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Seis passos para entender como o 5G habilita a nova mobilidade

 

O 5G, quinta geração das redes de banda larga celulares, é um daqueles assuntos que ganham visibilidade, mas nem sempre com a clareza necessária. A tecnologia é alvo de polêmica ao redor do mundo, com avalanche de notícias falsas a respeito e até crises diplomáticas entre China e uma série de países por causa do tema. Em meio a uma série de informações desencontradas, uma coisa é certa: a solução será impulso para revolucionar uma série de segmentos, incluindo a mobilidade.

A seguir, o Mobility Now traz, em seis passos, as principais informações para entender as perspectivas para a tecnologia, as possibilidades que ela traz para a mobilidade e o panorama para o seu avanço no Brasil.

1 – O que é o 5G?

A quinta geração das redes de banda larga celulares e representa um conjunto de avanços em relação aos modelos anteriores. O 2G, implementado nos anos 90, era voltado à digitalização da voz, o 3G, que surgiu em 2001, era voltado à transmissão de dados, e o 4G, do final dos anos 00, trouxe ainda mais fluidez ao fluxo de dados, facilitando o uso de serviços de streaming.

Atualmente, o 4G está em 5,2 mil municípios do Brasil, onde moram 98,8% da população do País. O edital do 5G deve levar o sinal a mais 8 mil localidades, entre pequenas comunidades e trechos de estrada.

Em fevereiro, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) finalmente definiu as regras para o leilão do 5G no Brasil, que vai nomear as empresas que vão operar as redes de quinta geração. Agora, o TCU (Tribunal de Contas da União) analisa os preços das quatro faixas que serão leiloadas – 700 MHz, 2,4 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz – e precisa aprová-los.

O ministro das Comunicações, Fabio Faria, declarou em entrevista à rádio Jovem Pan que espera que a aprovação do TCU seja feita em 60 dias (ou seja, até o começo de junho), o que daria tempo hábil para que o leilão das faixas fosse realizado ainda no primeiro semestre. Na prática, porém, isso é improvável, já que se trata de um edital com grande complexidade e, por lei, o TCU tem até 150 dias para fazer a sua análise.

Deve ficar para o segundo semestre, portanto, a competição por quem vai operar a tecnologia que, segundo o ministro, “vem para mudar a cadeia produtiva do país”. Ele não está exagerando: tanto para as comunicações pessoais como para a evolução dos sistemas tecnológicos, o 5G é essencial. Mais cedo do que você pensa, ele irá revolucionar a sua vida.

2 – As vantagens da tecnologia

Enquanto o edital ainda não evolui no Brasil, a tecnologia avança passo a passo ao redor do mundo. “Já existem atualmente mais de 120 operadoras e 113 redes de 5G em 48 países no mundo e há a expectativa de que 21% dos dispositivos já estejam conectados a essa rede em 2025”, afirma Marcos Ferrari, presidente executivo da Conexis. “Em termos de tráfego, acredita-se que, em 2025, metade dos aparelhos do mundo já estarão na nova tecnologia”, diz ele.

O caminho via ondas de rádio pelo qual as informações são transmitidas dos aparelhos para antenas das teles é chamado de banda. Se você imaginar a banda como sendo uma estrada, então o 4G seria como uma via mais estreita e apertada, enquanto o 5G seria uma rodovia bem larga, com muitas pistas. Ainda são as mesmas ondas de rádio, o que muda é o aproveitamento.

As vantagens são muitas. Para começo de conversa, o 5G promete velocidades muito maiores na transmissão de dados – dependendo do especialista consultado, esse aumento pode ser de 100 a 200 vezes maior do que no 4G. Além dos downloads extremamente rápidos, da ordem de 20 GB/s, isso facilitaria o acesso a serviços da nuvem como o Google Stadia (videogame virtual que dispensa a necessidade de ter um console em casa).

Em segundo lugar, está a possibilidade de ter muito mais aparelhos conectados a um único terminal (antena). “No 4G, a densidade de terminais por célula está limitada a algo em torno de mil dispositivos por quilômetro quadrado”, afirma Gustavo Correa Lima, gerente de Soluções de Comunicações sem Fio do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), um dos maiores centros do tipo na América Latina. “Desde que começou a ser pesquisado, o 5G já trazia um requisito de suporte a uma comunicação massiva de dispositivos, demandando o suporte de até 1 milhão de dispositivos conectados por quilômetro quadrado”, explica ele.

