro civil e integrante do grupo de trabalho Francisco Suliano Mesquita Paula. Segundo ele, a meta é estruturar uma rede multimodal que incluirá Metrô, VLT, BRTs, bicicletas, carros elétricos, ônibus articulados e até bondes. "Eles, em particular, fazem parte de uma proposta para o Centro, Praia de Iracema e Beira Mar e parte da Aldeota", diz.
A principal estratégia do Plano Mestre Urbanístico e de Mobilidade é o adensamento da cidade ao longo de corredores de urbanização orientada pelo transporte público, bem como o desenvolvimento de mais autonomia das diversas centralidades que integram o território de Fortaleza. Dessa forma, a população pode ter acesso a trabalho, lazer, esporte, educação, saúde, espaços verdes, vencendo apenas pequenas distâncias, para a volta da cidade "caminhável", pelo fortalecimento de suas policentralidades. É o que garante a arquiteta e diretora de Planejamento do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor) e coordenadora técnica do Plano For2040, Lia Parente.
Segundo ela, os diversos corredores de urbanização previstos serão implantados ao longo dos seis quadriênios do Plano. Para o primeiro quadriênio (2017-2020), está previsto o desenvolvimento do corredor do Metrô Sul, além de projetos específicos ao longo ou conectados a este eixo.
Outra aposta é um aplicativo para as bicicletas, nos mesmos moldes dos ônibus, já para esse semestre, que vai incentivar ainda mais o uso das magrelas. Uma novidade é os chamados estacionamentos compartilhados. A ideia é o uso de uma mesma vaga de estacionamento por usuários diferentes em horários diferentes da manhã, da tarde, da noite e da madrugada em alguns casos. "
A proposta defende ainda o compartilhamento de estacionamentos de shopping centers, notadamente a partir de seu vazio noturno e um alerta para que não se busque sempre concentrar estacionamentos e sim dividir a demanda em inúmeros pequenos estacionamentos, livrando desta forma a cidade dos transtornos decorrentes de veículos em busca de vagas, ou manobras de entrada e saída.
Também será necessário regulamentar e estimular a construção de torres de escritórios com estacionamentos de usos compartilhados em situações diversificadas, onde os usos do solo na região urbana produzem demandas nos vários horários do dia e da noite, ou com outra forma de compartilhamento de horários. Assim podemos antecipar o exemplo da zona de proximidade da Avenida Beira Mar, após sua reforma completa e com seu consequente incremento de atratividade. Pessoas que se destinam às caminhadas no intervalo de 5 às 9 horas da manhã podem compartilhar vagas de trabalhadores em escritório, antes do início da jornada de trabalho.
Da mesma forma pessoas que usam a caminhada no intervalo de 17 às 21 horas compartilharão vagas dos trabalhadores terciários ao concluírem o expediente de trabalho. "Isto significa que o proprietário das vagas terá mais retorno financeiro sobre seu coeficiente de uso e no futuro reduziremos significativamente o número de vagas demandadas na cidade", argumenta o engenheiro civil Francisco Suliano Mesquita. Motoristas como o bancário Jaime Oliveira ou o advogado José Luís Ribeiro consideram a ideia excelente. "Então, é preciso colocá-la em prática e de forma Fonte: Diário do Nordeste - Fortaleza - 11/04/2017