Nem bem o sol nasce e as laterais da Avenida Brasil começam a ser ocupadas pelos carros. Uma das principais da cidade, a via que liga a Praça Floriano Peixoto à Praça da Liberdade é cercada por órgãos públicos e edifícios comerciais, recebendo todos os dias um enorme número de pessoas, funcionários e visitantes que precisam - e nem sempre conseguem - estacionar seus veículos. O administrador Leandro Thales Botelho que o diga.
Diariamente, ele perde pelo menos 30 minutos dando voltas nas redondezas até encontrar uma vaga. “E só consigo parar a quatro quadras do meu trabalho”, conta. Ao longo de2014, aBHTrans reduziu de 136 para 132 o número de quarteirões com áreas demarcadas para o estacionamento rotativo Faixa Azul na Região Centro-Sul, o que levou a uma queda de 3% na quantidade total de vagas disponíveis, de 2.781 para 2.675.
Segundo a empresa que administra trânsito e transportes na capital, as mudanças na delimitação das áreas de estacionamento foram necessárias por causa de intervenções urbanas feitas no ano passado, como a construção de ciclovias, estações do BRT e passagens exclusivas para ônibus, ocupando espaços antes usados pelos carros. E é possível que mais vagas de rotativo deixem de existir na cidade ao longo deste ano, em consequência de obras que estão para vir no chamado hipercentro. A redução de 3% no número de vagas pode parecer pequena, mas não é.
Sobretudo se levarmos em consideração que, ao mesmo tempo em que a área para estacionamento ficou menor, a frota circulante cresceu. Entre janeiro e dezembro de 2014, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) registrou 68.406 novos veículos na cidade - um aumento de 4%, se comparados os dados de dezembro do ano passado com os do mesmo mês em 2013. Circulam diariamente pela cidade cerca de 1,6 milhão de automóveis, motos, caminhões e ônibus.
Numa tática para compensar a redução no número de vagas e beneficiar mais motoristas, a BHTrans vem revendo os períodos máximos permitidos no Faixa Azul em determinadas áreas nas quais é grande a demanda. Em muitos locais onde o talão (que custa 3,40 reais) dava direito a um limite de permanência de até cinco horas, o período máximo caiu para até duas horas. Ao fim desse tempo, o motorista tem de procurar outro lugar para o seu veículo ou ficará sujeito a multa.
É uma medida apenas paliativa, critica Guilherme de Castro Leiva, coordenador do curso de engenharia de transportes do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). “Assim, aumenta-se a rotatividade, mas o número de vagas permanece o mesmo. Esse, claro, não é um problema só nosso.”
Em maior ou menor medida, todas as grandes capitais enfrentam o desafio do crescimento da frota e da falta de espaço para estacionamento nas áreas centrais. Leiva lembra, porém, que cidades como o Rio de Janeiro investem em soluções, a exemplo das garagens subterrâneas - uma proposta que vem sendo discutida por aqui, mas ainda deve demorar para se tornar realidade.
Com menos vagas nas ruas da cidade, resta aos motoristas recorrer aos estacionamentos privados, que chegam a cobrar até 16 reais por hora na Região Centro-Sul, segundo apontou pesquisa realizada em janeiro pelo site Mercado Mineiro. “Prefiro pagar para não ter de ficar procurando vaga e correr o risco de perder aula”, afirma a estudante Roberta Lara.
Aluna da Fumec, no bairro Cruzeiro, ela gasta 220 reais por mês para deixar seu Palio parado em um dos estabelecimentos próximos à escola. Apesar do preço salgado, eles estão sempre cheios.
Debaixo da terra
Há anos a administração municipal discute a possibilidade de construir, no modelo de parceria público-privada (PPP), cinco estacionamentos subterrâneos - na área hospitalar (sob a Avenida Pasteur e as ruas Rio Grande do Norte e Padre Rolim), na Savassi (sob as ruas Antônio de Albuquerque e Paraíba), na Praça Sete, no Fórum Lafayette e na Avenida Álvares Cabral.
A proposta, porém, parece ainda longe de sair do papel. Em 2013, as negociações não passaram da fase de consulta pública.
Faltaram empresas interessadas no projeto. No fim do ano passado, a prefeitura abriu consulta pública sobre uma nova proposta, que julga ser mais atrativa.
Seriam, no total, mais 2.300 vagas debaixo da terra, administradas por uma concessionária privada por um período de 35 anos. Sugestões e questionamentos apresentados estão sendo analisados por especialistas.
Não há previsão para a conclusão dessa etapa, mas a expectativa é que a abertura da licitação ocorra até o fim do ano.
Fonte: Revista Veja (BH), 18 de fevereiro de 2015