Os esforços para a revitalização do vale do Anhangabaú, no Centro, ganharam novo fôlego. Enquanto os projetos da Prefeitura para a região caminham lentamente, investidores decidiram restaurar dois prédios projetados pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo: o Hotel Central e o Hotel Britânia, ambos no calçadão da avenida São João, junto ao prédio central dos Correios.
"A recuperação sustentável do Centro ocorre com o interesse da iniciativa privada, com prédios residenciais e comerciais. O Anhangabaú precisa de grandes empreendimentos imobiliários, já que é uma região importante da cidade, que liga o Centro Velho com o Novo, e possui duas estações de metrô", disse o superintendente da Associação Viva o Centro, Marco Antônio Ramos de Almeida.
Segundo ele, para que o prédio dos Correios, na esquina do vale com a avenida São João, seja mais um ponto de recuperação do Anhangabaú, tem de ser inaugurado o quanto antes. A agência central dos Correios terminou de ser restaurada em março, mas ainda não há data prevista para sua inauguração.
Outro projeto apontado por Almeida para a região é a abertura de calçadões para o tráfego de veículos em alguns trechos do vale do Anhangabaú. A abertura deve ser implementada ainda este ano, de acordo com o secretário de Coordenação das Subprefeituras e subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo.
Além dos calçadões, outro projeto do poder público, em andamento, quer devolver a efervescência cultural ao Anhangabaú: a Praça das Artes, cujo projeto executivo ficará pronto até o fim de julho.
Residências - Dois empreendimentos privados devem trazer ao vale do Anhangabaú novos ares, já que dois hotéis construídos no início do século 20, nos números 288 e 300 da avenida São João, serão restaurados e darão lugar a um prédio residencial e um hotel quatro estrelas.
A arquitetura de Ramos de Azevedo poderá ser contemplada novamente, já que, atualmente, as duas fachadas estão deterioradas. O Hotel Britânia, de 47 quartos, vai se transformar em um prédio residencial com 26 apartamentos. As obras começam esta semana.
Os apartamentos, em versões studio, um dormitório e duplex, serão lançados no mercado imobiliário pela Casatual Incorporações e Construções. De acordo com o arquiteto e sócio da empresa, Roberto Tóffoli Simoens, as unidades terão de 30 a 60 m² e preços que variam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. "É um empreendimento de caráter experimental e não sabemos ao certo qual será o público interessado. Imaginamos que sejam pessoas de fora de São Paulo, alguns funcionários públicos, ou mesmo pessoas que gostam de cultura e da arquitetura do Centro", disse.
Enquanto as unidades forem vendidas, o prédio passará por restauros e será reformulado por dentro, ao custo de R$ 1,7 milhão. As obras, segundo Simoens, durarão seis meses. O retorno, segundo o sócio da Casatual, é estimado entre um e cinco anos. "As pessoas que comprarem serão as que acreditam na valorização, seja do ponto de vista romântico ou das possibilidades de investimento na região central", disse.
Hotel - No prédio vizinho, onde funcionava o Hotel Central, as obras começam em quatro meses, com o objetivo de transformá-lo em um quatro estrelas, com restaurante, cafeteria e bar.
O projeto está sendo desenvolvido pelo escritório Brasil Arquitetura, que também participou da elaboração do projeto da Praça das Artes, da secretaria municipal de Cultura, que visa transformar a região do vale em um pólo cultural.
De acordo com o sócio da empresa, Marcelo Ferraz, o projeto de um novo hotel está sendo elaborado e ainda não há previsão de custos. "O Hotel Central tinha 60 apartamentos e o novo pode ser que tenha menos, mas será equipado com conforto, já que o proprietário quer que as pessoas que passam por ali parem pelo menos para um café", disse Ferraz. O investidor que adquiriu o prédio não quis se identificar, mas o sócio da Brasil Arquitetura garante que é do setor hoteleiro.
Correios - Dez anos depois de ter as obras iniciadas, o prédio da agência central dos Correios, na avenida Prestes Maia, teve sua primeira fase de restauro concluída. Segundo o consultor da presidência dos Correios, Fausto Weiler, a primeira fase de reforma do prédio custou R$ 16 milhões.
Até agora, foram feitas obras de limpeza da fachada, construção de 42 guichês de atendimentos e um mezanino, que abrigará acervo permanente e exposições de arte. "Ainda não sabemos a data de abertura e inauguração da agência, que depende da agenda de autoridades", disse.
Segundo Weiler, a segunda fase do projeto, que inclui a reforma dos demais pavimentos e a construção de um prédio anexo, com um Centro Cultural, com salas para apresentações de teatro, dois cinemas e um espaço para exposições de artes não tem data para começar. A estimativa é que sejam investidos cerca de R$ 40 milhões, que serão buscados em parcerias com a iniciativa privada.
Calçadão - Os projetos da Prefeitura para revitalizar a região, que caminham a passos lentos, têm promessas de serem concretizados ainda este ano. A abertura de calçadões ao tráfego local de veículos no Anhangabaú, por exemplo, deve ocorrer até o final desse ano.
A iniciativa de abrir os calçadões ao trânsito ocorre na região central desde o ano passado e já foi colocada em prática nas ruas 24 de Maio, Florêncio de Abreu e 15 de Novembro. De acordo com o secretário de Coordenação das Subprefeituras e subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, até o final do ano serão abertos dois acessos para veículos no Anhangabaú, um deles entre a rua Formosa e a avenida São João, e outro entre a avenida São João e Líbero Badaró.
O sistema construtivo será igual ao da rua 24 de Maio, que consiste na colocação de asfalto sobre o piso dos calçadões. "Vamos licitar um projeto executivo para essas obras e acredito que a abertura do calçadão do vale do Anhangabaú ocorra nesse ano. A experiência de abertura dos outros calçadões ao trânsito de veículos está sendo positiva, porque dá acesso a lojas e escritórios", disse o secretário.
Cultura - Outro projeto que faz parte do plano de revitalização da região do vale do Anhangabaú é o da Praça das Artes, que pretende desapropriar imóveis que atualmente abrigam de pequenos comércios a cinemas pornôs na quadra que compreende a rua Formosa, a lateral da praça Ramos de Azevedo, rua Conselheiro Crispiniano e avenida São João.
Ao todo, cinco prédios estão em fase de desapropriação para dar lugar a um complexo de quatro prédios que serão conectados por uma praça. Os novos espaços serão utilizados para ensaios da Orquestra Sinfônica, Coral Lírico, Coral Paulistano, Balé da Cidade, Escola de Bailado e de artistas que se apresentam no Teatro Municipal.
O atual Conservatório Dramático e Musical será transformado em uma Escola Municipal de Música. Segundo o arquiteto da secretaria municipal de Cultura, Marcos Cartum, o projeto executivo ficará pronto neste semestre e as obras começam até o final do ano.
A estimativa de gastos é de R$ 40 milhões. "O projeto Praça das Artes está repercutindo e atraindo investimentos que estavam represados. Há o restauro de dois hotéis e antes ninguém queria fazer nada lá. É um sinal positivo de requalificação que começa a acontecer no Centro", afirmou o arquiteto da Prefeitura.
Fonte: Diário do Comercio (São Paulo), 29 de maio de 2007