Por Jorge Hori*
A principal mudança na cidade, promovida pelo atual prefeito, Fernando Haddad, é a implantação de cerca de200 kmde ciclovias e ciclofaixas, com pretensão de construção de mais200 km, completando a meta prometida de400 km. As ciclovias são segregadas do leito carroçável das vias existentes, aproveitando os canteiros, centrais ou laterais, propiciando mais segurança aos ciclistas e reduzindo o conflito com outros usos dessas vias. Conflitos esses que geram oposição à implantação.
As ciclofaixas são uma variante, compreendendo a destinação exclusiva de faixas laterais das vias públicas para os ciclistas, em muitas delas anteriormente ocupadas pelo estacionamento de carros. Segundo estimativas da Prefeitura Municipal, seriam eliminadas cerca de 40.000 vagas de estacionamento de carros públicas.
A população paulistana não tem consenso em relação a essa inovação, mas a maioria é favorável, acreditando que é uma solução adequada para a mobilidade urbana, melhorando o trânsito em geral, com redução dos congestionamentos persistentes.
Os contrários são os que se sentem diretamente prejudicados com as ciclofaixas, principalmente os moradores dos imóveis lindeiros às ciclofaixas, que passam a ter um obstáculo adicional para ingresso e saída nas suas garagens, assim como os comerciantes, que alegam perder clientes porque esses não podem estacionar nas proximidades.
Já os favoráveis não são apenas os adeptos do seu uso e os ativistas que trocaram o carro pela bicicleta e fazem grande propaganda dos seus benefícios, difundidos por uma mídia altamente favorável. Uma grande parte dos jovens jornalistas faz parte da tribo dos cicloativistas e as chefias não querem contrariá-los diante de dados de elevada aceitação pela população.
Dentre os favoráveis estão aqueles que jamais irão usar a ciclovia, mesmo para lazer, nem bicicleta têm, mas querem que os outros usem e deixem o carro em casa, para liberar o trânsito nas vias para eles.
O objetivo de Haddad é mudar a cultura do paulistano em médio prazo, gerando uma infraestrutura que dê preferência à circulação dos ciclistas e lhes dê maior segurança, sem ter de disputar espaço com os carros. Ele acredita que com essas facilidades dia a dia haverá mais adesões ao seu uso, mais pessoas passarão a usar as ciclovias e ciclofaixas, animadas pelos resultados positivos dos usuários e com a correção sucessiva das pequenas falhas e problemas.
Embora diga que o programa não tem fins eleitoreiros, a sua expectativa é de que o crescimento da adesão gere uma importante massa crítica, com milhões de usuários/mês para usar um indicador de 6 dígitos, com reflexo positivo sobre o trânsito e a mobilidade urbana geral e ampla aceitação da população, favorecendo a sua reeleição. O sucesso do maior uso das bicicletas seria a sua grande marca.
Na prática, ocorreu um fato inesperado: apesar de algumas manifestações contrárias, um elevado percentual de paulistanos, cerca de 80%, opinou a favor das ciclovias, em pesquisa realizada pelo Datafolha, em setembro de 2014. Apenas 14% dos entrevistados opinou contra.
Supostamente, essa aceitação das ciclovias, associada à expectativa de melhoria da mobilidade urbana e à sensação de que o prefeito estava no caminho certo, ajudou a recuperação da sua imagem. Nessa mesma pesquisa, o índice de aprovação da gestão Haddad teve uma significativa elevação, embora ainda em nível baixo (22% de ótimo e bom), mas com substancial queda na avaliação de ruim e péssimo, passando de 47% em julho de 2014 para 28% em setembro do mesmo ano.
Neste primeiro final de semana de fevereiro de 2015, o programa passou do sinal verde para o amarelo, tendendo para o vermelho. Não o vermelho das faixas, mas a predominância da rejeição ao programa, no próximo ano, o que resultará na sua descontinuidade.
A aprovação da população, de 80% em setembro de 2014, caiu para 66%. Pior, aumentou relativamente o número de pessoas sem bicicleta e aumentou o das que já usaram uma ciclovia. Os números, embora discutíveis, com as suas margens de erro, dizem que elas usaram e não gostaram. Essa queda de aprovação das ciclovias, associada ao aumento das tarifas dos ônibus, levaram a uma forte rejeição, elevando o índice de ruim e péssimo para 44%, acima do patamar de junho de 2013.
Em 2016, provavelmente, não haverá aumento da passagem de ônibus. Haddad fez agora, exatamente para não ter de fazer em 2016, ano da eleição. Deixará para 2017, para o prefeito seguinte, que espera seja ele mesmo. Mas precisará reverter a tendência de queda da aprovação das ciclofaixas pela população.
Para isso, ele terá de mudar substancialmente a sua estratégia. Deixar de lado as metas físicas, quilométricas, para metas de uso. Ele partiu do pressuposto, vendido pelos cicloativistas, de que havendo mais infraestrutura haveria maior uso. O que não é verdadeiro.
Ademais, para a população, para o eleitor o que vale é a sua percepção real. E essa é de faixas pintadas de vermelho, ociosas, sem nenhum ciclista usando. Com raras exceções. Sem a visão de elevado uso das ciclovias e ciclofaixas, a sua aprovação continuará caindo.
Em vez de ficar ampliando a pintura e inutilização de faixas das vias públicas, ele precisa desenvolver fortes campanhas para ampliar o seu uso efetivo. Para isso, precisa do apoio da mídia, que até agora tinha sido altamente favorável.
Todas as reportagens anteriores da Veja São Paulo a respeito das ciclofaixas eram altamente favoráveis e laudatórias à iniciativa do prefeito, chamando as pessoas a aderirem. A reportagem da capa da revista desta semana, com data de 11 de fevereiro de 2015, antes do resultado da pesquisa do Datafolha, avalia os pontos fortes e fracos, mas a chamada principal é negativa, comentando o alto custo da sua implantação e insinuando que os contratos da prefeitura para sua implantação estariam superfaturados.
Com o viés de redução da aprovação pela população das ciclovias, por não terem atendido as expectativas de deslocar boa parte dos motoristas para elas, liberando o trânsito e compensando as perdas de faixas para circulação. Grande parte dos favoráveis às ciclovias quer que os outros as usem, deixando as vias públicas mais livres para ela. Isso não ocorreu, nem há perspectivas de que ocorra em curto prazo.
A visão oficial é, ou era, de que as ciclofaixas não estariam reduzindo as áreas de circulação, mas dando maior utilidade para faixas que eram tomadas pelos carros para estacionar.
O grande mote do prefeito é substituir as vagas para estacionamento nas vias públicas por ciclofaixas, atendendo a mais pessoas e melhor à cidade. Mas, aparentemente, a população é a favor das ciclovias, que não competem com as vagas de estacionamento, e contra as ciclofaixas, que tiram as vagas.
Com as ciclofaixas sem uso, a sua aprovação continuará caindo, afetando a imagem do prefeito e colocando em risco a sua reeleição. Se isso ocorrer, o seu sucessor não dará continuidade ao programa como ora estabelecido. As vagas nas vias públicas poderão voltar, no lugar de ciclofaixas ociosas.
* Jorge Hori é consultorem Inteligência Estratégicae foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.