A solução para a mobilidade urbana nas grandes cidades não está na substituição do transporte individual pelo coletivo. Está na associação entre os dois.
No dia a dia, o transporte individual deve ser usado como alimentação do transporte coletivo. As pessoas podem (ou devem) ir de carro até a estação do sistema de transporte coletivo, seja o metrô, o trem ou um ônibus no padrão BRT, e seguir por este, descendo em uma estação próxima ao seu destino, com acesso a pé.
Para que isso funcione é preciso que os locais de emprego estejam próximos às estações do transporte coletivo de grande ou média capacidade.
O modelo é de alta concentração dos edifícios de escritórios nos arredores das estações, o que envolve a verticalização, mas isso não elimina a necessidade de estacionamentos, como alguns imaginam, com base em experiências internacionais.
As vagas dentro dos edifícios de escritórios ainda serão necessárias durante muito tempo, para atender aos empresários, aos dirigentes empresariais que decidem sobre a localização dos escritórios da empresa. Eles ainda são resistentes ao uso do transporte coletivo, inclusive do metrô, preferindo chegar de carro, mesmo tendo de enfrentar congestionamento no seu percurso residência-trabalho. Se não tiverem a vaga para o seu carro, buscarão outro local, onde haja disponibilidade ou oferta de vagas.
Ao longo do tempo, ao menos em médio prazo, acima de dez anos, poderá haver uma redução de demanda pelas vagas nos locais de destino, desde que haja o aumento de vagas junto às estações do transporte coletivo de origem.
Se o motorista não tiver facilidade, em todas as dimensões, para deixar o seu carro e tomar o metrô ou outro veículo seguro e confortável, irá de carro até o destino e lá precisará de uma vaga para estacioná-lo.
Para melhorar a mobilidade urbana não basta estimular a concentração de escritórios, com poucas vagas, junto às estações do metrô, do trem ou do BRT. Não dará certo se não houver paralelamente uma política para viabilizar estacionamentos "park and ride" nas origens.
A principal estratégia para superar os congestionamentos é evitar que os motoristas dos carros busquem as vias estruturais, onde ocorrem os congestionamentos.
Nessas vias existe a alternativa do transporte coletivo. É nessas vias, e não no todo, que é importante promover a transferência do meio individual para o coletivo. Isso vale também para as ciclofaixas, considerando que esse é também um transporte individual. Só deve ser adotado quando não concorre com o corredor de ônibus.
O modelo básico para a organização da mobilidade urbana deve ser o multimodal, com a articulação do transporte individual com o coletivo e os estacionamentos como a conexão para a transferência dos modos.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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