A Rua Oscar Freire, na Zona Oeste de São Paulo, é famosa por hospedar marcas como Calvin Klein, Tommy Hilfiger e Victor Hugo, acessíveis somente à classe mais abastada. E, ao que parece, tornou-se conhecida também pela Zona Azul facultativa.
Acostumados com as mordomias dos serviços de valet em restaurantes, bares e até dentro de shopping, os clientes aderiram em massa ao auxílio de manobristas nas duas quadras da Oscar, entre as ruas Bela Cintra e Augusta.
Os motoristas deixam as chaves e a preocupação com possíveis multas dentro do carro e seguem para as lojas.
Durante dois dias em março, mais de 50 veículos foram flagrados, em diferentes horários sem cartão de Zona Azul, uma infração leve que retira três pontos da carteira de habilitação e R$ 53,00 da conta bancária. Em um terceiro dia, a reportagem voltou ao local, dessa vez como potencial cliente das marcas.
A abordagem foi rápida. "Você vai às lojas? Eu trabalho aqui, você deixa o carro com a gente e me dá uma caixinha depois", início o manobrista.
"Tá mais eu preciso comprar o cartão de Zona Azul antes", respondeu a repórter. "Não precisa, eu tenho aqui, se passar (o fiscal da CET) eu coloco para você", disse o funcionário.
Segundo ele, duas lojas o pagam pelo serviço. Em ambas, vendedores confirmam a história. Nas ruas, outros manobristas contam que guardam de quatro a cinco carros por vez.
Clientes também admitiram usar o serviço, e muitos não se preocupam em achar uma vaga: param em fila dupla em frente a um dos muitos pontos de valet, local onde também esperam o carro quando terminam as compras.
Um vendedor ambulante de cartões de Zona Azul que trabalha próximo dali diz que as duas quadras, quase nunca com vagas disponíveis são pouco visitadas por fiscais.
A CET informa que sete agentes patrulham a região diariamente em regime normal, e que eles multam todos os carros em situação irregular.
Até o início de abril, 177 multas foram aplicadas na rua. "Mas era para ser 177 multas por semana desse jeito", afirma a presidente da Associação dos Lojistas da Oscar Freire, Rosângela Lyra.
Embora a Associação não tenha poder de exigir das lojas a proibição da atividade irregular, ela afirmou que vai pedir maior fiscalização da CET para coibir a prática.
Fonte: Jornal da Tarde (São Paulo), 07 de maio de 2007