Para completar, o 5G traz um requisito para baixíssima latência, algo que não existia nas gerações anteriores. Latência é o tempo de resposta da rede a um comando transmitido por um aparelho. Se você acessa um link pelo seu celular, por exemplo, a latência é o tempo que a rede precisa para receber, processar e começar a devolver para você o site que deseja visitar.

“No 4G, a latência (tempo de resposta) está na casa de dezenas de milissegundos, enquanto que no 5G o requisito é que suporte latências abaixo de 1 milissegundo”, afirma Correa Lima.

3 – As novas possibilidades do 5G

Falar da latência é importante porque esse é o principal pilar de um dos maiores benefícios alardeados para o 5G: a adequação ideal para a internet das coisas. Quando pensamos nesse termo, estamos falando de dispositivos com aplicações diversas, mas que estão integrados digitalmente e se comunicam o tempo todo. Pense, por exemplo, em um carro autônomo.

Estes veículos precisarão se conectar a uma cidade inteligente, por exemplo, que pode ter câmeras de segurança capazes de detectar densidades de movimento em certas áreas, semáforos inteligentes que se adaptam à demanda de pedestres e veículos, postes de luz com sensores de luminosidade e clima que também servem de estações de carregamento para veículos elétricos, além de dispositivos para controle e monitoramento de bens essenciais (energia elétrica, gás e água), entre muitas outras possibilidades.

“Você poderá ter sua conta de energia discriminada, por exemplo, em consumo da geladeira, do chuveiro elétrico e do ar-condicionado”, aponta Paula Abreu, gerente de relações governamentais para a área de segurança no trânsito da 3M na América Latina.

Ela prossegue: “Isso trará uma capacidade de gestão fantástica para as residências e, sobretudo, para as atividades industriais ou de alto consumo energética.”

As possibilidades da Internet das Coisas são infinitas. Mas a capacidade de integrar esses sistemas era muito limitada dentro do 4G. Agora, não será mais. A alta velocidade e a baixa latência vão permitir uma rede complexa coordenando e processando dados enviados de múltiplas fontes ao mesmo tempo. Os sistemas de gerenciamento das cidades passarão a ser pensados como teias e não mais como silos.

4 – Como será a mobilidade na era 5G

Um dos setores apontados como os que mais sentirão os benefícios do 5G é o da mobilidade. Os veículos elétricos e automatizados, que já são realidade em muitos lugares do mundo, necessitam da baixa latência para que possam se comunicar com a velocidade ideal. Um sistema autônomo precisa de respostas imediatas a comandos de parada ou de desvio da rota – se não for assim, há margem para acidentes.

“A tecnologia V2X (Vehicle-to-Everything) visa uma comunicação entre veículos e o ambiente ao seu redor, para trazer segurança na condução e, até mesmo, integrar o conjunto de tecnologias utilizadas na condução autônoma”, afirma Correa Lima.

“Entre as possibilidades do C-V2X, podemos ter veículos trocando informações entre si (V2V), com pedestres, ciclistas ou dispositivos próximos (V2P, V2D), com uma infraestrutura de apoio especialmente projetada para esta finalidade (V2I), ou com a rede de telecomunicação celular (V2N). Vários desses casos de uso dependem de uma rede celular com uma padronização customizada no 5G para transferência de dados direta entre dispositivos”, resume ele.

“Um comando para um carro autônomo será praticamente imediato”, afirma Paulo Humberto Gouvea, diretor de soluções corporativas da TIM.

“Além disso, o 5G suporta mais dispositivos conectados ao mesmo tempo, permitindo a atuação de sensores e câmeras dos carros e equipamentos instalados nas vias, o que auxilia na navegação dos veículos e nas tomadas de decisões dos softwares”, detalha o executivo da TIM.

Com tudo isso, dá para imaginar um futuro quase saído dos livros de ficção científica. “O que ainda não conhecemos é o melhor por vir”, afirma Paula Abreu, da 3M. “Por exemplo, a possibilidade real de pistas dedicadas de rodovias para escoamento de produção para exportação – sobretudo agrícolas, evitando ou reduzindo perdas por perecimento de produtos”, diz. Ela traz ainda a possibilidade de, com veículos autônomos, ter fluxo logístico regular, sem acidentes e com melhor precisão de tempo. “E, no âmbito urbano, também será possível melhorar a gestão de fluxo viário, por horários de pico, invertendo mãos de trânsito e atuando sobre temporizadores de semáforo, bem como no planejamento de mobilidade urbana envolvendo os meios de micromobilidade”, afirma ela.

