Parking News

As cidades fecham o cerco contra os estacionamentos

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Por Jorge Hori*
Matéria publicada na Gazeta do Povo sob o título acima e replicada no Parking News da semana passada (18) repete os mantras e ilusões dos anticarros com relação ao futuro das cidades. O conteúdo do texto, na realidade, aponta para uma cidade segregada, com uma divisão de localização das diversas "tribos" pela cidade.

A tendência do mercado, agora apoiada pela regulação urbanística, como em São Paulo, é de uso misto do solo, isto é, a presença concomitante do uso residencial com o comercial, serviços públicos, lazer e outros. Ao contrário da concepção urbanística anterior - e estabelecida em lei - de segregação dos usos do solo, seja por zonas como também nos imóveis.

Tais concepção e regulação levarão a uma separação de tribos. De um lado os "multiusuários" buscarão morar em áreas de uso misto, com todas as diversas funções urbanas próximas, podendo dispensar o carro para a sua movimentação cotidiana. Poderão realizar todas as suas movimentações a pé ou de bicicleta. Jovens poderão preferir o skate. Não se incomodarão, ou se adaptarão, ao movimento de pessoas e veículos em frente das suas moradias, com as lojas com "vitrines ativas". Preferirão a sensação de uma cidade viva e pulsante e não o sossego e esvaziamento noturno.

De outro lado, os "uniusuários" ou "exclusivistas" buscarão moradia em áreas estritamente residenciais. Poderão ser bairros, com respaldo institucional, ou condomínios fechados. Terão um pequeno núcleo comercial, para o abastecimento mais imediato, mas todas as demais ficarão distantes da moradia. As pessoas dessas áreas se movimentarão de carro, principalmente para os locais de trabalho. E serão polo de trabalho para os trabalhadores domésticos que utilizarão o transporte coletivo para alcançar esses locais. Alguns irão se valer da movimentação não motorizada. À noite as ruas dessas áreas ficarão vazias. Mas sossegadas, sem ruídos.

O impacto sobre a mobilidade urbana dependerá da participação relativa dessas tribos, dentro das cidades. Qual será o tamanho da população multiusuária e quantos serão os uniusuários? Esses, ao contrário do desejado pela tribo dos anticarros, não são uma espécie em extinção. A tendência é de crescimento, com o desenvolvimento econômico.

Dessa forma, uma conclusão preliminar é básica: os automóveis não serão banidos das cidades. Irão evoluir nos seus conceitos, como no exemplo do carro autônomo, mas não deixarão de existir: isso em função de uma demanda de pessoas que querem ou precisam se movimentar dentro das cidades e continuarão preferindo meios motorizados, principalmente individualizados.

Por terem maior renda e maior protagonismo na vida das cidades, poderão ter maior influência sobre a definição das políticas públicas. Os "com carro" tendem a ter maior poder político do que os "sem carro".

A tribo dos multiusuários será formada predominantemente por jovens solteiros, semi-independentes economicamente, ou já com trabalho próprio, assim como por casais sem filhos - ambos trabalhando - na maior parte fora de casa, pessoas de mais idade, separadas ou solteiras por convicção (ou falta de oportunidade) e idosos solitários. Morarão em unidades de pequeno porte, onde permanecerão pouco tempo do seu dia (ou mesmo da noite). Não terão carro, atendendo as suas necessidades de movimentação por meios não motorizados, pelo transporte coletivo ou por transporte individual contratado, apenas em eventualidades.

As suas opções terão impacto sobre a mobilidade urbana, fundamentalmente pela redução da movimentação. As diversas atividades urbanas estarão próximas. Em segundo lugar pela menor utilização do automóvel.

Ocorrerão dois movimentos opostos, ao longo do tempo. De uma parte, os jovens de classe média "não preciso ter carro", ao formarem família e terem filhos tenderão a usar o carro para levar as crianças à escola ou ao médico. Isso são não ocorrerá se dentro das áreas de uso misto forem instaladas escolas públicas de primeiro grau que limitarão as matrículas às crianças moradoras do seu entorno. As famílias não terão opção de escolha de outra unidade, a não ser mudando de local. Ou optando por uma escola particular. Nesse caso, a tendência é a escolha de uma escola que atenda aos requisitos desejados pelos pais, mesmo que não seja próxima. E determina o uso do carro para levar ou ir buscar a criança.

Haverá uma substituição de gerações, mas, dada a redução da natalidade, as novas serão menores do que as substituídas. Os "preciso ter carro" tenderão a ser em maior número do que os "não preciso ter carro".

As transformações urbanas farão com que - num primeiro momento - haja a redução da movimentação de carros nas grandes cidades. Mas o processo terá uma reversão, a menos de serviços de transporte coletivo de qualidade.

A qualidade do transporte coletivo para o usuário é um serviço com veículos não lotados, frequentes e com estação ou ponto próximo dos seus locais de origem e de destino e de fácil acesso aos veículos. Condições essas que encarecem substancialmente o custo dos serviços. Não poderão atender as necessidades dos usuários sem subsídios públicos.

Sem o atendimento dessas condições, as cidades continuarão requerendo e usando muitos carros e necessitando de muitos estacionamentos.

Fechar o cerco contra os estacionamentos não vai reduzir o número de carros em circulação, tampouco os congestionamentos. A tendência, ao contrário, será de aumento pelo tempo e circulação de carros procurando vagas a preços compatíveis com as suas perspectivas.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.


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