Parking News

Sexta-feira é dia de escapar do trabalho e ir direto se divertir depois da semana inteira de cansaço, de começar a viagem do final de semana, do happy hour com os amigos, de correr para a sessão de cinema. Para tanto, ninguém quer ser impedido pelo rodízio de sair com seu carro da garagem, mais do que em qualquer outro dia, analisa reportagem da Folha de S. Paulo. Resultado: rejeitados pelos motoristas na hora do emplacamento, os finais de placa 9 e 0 (que não podem circular às sextas) são hoje minoria na frota. A soma deles é 6% inferior à média e 10% menor que a dos veículos que terminam em 5 e 6 (alvo da restrição às quartas).
Ao mesmo tempo, é na véspera do final de semana que os congestionamentos são recordes em São Paulo. Ou seja, justamente quando a lentidão é mais crítica, menos carros tendem a se submeter ao rodízio. A Folha obteve a distribuição dos finais de placa dos 6 milhões de veículos da frota paulistana até março passado. As que acabam em 5 e 6 lideram e somam 132 mil mais do que as com finais 9 e 0. A diferença supera a frota inteira de Diadema (ABC) ou mais de metade da de Osasco (Grande SP). Nem todos esses veículos estão sujeitos à restrição veicular (entre os isentos há táxis, ônibus, motos), muitos podem não circular no centro expandido e há automóveis de fora que também circulam na Capital. Feitas as ressalvas, os dados são um indicativo de como os motoristas condicionam a obediência ao rodízio às suas conveniências - contribuindo para limitar os efeitos da restrição.
"Os proprietários de veículos novos recusam os finais 1 e 2 e 9 e 0 por entrarem no rodízio de segunda e de sexta", diz nota do Detran, acrescentando que sexta é um dia em que muitos viajam no horário de rodízio ou saem mais cedo do trabalho. Os finais 1 e 2, impedidos de circular no rodízio às segundas, são a segunda menor frota - mas a condição não é ruim por ser um dia de trânsito mais tranqüilo. A principal explicação para a piora do trânsito às sextas são fatores comportamentais, como a saída para viajar. Mas, para alguns técnicos, a possibilidade de haver menos veículos na restrição pode ter impacto. "O efeito do volume de carros no trânsito é exponencial. Num sistema próximo da saturação, qualquer pequena alteração tem efeito significativo", diz Luís Antonio Seraphim, consultor em engenharia de tráfego e ex-assessor da CET.
O engenheiro Horácio Augusto Figueira considera que a diferença não é tão representativa diante de outros aspectos, como a evolução da frota - a Capital ganha mil novos veículos por dia. Mas admite a tendência de agravamento do desequilíbrio entre os finais de placa, já que metade dos 6 milhões de veículos foi fabricada até 1996, quando não existia a restrição. "Se hoje eles estão nesse patamar (de 18,8% da frota), amanhã devem cair para 15%", afirma Figueira.
Os motoristas que se mobilizam e tentam escolher seus finais de placa para não serem barrados pelo rodízio na emenda do final de semana, às segundas e às sextas, levaram a administração do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo a tomar uma decisão que afeta aqueles que imaginam contar somente com a sorte na seleção dos números. O departamento diz que a distribuição de placas é aleatória, mas a orientação é para que sejam oferecidas, prioritariamente, placas com finais 1, 2, 9 e 0, uma vez que são as menos requisitadas pelos proprietários de veículos. Ou seja, no que depender do órgão de trânsito, a tendência hoje é que quem comprar um carro novo receba uma placa sujeita ao rodízio às segundas ou às sextas, exceto para quem manifestar sua preferência. Porém, mesmo quem quer escolher a placa não tem garantia de que será bem-sucedido.
