No começo deste mês, aconteceu dentro da Campus Party um hackathon, ou seja, uma maratona de programação de 24 horas para o desenvolvimento de aplicativos. No maior evento de tecnologia do país, essa seria apenas mais uma atividade, se não fosse por quem organizou o desafio: a Ford. A presença da montadora em um espaço dedicado a temas como games, redes sociais e apps indica que há uma nova relação entre a indústria automobilística e o mundo da tecnologia.
Claro, desde o surgimento dos primeiros carros, as montadoras também desenvolvem sistemas. Agora, porém, há um estreitamento de relações entre empresas que trabalham próximas do dia a dia das pessoas, como o Google.
No começo do ano, as fabricantes de carro tiveram protagonismo na CES, uma das mais importantes feiras de eletrônicos do mundo, que aconteceem Las Vegas(EUA). Dez delas, incluindo Audi, Mercedes-Benz e Toyota, estiveram presentes no evento, um número recorde.
A importância das montadoras na CES ficou clara com a presença da BMW na palestra de abertura da feira, que até 2012 era feita pela Microsoft. A empresa alemã participou da apresentação da Samsung sobre um mundo todo conectado.
"Acreditamos que os automóveis estão se transformando em plataformas de tecnologia móvel. E, nesse contexto, os veículos precisam oferecer com segurança o mesmo nível de conectividade que o usuário encontra em sua casa ou no escritório", afirma Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford.
CONEXÃO
A consultoria Gartner estima que 250 milhões de veículos conectados à internet estarão rodando nas ruas e estradas do mundo até 2020.
A firma prevê que a proporção de carros com capacidade para se ligar à rede crescerá significativamente e terá papel importante no mercado de "internet das coisas".
Dominique Bonte, analista da consultoria ABI Research, afirma que a relação é benéfica. "Para as montadoras, é uma forma de levar mais tecnologia mais rapidamente para as pessoas. Para o outro lado, é uma forma de ter relações diretas com as fabricantes de carros sem a necessidade de intermediários."
O interesse na cooperação também é forte entre as empresas de tecnologia. Ela pode ser a chance para ganhar novas oportunidades, como demonstra a fabricante de chips Nvidia. Depois de perder a disputa para a Qualcomm no mundo dos smartphones, a companhia está apostando num novo processador para painéis de carros, o Tegra X1.
Fonte: Folha de S. Paulo, 17 de fevereiro de 2015