Noite de sábado, em meio ao burburinho agitado dos bares e restaurantes da Avenida Delfim Moreira, no Leblon, flanelinhas tomam conta das vagas de estacionamento sem qualquer tipo de repressão. Quem insiste em parar o carro sofre extorsão. A cena, velha conhecida dos cariocas, também se repete em outros bairros movimentados do Rio, onde a desordem impera. Há cinco meses, a prefeitura prometeu reprimir esse tipo de irregularidade e fazer licitação para contratar uma empresa que controlaria as vagas nas ruas, mas até agora a proposta não saiu do papel.
“Flanelinha é um problema muito sério. Na Dias Ferreira, principalmente à noite, são eles que mandam ali. É uma bagunça. Não tem controle”, critica a advogada Evelyn Rosenzweig, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Leblon.
Nos últimos anos, foram várias tentativas, sem sucesso, de a prefeitura organizar o estacionamento público. Em junho de 2014, o município chegou a lançar um edital para contratar uma empresa que administraria um novo modelo de Rio Rotativo, mas a concorrência foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Município. Feitos os ajustes, as cláusulas da licitação foram aprovadas em junho de 2015.
A prefeitura, no entanto, levou nove meses para lançar a concorrência. Quando parecia que o processo teria continuidade, o município revogou o edital e transferiu o assunto da Secretaria Especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas para a Casa Civil, onde permanece até hoje. Procurado, o órgão informou apenas que "a prefeitura está analisando qual é o melhor modelo para os estacionamentos da cidade, e, por enquanto, ainda não decidiu de que forma será feita a licitação".
Neste domingo, antes da partida entre Flamengo e Fluminense, no Maracanã, flanelinhas aproveitaram o movimento de torcedores e a falta de fiscalização para tomar conta da Avenida Radial Oeste, na altura da Uerj. Guardadores ilegais corriam pela pista, no sentido Centro, prejudicando o trânsito. Em Copacabana, a falta de ação do poder público tem gerado reclamações de moradores.
“Guarda Municipal virou uma espécie em extinção. Encontrar um deles é a coisa mais difícil do mundo. Por isso, ambulantes e flanelinhas tomaram conta das ruas”, critica Horácio Magalhães, presidente da Sociedade de Amigos de Copacabana.
Procurada, a Secretaria de Ordem Pública (Seop) disse que a Guarda Municipal segue coibindo a atuação de flanelinhas, e que esse tipo de cobrança configura crime de extorsão, desde que haja flagrante, e o autor e a vítima sejam conduzidos para registro policial. O órgão destacou ainda que a vítima precisa ir à delegacia junto com o policial ou o guarda municipal, o que muitas vezes não acontece, devido à recusa em prestar queixa. A secretaria não soube informar quantos flanelinhas já foram detidos pelos agentes da Seop.
Fonte: O Globo, 19/06/2017