Os estacionamentos em São Paulo têm subido de preço, por dois motivos principais: a alta valorização imobiliária, superior à inflação, o que pesa no valor dos alugueis pagos pelos operadores. Em segundo lugar, em função da carência de terrenos vagos que poderiam servir como estacionamentos, seja porque ocupados por novos edifícios, como por exigências ambientais.
Com esses aumentos, os custos com estacionamentos se aproximam dos níveis de outras grandes cidades internacionais, mas - segundo reportagem da TV Globo - não reclamariam, porque contam com transporte público de qualidade, mostrando o caso de um desempregado que teria ido até o Largo São Francisco, com o seu carro próprio, em busca de um emprego como manobrista e teve que estacionar na rua, porque não tem condições de pagar o valor do estacionamento.
Situações pontuais como essa chamam atenção, mas cabe indagar, preliminarmente, por que o rapaz foi de carro ao centro da cidade que é bem servido por linhas metroviárias. Frequento o Largo do Ouvidor, ao lado do Largo São Francisco, e há muito tempo não vou mais de carro. Tenho à disposição duas estações de metrô, o Anhangabaú, da linha vermelha, e a Sé, que atende a duas linhas: a azul e a vermelha. Quem quiser ir de ônibus, tem o Terminal Bandeira ao lado. Um pouco mais distantes estão o Terminal Pedro II e o da Praça do Correio. Não usa o transporte coletivo porque não quer.
Como se diz popularmente, "reclama de boca cheia". Diz que vai de carro porque não tem transporte de qualidade e os governos não aumentam a rede de metrô. O problema do usuário não é a extensão total, que é um problema para os "especialistas". O que ele quer e precisa é o sistema que atenda à sua necessidade de locomoção. Não cabe reclamar dos preços dos estacionamentos no Largo São Francisco e arredores (porque no Largo mesmo tem só um). Ou reclama para aparecer na "Grobo", porque se disser que fez besteira, ou que resolveu ir de carro por outros motivos, que não a carência do transporte coletivo, não irá ao ar. Se for abordado, aproveite e reclame.
Não foi por falta de opção de transporte público de qualidade que o rapaz optou pelo seu carro. Provavelmente, foi induzido ou influenciado pela mídia que forma o imaginário popular de que falta transporte público de qualidade. Falta sim, mas não em todos os locais da cidade. Transporte não é uma figura estatística, mas uma realidade concreta. Para chegar ao Largo São Francisco, o paulistano dispõe de um transporte público de qualidade. O metrô de São Paulo, que serve ao centro, tem qualidade muito superior ao de Nova York. Vai ao centro, com o seu carro, sujeito a pagar elevados preços pelo estacionamento do mesmo quem quer.
É uma opção e o preço elevado desincentiva o seu uso. Favorece o uso do transporte coletivo, mas enfrenta uma restrição cultural.
Alguns ainda têm vergonha de dizer que chegaram de metrô. Usam uma série de argumentos para justificar, mas no fundo querem mostrar que não são pobres "sem carro". Chegar de carro ainda é uma demonstração de status, de condição econômica, mas não é a decisão mais racional. Quando essas pessoas perceberem que demonstrar inteligência (deixando de lado a suposta comodidade ou preguiça) é usar o metrô, quando disponível, deixarão de ir de carro ao centro tradicional de São Paulo. E o preço dos estacionamentos, assim como o valor dos alugueis dos locais, poderá cair. E a demanda poderá voltar a subir.
Será melhor ou pior para a cidade? Provavelmente não. Estacionamento caro é uma forma de desincentivar o uso do carro a favor do transporte coletivo.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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