Por Jorge Hori*
As inovações são estimuladas pelos desafios empresariais. Quando se verifica uma demanda em que a oferta, nos paradigmas tradicionais, não é capaz de atender, algum empreendedor cria ou copia uma solução para atender com uma nova forma ou um novo produto.
Assim ocorreu com a oferta de vagas para estacionamento de automóveis, originalmente superficiais, seja em área pública ou privada. As primeiras alternativas de ampliação foram de gerar vagas subterrâneas, acessadas por rampas.
Na cidade de São Paulo, como ocorreu em outras cidades mundiais, o acréscimo de custos nas construções subterrâneas levou à busca de construção de vagas, subindo pelo espaço em edifícios-garagens.
Edifícios com poucos andares ainda poderiam ter os acessos por rampa, em autosserviço, com elevadores apenas para as pessoas.
Já em edifícios mais altos, em função da sucessão de andares, as rampas não eram adequadas e a solução tecnológica foi o elevador para os carros.
Originalmente, dentro da concepção de um elevador para levar o carro a um piso superior e a sua manobra humana para colocar na vaga. Conforme essa concepção, vários edifícios-garagens foram construídos no centro de São Paulo, para atender à demanda.
Esse processo foi interrompido por dois motivos principais, do lado da demanda:
- a redução continuada da demanda pela transferência de atividades econômicas de maior renda para outros bairros, inicialmente para a Avenida Paulista, depois para a Av. Faria Lima e sucessivamente a outras áreas, dentro de um processo de descentralização dos polos de serviços;
- a substituição do uso do carro pelo transporte metroviário, pela ampliação das conexões das linhas na área central.
Do lado da oferta, a construção de vagas dentro dos novos edifícios, sejam subterrâneas, superficiais ou áreas, ofereceu uma condição mais favorável ao usuário. Ele sempre quer estacionar o mais próximo do seu destino.
Preferirá estacionar no próprio edifício para onde se destina, seja para trabalho, para visita, para consulta ou qualquer outro motivo. Deixando num edifício-garagem sempre terá um percurso adicional a pé.
Mas a concorrência principal às garagens edificadas teria sido dos estacionamentos informais que passaram a ocupar lojas e outros espaços superficiais desocupados, com as transferências das atividades econômicas.
Nos novos polos, a solução das vagas nos próprios novos edifícios tornou dispensável a solução das garagens edificadas, assim como das garagens subterrâneas.
Não havendo o desafio de verticalização para ampliar o número de vagas dentro de um mesmo espaço superficial, São Paulo não desenvolveu inovações em garagens verticalizadas. Ao contrário do que ocorreu em outros grandes centros, com a introdução da automação.
A Prefeitura de São Paulo, através do seu Plano Diretor, estabeleceu uma política de redução de vagas incorporadas aos edifícios e de estímulo à construção de edifícios-garagens.
A viabilidade dos novos edifícios-garagens dependerá de dois fatores:
- existência de demanda, para garantir um nível de ocupação mínima, para a viabilidade econômica;
- elevado grau de tecnologia, para a sua operação automatizada.
O desafio de atender a demandas reprimidas poderá levar os empresários a buscarem as modernas soluções tecnológicas.
A lei não será suficiente para garantir o sucesso da política: provocar artificialmente a criação de uma demanda reprimida nunca deu certo.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.