Há sete anos Meire Nascimento não sabia sequer dar partida num carro. Hoje é responsável por manobrar e estacionar mais de 50 veículos por dia.
Meire faz parte do minúsculo contingente de mulheres manobristas na Grande São Paulo. Segundo o sindicato que representa os profissionais no Estado, elas são menos de 3% dos 7.000 profissionais do setor.
E a vida não é fácil para essas manobristas. O preconceito ainda impera. "Muitos clientes olham torto quando percebem que eu vou estacionar", diz Meire, que certa vez foi obrigada a engolir o orgulho quando uma senhora protestava aos berros dizendo que ela iria bater o carro. "Pedi para meu marido - que trabalha no mesmo estacionamento - estacionar, mas na volta fiz questão de buscar o veículo", diz orgulhosa.
Situações parecidas já aconteceram com Maria de Fátima Lourdes, que há oito anos é responsável por estacionar veículos dos clientes de um restaurante badalado nos Jardins. "O maior preconceito vem das mulheres." O motivo? "Acho que é inveja", responde em meio a risadas.
A necessidade de trabalho foi a responsável por levar essas mulheres a um mundo ainda considerado masculino. "Há sete anos eu era balconista de uma padaria quando meu marido, que é o responsável pelo estacionamento, precisou de ajuda depois que um funcionário saiu", relembra Meire, que diz que não pensou duas vezes em assumir a vaga. "O único problema é que até então eu nunca havia dirigido."
Sobrou para o companheiro, que pacientemente a iniciou na profissão. Hoje ela diz que não tem dificuldade nem com caminhonetes. Maria de Fátima afirma que modelos maiores, como os utilitários-esportivos, dão mais trabalho. "Eles são grandes e desconfortáveis, mas não me nego a manobrá-los." Até porque do ponto de vista de visual são seus modelos preferidos. "Tem uns jipões alemães que eu acho lindos", diz a manobrista, que antes de começar a trabalhar na área não era fã de automóveis.
Futuro difícil
Segundo Evanildo Joaquim da Silva, vice-presidente do Sindicato dos Empregados em Estacionamentos e Garagens do Estado de São Paulo, o preconceito é o principal responsável pela ainda baixa quantidade de mulheres atuando na profissão. "A disponibilidade menor de fazer escalas no período noturno e nos feriados também é outro fator que prejudica a contratação delas", diz. "A maioria é casada, tem filhos e não pode ficar tanto tempo fora de casa", acrescenta.
De acordo com o sindicato, a tendência é que a participação delas na profissão se reduza ainda mais. "Nos últimos anos caiu o número de mulheres manobristas na Capital", diz Evanildo. No setor, a maioria está empregada como caixa ou gerente."
Fonte: Jornal da Tarde (São Paulo), 05 de maio de 2007