A lógica dos carros compartilhados é a mesma das bicicletas que rodam por São Paulo. O cliente pega o veículo em um ponto, faz o percurso e o deixa em outro local, liberado para o próximo usuário. O serviço começa a se desenvolver no país, com foco em automóveis elétricos.
"Teremos um modelo para trajetos curtos, com carros como o BMW i3 e o Smart, ambos elétricos", diz o empresário Leonardo Domingos, do LDS Group, que lançou no domingo (9) o serviço de compartilhamento em São Paulo, chamado Urbano LDSharing.
O sistema é "free floating". Significa que os carros estarão espalhados por áreas ("home zones") na cidade, e podem ser utilizados de forma espontânea, sendo devolvidos nos pontos da área operacional, realizada em parceria com uma empresa francesa de tecnologia.
O usuário vai encontrar o veículo no local mais próximo de onde estiver e devolver idem. Não há pontos determinados, e sim áreas (dentro de um bairro, um quarteirão).
Minoria verde
Devido à pouca oferta, apenas 15 carros da frota inicial de 60 são elétricos. Até o mês de setembro deste ano serão 80 no total, dentre estes, 60% elétricos, de acordo com Domingos. "Queríamos ter 100% da frota composta por veículos 'verdes'", diz.
Ele tenta viabilizar a importação de outros modelos, e entre esses está o novo Smart - os disponíveis hoje foram produzidos em 2015.
Até o fim de2018, aempresa espera ter 300 veículos, com 50% de não poluentes.
"A ideia é que o carro seja usado para corridas curtas. Se ficar rodando o dia inteiro, a tarifa será elevada", explica o empresário. Cada 20 minutos custará R$ 29. Há diferentes tarifas por utilização.
O modelo adotado em São Paulo é semelhante ao criado em Fortaleza pelo projeto Vamo (Veículos Alternativos para Mobilidade), que opera desde o fim de 2016.
Na capital cearense são 20 automóveis elétricos, de dois ou cinco lugares, e cerca de 2.000 usuários - 39% têm entre 21 e 30 anos.
"Já cheguei a usar os veículos do Vamo de segunda a sexta, eles atendem bem nos deslocamentos pelo centro urbano. Os carros de cinco lugares oferecem mais conforto, desempenho e maior sensação de segurança", diz o estudante Daniel Castelo, 21.
O projeto de Fortaleza custou R$ 7 milhões ao patrocinador, o grupo Hapvida Saúde, que atua em parceria com a prefeitura. A manutenção dos automóveis de origem chinesa é feita pela empresa Serttel.
Há estações de recarga em que o usuário retira e devolve o carro. É preciso fazer cadastro no programa e aguardar o registro ser aceito.
O cliente assina um termo de responsabilidade e depois agenda um teste com um técnico para conhecer os veículos, cuja primeira meia hora de uso custa R$ 20.
Em São Paulo, Domingos continua em busca de parceiros para expandir o compartilhamento de elétricos. O empresário prevê investir R$ 25 milhões até o fim de 2017.
"Queremos colocar quatro carros por quilômetro quadrado, para que o cliente não precise andar mais que250 metrospara chegar ao veículo. No futuro, depois de criarmos a cultura de utilização do serviço, esperamos ter entre 5.000 e 10.000 veículos."
Inicialmente, serão 15 "home zones" em São Paulo, localizadas no Jardim Europa, na Vila Olímpia, na Vila Nova Conceição e no Itaim Bibi. Depois, Moema e região da Berrini. Estão previstas quatro etapas de expansão.
A limpeza dos veículos será feita por equipes móveis, nos pontos de parada.
A expansão das opções não poluentes depende das montadoras. Elas investem no compartilhamento na Europa e nos EUA e estudam adotar o modelo aqui, mas é realidade distante a chegada de frotas movidas a eletricidade.
"Nossa intenção é desenvolver rapidamente novas estratégias de mobilidade, e queremos trazer nosso sistema de compartilhamento para o Brasil. Mas começar com elétricos seria complicar o projeto", diz Pablo Averame, vice-presidente de marketing e mobilidade da PSA Peugeot Citroën na América Latina.
Ele se refere ao aplicativo Free2Move, que gerencia serviços de compartilhamento. A estratégia busca transformar a empresa em "provedora de mobilidade", conceito em alta em tempos de mudanças na indústria.
Na Europa, o serviço é impulsionado por carros elétricos. No Brasil, não há planos – nem rede de recarga ou lei que viabilize importações ou produção desses veículos.
Fonte: Folha de S. Paulo, 09/07/2017