O próprio Detran, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que não existe normatização para tal procedimento, mas que, havendo disponibilidade, a solicitação é atendida. Nas concessionárias de veículos espalhadas pela Capital paulista - e que costumam fazer as transações por meio de despachantes -, os vendedores geralmente oferecem a possibilidade de escolha do final da placa a seus clientes. Mas quem tenta sozinho pode enfrentar mais dificuldades.
A reportagem Folha esteve, sem se identificar, no setor de classificação de placas do Detran. A orientação recebida foi para comprar um formulário na banca de jornal que fica ao lado do prédio, preenchê-lo, entregá-lo e aguardar a manifestação do órgão. Mas a funcionária do órgão fez questão de ressaltar: não é certeza de que será atendido. O formulário, na realidade, é somente uma carta dirigida ao diretor do Detran informando marca, ano, cor e chassi do veículo zero-quilômetro recém-adquirido, nome e RG do proprietário, além de cinco opções de placa de preferência. Mas quem quiser pode fazer seu requerimento por conta própria. O Detran diz que a única taxa a ser paga no emplacamento é a de R$ 57,29 - recolhida à Secretaria da Fazenda do Estado. Ou seja, a escolha da placa não requer pagamento de nenhum valor adicional - embora haja despachantes que cobrem para oferecer esse serviço.
O departamento de trânsito afirma que, na distribuição das placas do País inteiro, São Paulo tem a seqüência que vai de BFA a GKI, com exceção daquelas que são "consideradas ofensivas", como FDP e BOI.
Congestionamentos às sextas-feiras são 55% maiores em média
A soma dos congestionamentos entre as 7h e as 20h das sextas-feiras fica 55% acima da média do restante dos dias da semana, conforme levantamento feito pela Folha durante 20 semanas, entre os meses de julho e novembro deste ano. Os números confirmam a tendência de agravamento da lentidão do trânsito às vésperas do final de semana.
A sexta-feira soma índices de engarrafamento 93% superiores aos da segunda, 61% aos da terça e 56% aos de quarta. Ou seja, a fluidez piora progressivamente, do primeiro ao último dia de cada semana.
O especialista em trânsito Flamínio Fichmann rejeita a idéia de proibir os motoristas de escolher a placa no Detran, conforme defendem alguns técnicos, como forma de organização do rodízio. Mas Fichmann sugere uma proposta alternativa. "O motorista deve ter a liberdade de escolher a placa. A forma mais democrática é alternar os dias da restrição. Num ano, os finais 9 e 0 ficam proibidos na sexta-feira. No outro ano, na segunda", defende, embora considere "razoável" a distribuição atual dos finais de placa. Alguns especialistas consideram que a situação atual reforça a necessidade de começar a organização do trânsito já na concessionária, na hora de definir a placa do automóvel.
A CET de São Paulo considera equilibrada a distribuição existente hoje entre os finais de placa do rodízio. Ela avalia que, em média, 20% dos veículos deixam de circular nos horários de pico por conta do rodízio, de uma frota circulante próxima de 3,5 milhões de veículos -, já que nem todos saem da garagem e ficam na cidade diariamente.
Segundo a CET, os índices de obediência ao rodízio vêm se mantendo estáveis ao longo dos últimos sete anos, sendo de 86% no período da manhã e de 80% à tarde, em média. Sobre os engarrafamentos, a CET informou que "historicamente" a sexta-feira é quando há maiores índices de lentidão. A explicação para a piora do trânsito às sextas é o aumento no número de deslocamentos e viagens especialmente no período do pico da tarde. O recorde histórico de lentidão registrado pela companhia foi numa sexta-feira: 266 km no dia 9 de maio deste ano.
Segundo a Folha, a mudança nas regras do rodízio de veículos, para torná-lo mais rígido, é a medida que mais tem a aceitação da cúpula do transporte na gestão Gilberto Kassab, dentre as principais opções sugeridas por especialistas de restrição mais radical ao uso do automóvel.
Fonte: Folha de S. Paulo, 23 de novembro de 2008

Categoria: Geral


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