Por Jorge Hori* - O Brasil está melhor que há quatro anos, como mostram comparações apresentadas pelo Governo. E os brasileiros?
Há brasileiros que estão melhores. Outros estão piores. Os melhores estão comprando mais. Onde estão os clientes dos estacionamentos?
Os dados são contraditórios. Há uma melhoria no varejo, há uma melhoria na construção civil e a venda de carros novos aumentou.
A melhoria do mercado de automóveis era sempre um indicador de melhoria da demanda por estacionamentos. Não é o que ocorre atualmente. As explicações parecem ser uma só. As vendas adicionais são predominantemente para os motoristas de aplicativos, seja para frotistas, locadoras de automóveis ou vendas diretas das montadoras com recompra.
Essa frota adicional servirá para maior movimentação por carro, mas sem uso de estacionamentos pagos. Os aplicativos de chamada, do tipo Uber, são produtos incomuns em que a oferta cria a demanda. Quanto maior a disponibilidade da oferta, maior probabilidade de pronto atendimento para o usuário, ampliando a demanda.
Num mercado aberto cada uma das empresas busca oferecer melhores serviços e mais vantagens aos usuários, resultando no aumento da oferta.
Ao longo do tempo, o excesso de oferta levará algumas empresas a "quebrar", com um excesso de investimentos sem retorno em tempo adequado. A Uber, a maior empresa mundial do setor, ainda não deu lucro.
Em São Paulo, o ponto de ruptura ainda parece distante e enquanto isso a principal vítima é o estacionamento pago.
Com a redução estrutural da demanda, em cidades como São Paulo, há um excesso de oferta de vagas corporativas, isto é, vagas para quem trabalha em escritórios.
Por uma distorção promovida pela legislação urbanística, onerando a construção de imobiliária verticalizada e isentando os espaços construídos, destinados a garagens, foi gerado um ativo imobiliário sobre o qual os proprietários querem obter o máximo de rentabilidade.
Mesmo com a redução da demanda, seja pelo desvio provocado pelos aplicativos, como pela crise econômica, os proprietários têm resistido a reduzir os aluguéis, o que implica manter os preços dos estacionamentos, que se tornaram não competitivos diante dos aplicativos.
O mercado está se ajustando lentamente e não se fará de forma linear e contínua, mas por degraus.
As novas construções verticais, sejam residenciais como corporativas, estão oferecendo menos vagas. O crescimento da oferta será menor que o da frota e da demanda.
Em algumas localidades este desequilíbrio resultará no aumento de preços dos estacionamentos, sem afetar substancialmente a demanda. Em outros, desviará para os aplicativos.
Dentro da dinâmica de mercado há um elemento ainda pouco considerado: o estacionamento dos carros dos operadores dos aplicativos.
Durante o período de operação os motoristas estarão nas ruas, circulando ou esperando passageiros em vagas gratuitas em vias públicas. Mas nos horários fora de operação, principalmente à noite, eles precisam guardar o seu carro, ainda mais se locado. Não podem deixar em via pública, pois se furtado correm o risco de não terem a cobertura do seguro.
Em que espaço privado eles guardarão os carros?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.