A retração na venda de veículos novos e o fraco desempenho da atividade econômica no Brasil não tiram o sono das empresas que operam estacionamentos no país, setor que movimenta R$ 5 bilhões por ano. Depois de registrar expansão do faturamento entre 20% e 40% em 2014, executivos de duas das maiores empresas dessa área dizem que o mesmo ritmo deve ser mantido em 2015. "A indústria automobilística vendeu menos, mas ainda assim colocou mais carros nas cidades do que o número de novas vagas de estacionamento", diz André Iasi, presidente da Estapar, líder do mercado nacional, com um portfólio de 300 mil vagas.
A empresa é controlada pelo banco BTG Pactual. Os emplacamentos de novos veículos caíram 7,1% em 2014, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave). Para este ano, a projeção é de uma nova retração, de 3%.
Mesmo assim, isso representa 3,5 milhões de novos carros, elevando a frota nacional a 45 milhões de unidades. Como a multiplicação de carros supera a abertura de novas vagas nas principais capitais, as empresas que operam estacionamentos seguem confortáveis para reajustar tarifas acima da pressão de custos de aluguel de terreno e de mão de obra (que respondem por até 80% do custo de uma garagem). A avaliação é do presidente da associação nacional das empresas de estacionamento (Abrapark), André Piccoli.
"Os projetos vão continuar", disse o executivo que representa um setor com cerca de 10 mil estacionamentos. Entre 2011 e 2014, o preço médio cobrado nos estacionamentos subiu 54%. A inflação oficial (IPCA, medida pelo IBGE) subiu 27% no mesmo período.
"Os custos geraram pressão especialmente por causa da valorização dos imóveis e da mão de obra. Mas a frota continua crescendo", disse Picolli. Em 2014, o faturamento da Estapar cresceu 30%, batendo no patamar de R$ 1 bilhão.
A companhia fechou o ano passado com 300 mil vagas, ante 240 mil em 2013. E o plano é crescer mais 25% ao longo de 2015 - em vagas e faturamento. Para isso, o presidente da companhia diz que vai elevar em 30% os investimentos, para R$ 200 milhões.
"Nosso foco será em grandes contratos, como aeroportos, garagens subterrâneas e prédios comerciais", disse Iasi. "São negócios que demandam mais capital em obras, mas geram maiores margens porque são contratos de longo prazo". A Estapar já está presente nos aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (Campinas-SP), Brasília, Natal (RN), Recife (PE), Vitoria (ES), Salvador (BA), João Pessoa (PB). Há duas semanas, assinou contrato em que renovou a concessão no aeroporto Santos Dumont (RJ).
"Nosso funding [fonte de recursos para investir] é misto. Tem emissão de debêntures ou capital de acionistas, mas também pontualmente fazemos project finance [projetos financeiros] específicos", disse o presidente Iasi. O executivo observa que ainda há espaço para buscar crescimento por meio de aquisição, mas essa via é secundária.
"Não faz sentido para o tamanho da empresa agora operações menores", afirmou. Já a Moving Vinci Park, grupo formado depois que a brasileira Moving vendeu 50% do capital para a francesa Vinci - que faturou 38 bilhões em 2014 no mundo - cresceu no Brasil 49% em oferta de vagas e faturamento em 2014 ante 2013, apostando na busca de contratos com empreendimentos comerciais.
"Vamos manter o ritmo de expansão em 2015, por meio de mais contratosem São Paulo, e também maior presença nacional", disse o diretor internacional de desenvolvimento da Vinci Park, Paul Valencia, citando novas operações abertas em Manaus (AM), Natal (RN), Boa Vista (RR) Parauapebas (PA) - sempre em unidades de shopping centers, escolas, clubes ou empresas. Ano passado, a Moving Vinci Park investiu R$ 100 milhões para elevar de 100 para 140 o número de estacionamento administrados pela empresa no país até dezembro, que somam 45 mil vagas.
Com essa ampliação, a rede ampliou o faturamento de R$ 65 milhões para R$ 100 milhões. E quer se aproximar dos R$ 150 milhões ao fim de 2015.
Paul Valencia diz que a meta é encostar na Estapar até o fim de 2016. Para isso, a empresa diz que investe em tecnologia para obter escala nos estacionamentos e, assim, melhorar a margem operacional, na casa de 10% - metade da praticada na França, por exemplo.
Fonte: Valor Econômico (SP), 16 de janeiro de 2015