Segundo o especialista do CPQD, a mobilidade é alvo de atenção especial nas discussões políticas sobre o 5G. “A importância da tecnologia para este tipo de aplicação é tamanha que foi até mesmo criada uma associação globaldedicada a influenciar a tecnologia, com foco nas demandas do setor automotivo, a 5G Automotive Association (5GAA)”, lembra.

Correa Lima aponta que, no Brasil, o assunto também ganha importância, principalmente depois que a Anatel destinou a faixa de frequências de 5.85 GHz a 5.925 GHz para o uso de sistemas de transporte inteligente (ITS), seguindo uma padronização mundial dessa faixa para este tipo de aplicação.

5 – O que as operadoras do 5G precisam entregar

O edital do 5G brasileiro irá ofertar quatro faixas de frequência: 700 MHz, 2,4 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. Serão, portanto, quatro leilões. As duas primeiras faixas são destinadas a melhorar a cobertura 4G e, futuramente, também distribuir 5G. As duas últimas são do 5G “puro”, sendo a primeira voltada para o público (por equilibrar capacidade de transmissão de dados e cobertura) e a segunda, para a banda larga fixa (por ter maior capacidade de transmissão, mas menor cobertura).

O setor de telecomunicações pediu e conseguiu que o leilão não fosse arrecadatório. Ou seja, em vez de ganhar quem faz o melhor preço, ganha quem tem a proposta que cumpra mais metas e investimentos no país.

Entre os requisitos decididos pela Anatel e incluídos no edital estão: a instalação de redes 4G em todos os municípios com mais de 600 habitantes, o roaming nacional obrigatório (se o sinal da operadora do cliente não estiver disponível, ele se conecta ao de outra) e a cobertura de 48 mil quilômetros de estradas com internet de alta velocidade.

Para a faixa de 3,5 GHz, vista como o “filé mignon” do 5G, as exigências são ainda maiores. Elas incluem a criação e instalação de uma rede 5G privativa para o governo federal, com protocolos de segurança maiores, e a colocação de 13 mil quilômetros de cabos de fibra ótica nos leitos dos rios da região Norte.

6 – Para viabilizar o 5G, é preciso rever regras antigas

As fontes consultadas pelo Mobility Now afirmam que o setor de telecomunicações está satisfeito com as regras do edital. No entanto, um problema foi comumente apontado entre os especialistas: as leis defasadas de antenas nos municípios brasileiros. Algumas dessas legislações possuem mais de 20 anos.

“As leis municipais anacrônicas, em várias cidades do Brasil, acabam por dificultar a implantação de torres nas periferias”, afirma Luciano Stutz, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel).

“Sem torres, sem infraestrutura de suporte, não há conectividade”, aponta ele.

“As leis antigas impedem que as antenas sejam instaladas ao criar dificuldades completamente descabidas no mundo de hoje”, concorda Marcos Ferrari, da Conexis. “A necessidade de habite-se e licença ambiental não faz mais sentido, pois as regras foram criadas quando as antenas eram bem maiores. Com isso, há muitos pedidos de antenas parados nos municípios. Em todo o país, há mais de 4 mil pedidos aguardando licenciamento”, revela o executivo.

“Embora tenhamos uma grande parcela da população atendida por cobertura celular, a cobertura territorial é relativamente baixa, inferior a 25%, e isso impacta significativamente setores que estão buscando a transformação digital, como o agronegócio”, complementa Gustavo Correa Lima, do CPQD.

Outro problema é alta carga tributária do país para o setor. “O principal empecilho para o avanço da conectividade do país é a altíssima carga tributária, equivalente a quase metade da conta (47%) que chega ao consumidor final”, afirma Ferrari. “Pagamos, em 2019, R$ 65 bilhões em tributos. Em termos comparativos, os países que mais consomem banda larga possuem tributação na casa dos 10%”, compara ele.

Quem vencer o edital irá, portanto, precisar lutar contra milhares de leis municipais para conseguir instalar sua rede e ainda enfrentar a alta carga tributária. Dará certo? No segundo semestre, o setor começará a ter essa resposta.

Fonte: Automotive Business, 12/05/2021

Categoria: Geral


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