Professor titular do laboratório de Psicofísica e Percepção da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, o psicólogo José Aparecido da Silva afirma que 98% dos acidentes são provocados por fatores humanos e 72% por falhas de atenção. Silva coloca a distração como a quarta causa mais frequente de acidentes. Segundo ele, o uso de celular, para falar ou mandar torpedo, é a principal fonte de problemas.
A Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) informou que o uso de celular é a quarta maior causa de multas: 475 mil em 2009 contra 373 mil em 2008 (aumento de 27%).
O professor Silva conta que na semana passada quase bateu o carro em um poste por causa de um espirro ao volante. "Os olhos se fecham quando a gente espirra. Nesses poucos segundos, fiz um zigue-zague na pista central. Estava a quase 30 km por hora. A pessoa que estava ao meu lado gritou", diz o professor.
Ele explica que dirigir demanda até 100% da atenção do motorista e a atividade não pode ficar em segundo plano. Além de receber informação visual ininterruptamente, o motorista depende do sistema auditivo, do sistema vestibular (sensação de equilíbrio) e do cinestésico (percepção). Sempre que um fator interfere nestes sistemas, a segurança está em risco.
"Os fatores que distraem a atenção do motorista são estímulos competitivos, como buzina, barulho, celular, conversação interna, televisão, uso do GPS e qualquer outro que exija movimentos oculares", afirmou.
Segundo Silva, desatenção por tempo igual ou superior a dois segundos aumenta para quase 100% a chance de acidentes. "Se o motorista estiver usando o torpedo é ainda pior. Depois de dois segundos ele já se desviou da pista principal." Foi o que aconteceu com Thiago Moura, o motorista do caminhão que escapou do Rodoanel. Ele conta que tentou voltar à pista, mas não deu mais.
Silva diz que ao conversar com o passageiro do lado, por exemplo, o motorista corre algum risco, mas menor do que falar ao celular, comer ou ouvir rádio. "O passageiro ao lado acompanha o trânsito e interrompe a fala quando percebe algum risco, avisa ou modula de acordo com o ritmo de trânsito", diz ele.
Já ouvir rádio e mexer nele tem efeito menos agressivo do que falar ao celular. "O rádio demanda no máximo um movimento motor ou cinestésico. No celular, mesmo no viva-voz, e no torpedo, exige-se carga mental igual à de operações cognitivas elementares. É como contar número primos de trás para frente", afirma.
Fonte: portal G1, 20 de junho de 2010