Demorou quase três anos para a Prefeitura de São Paulo decidir o que fazer com os US$ 100 milhões do empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - numa conta de poupança, isso renderia R$ 1,2 milhão por mês.
Mas finalmente, sem divulgação, a Prefeitura tirou do papel o primeiro projeto do Programa de Revitalização do Centro, financiado pelo BID. Dois prédios já foram desapropriados para a criação da Praça das Artes, no quarteirão entre a Avenida São João e as Ruas Formosa e Conselheiro Crispiniano, perto do Teatro Municipal.
Lá, além da restauração das fachadas e do plantio de pelo menos três dezenas de árvores, será instalada a Escola Municipal de Música e o Balé da Cidade, que finalmente ganhará sede própria.
As obras começam em setembro, ao custo de R$ 8 milhões. Será criado ainda um Centro de Documentação Artística, um anexo para o Municipal destinado a ensaios, uma galeria para exposições e um estacionamento subterrâneo com 400 vagas, reivindicação antiga de freqüentadores do teatro.
A Prefeitura já depositou em juízo quase R$ 3 milhões para desapropriar dois edifícios. Um deles é o do Cine Cairo, um dos raros cinemas dos anos 20 ainda existentes na cidade, que nos últimos tempos só passava filmes pornô.
O outro é o Edifício Moraes, ao lado do cinema, que está degradado, mas ainda tem algumas salas de escritório. Conversas para a desapropriação de outros quatro prédios do quarteirão já começaram. A chiadeira também.
"Não saio daqui, não tem conversa", diz Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários. A sede do sindicato foi reinaugurada há um ano, na Rua Formosa. Duas semanas atrás, durante um almoço, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) avisou Patah de que o prédio será desapropriado. "Foi uma bomba. Gastamos quase R$ 7 milhões na reforma, colocamos granito por toda a parte. Como a Prefeitura vai cobrir isso agora?" Kassab prometeu se encontrar novamente com os comerciários hoje para discutir a situação.
O projeto do Parque das Artes contempla a reforma do prédio do Conservatório Dramático e Musical, na São João, de 101 anos, que está totalmente abandonado. Tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), o local passará por uma grande reforma para receber a Escola de Música.
Ao lado será feito um anexo para abrigar a sede do Balé da Cidade e o Centro de Documentação Artística (que vai guardar partituras e programas de concertos históricos do conservatório). A Orquestra Sinfônica Municipal, o Coral Lírico, o Coral Paulistano e o Municipal ganharão salas de ensaio.
"A obra é importante porque faz uma ligação entre o Anhangabaú e o Municipal, além de criar um novo ponto de convivência no centro", diz o urbanista Cândido Malta. "Espero que sirva de gancho para que os outros projetos também virem realidade."
Fonte: O Estado de São Paulo (São Paulo), 09 de maio de 2007