Por falta de espaço para deixar tantas motocicletas, havia uma situação que só agravava a impunidade. Os policiais apreendiam motos só em casos mais graves. Nos mais simples (como atraso no licenciamento), era frequente aplicar multas e reter só o documento. "Muitas vezes a gente fazia a abordagem e ela era liberada por falta de vagas. Não tinha para onde levar a moto", diz Paulo Sérgio de Oliveira, capitão do CPTran (Comando de Policiamento de Trânsito).
Para a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o aumento de acidentes exigiu uma mudança mais rigorosa. Em 2010, houve um salto de 428 para 478 motociclistas mortos - e de 123 para 135 atropelamentos com mortes provocados por motos. Para a PM, o uso de motos em crimes foi o principal fator. "Fugir com moto é muito mais fácil", diz Oliveira. O número de motos na cidade subiu de 789 mil, em junho de 2009, para 904 mil, no mesmo mês deste ano - um aumento de 14,5%.
Acordo
O acordo envolveu a liberação pela CET de um pátio exclusivo para motos na praça Alberto Lion, na divisa das regiões central e leste - e que, hoje, já está 80% ocupado. Segundo Alberto Reis, diretor da companhia, outro terreno na zona leste será utilizado nos próximos meses. A CET também decidiu contratar seis radares portáteis, que devem chegar neste semestre, para flagrar motos - que escapam de boa parte da fiscalização eletrônica. Da parte do Estado coube a fiscalização mais severa - que resultou na operação "cavalo de aço", na capital.
Apreender moto irregular é só o básico, diz técnico
Embora a frota paulistana ganhe 157 motos novas por dia, outras 96 saem temporariamente das ruas com a média de apreensões neste ano. Engenheiro e consultor em trânsito, Luís Antônio Seraphim, diz que retirar as irregulares é só uma lição de casa básica, mas insuficiente diante da série de estímulos às motos - como a baixa qualidade do transporte coletivo.
Para Seraphim, as motos se expandiram tanto porque temos um problema crônico de mobilidade urbana. "Faltam jovens preparados para entrar no mercado de trabalho. Adquirir uma moto é ter uma renda assegurada. É um veículo ágil, com custo baixo. Esse jovem ascende socialmente na comunidade, ganha status."
Fonte: Folha de S. Paulo, 11 de agosto de 2011